1 de novembro de 2024 2:49 por Da Redação
A jornalista Lenilda Luna (UP), que foi candidata a prefeita de Maceió no último pleito, manifestou solidariedade à família de Maria Tereza da Paz, conhecida como Dona Pureza, moradora do bairro Flexal de Cima, em Maceió, que tirou a própria vida nessa quinta-feira (31). Em um vídeo publicado em suas redes sociais, Lenilda expressou, em nome da Unidade Popular (UP), “tristeza e indignação” diante da tragédia.
Lenilda destacou a mensagem deixada por Dona Pureza, que, em uma carta, atribuiu o ato extremo à “desesperança” que sentia. A jornalista enfatizou a necessidade de responsabilização da mineradora Braskem pelo impacto causado nas comunidades afetadas, especialmente no bairro onde Dona Pureza residia. “A Braskem é responsável por essa tragédia em nossa cidade. Precisamos cobrar tudo, tudo o que foi tirado dessas comunidades”, finalizou.
Veja:
“Não foi suicídio”
O jornalista Alexandre Sampaio, presidente da Associação dos Empreendedores e Vítimas da Mineração em Maceió. afirma que a morte de Dona Pureza não foi suicídio, mas, sim, “a forma mais cruel e desumana de assassinato” praticada pela Braskem, “a que impõe tal sofrimento à vítima que ela escolhe a morte para se livrar da não-vida a que foi condenada”.
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Sampaio lembra que o inquérito da Polícia Federal que apura o crime da mineradora foi concluído junto com a partida de Dona Pureza, 5 longos anos após instaurado. “Vamos aguardar o que fará o Ministério Público Federal e a Justiça Federal em Alagoas. Por enquanto Maria Tereza da Paz deixa a saudade, um clamor por justiça e denuncia com a própria vida o cruel apagamento da sua existência, da existência das dezenas de milhares de vítimas, e expõe as vísceras desse sistema apodrecido que gera morte e dor. Alguns dos senhores e senhoras que integram este sistema ainda conseguem dormir?, indagou.
Leia a carta na íntegra:
NÃO FOI SUICÍDIO! FOI A FORMA MAIS CRUEL E DESUMANA DE ASSASSINATO.
A morte de Dona Pureza não foi só suicídio! Foi a expressão máxima e simbólica de uma dor coletiva que se materializou em mais uma vítima da Braskem. Foi a triste tradução, no corpo de uma pessoa com nome e sobrenome – Maria Tereza da Paz – com um gatinho de estimação que também morreu, com família e amigos enlutados, de uma série de violações aos direitos humanos mais fundamentais das comunidades afetadas pelo crime de uma mineradora que tem como sócias a Petrobrás e a Novonor, antiga Oderbrecht. Que mancham de sangue, pela mais absoluta omissão, Lula e Bolsonaro, Renan Calheiros – pai e filho – e Arthur Lira, Paulo Dantas e JHC, que põe em xeque a credibilidade mais elementar do Estado Brasileiro e do seu Sistema de Justiça.
Em última instância, o Estado Democrático de Direito não funciona em Maceió.
“Cada vez que eu vejo um benefício da Braskem (Maria Tereza não se sentia em Paz com as obras do projeto de revitalização dos Flexais, imposto pela Braskem com o apoio da DPU – Defensoria Pública da União, MPE – Ministério Público do Estado de Alagoas, MPF – Ministério Público Federal e Prefeitura de Maceió) a minha desilusão aumenta, estou cada vez mais depressiva em saber que vou ficar nesse isolamento pra sempre”, escreveu numa folha de papel em letras vermelhas, a agora ex-moradora do Flexal.
Não foi suicídio, foi a forma mais dissimulada e cruel de assassinato: a que impõe tal sofrimento à vítima que ela escolhe a morte para se livrar da não-vida a que foi condenada. A Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB – Ordem dos Advogados do Brasil – após visita a Maceió, concluiu que havia gravíssimas violações aos direitos humanos nas comunidades afetadas pela Braskem, sobretudo nos Flexais. Qual o resultado prático disso? Nenhuma autoridade direta ou indiretamente envolvida com o assunto fez qualquer ação concreta e efetiva para reverter as denúncias do relatório. Na ausência completa do poder público, Dona Pureza transformou seu gesto na mais profunda denúncia que um ser humano pode fazer.
Um crime, como todo bom investigador pode confirmar, não se comete sozinho. Ainda mais um mega crime que expulsou 60 mil moradores, mais de 6 mil empreendedores, 7 mil estudantes, desempregou 15 mil trabalhadores e mantém ilhadas e desamparadas milhares de pessoas, não se perpetra apenas por uma empresa. É preciso criar uma organização criminosa com tentáculos em todas as esferas do poder e do conhecimento com três objetivos principais:
1) Esconder o crime original (a exploração ilegal e irresponsável de sal-gema), mascarando-o como “evento geológico”, falsificando licenças, alvarás e relatórios;
2) Criar um falso arcabouço jurídico para legalizar, por meio de acordos espúrios, a barbárie provocada pelo primeiro crime e blindar o autor de processos criminais;
3) Apagar os rastros da destruição, por meio de empresas e técnicos contratados para “conter” os danos, reduzindo-os a valores ínfimos, ou seja, não pesquisar e documentar as consequências ambientais, sociais, econômicas, culturais e toda dimensão humana nos campos da saúde física e emocional das vítimas com a sórdida motivação de economizar dezenas de bilhões de reais em indenizações e ainda obter lucro com seu crime.
O inquérito da Polícia Federal foi concluído junto com a partida de Dona Pureza, 5 longos anos após instaurado. Vamos aguardar o que fará o Ministério Público Federal e a Justiça Federal em Alagoas. Por enquanto Maria Tereza da Paz deixa a saudade, um clamor por justiça e denuncia com a própria vida o cruel apagamento da sua existência, da existência das dezenas de milhares de vítimas, e expõe as vísceras desse sistema apodrecido que gera morte e dor. Alguns dos senhores e senhoras que integram este sistema ainda conseguem dormir?
Alexandre Sampaio
Empresário, jornalista e presidente da Associação dos Empreendedores e Vítimas da Mineração em Maceió.