Nesta semana o governo da metrópole Tóquio, capital do Japão, anunciou que irá fazer testes com a semana de quatro dias de trabalho como forma de enfrentar um cenário de crise demográfica. A medida será implementada como teste a partir de abril do próximo ano para os funcionários públicos.
Com a iniciativa, a governadora Yuriko Koike pretende criar um ambiente positivo na capital com a intenção de reverter o atual cenário de queda da taxa de natalidade somado ao envelhecimento da população. Neste ponto, a redução da jornada de trabalho sem decréscimo do salário começa a ser pensada para além dos resultados já conhecidos, demonstrando pioneirismo dos japoneses em testar o modelo com olhar para outros benefícios.
Nos locais onde já foi testada, a semana de quatro dias de trabalho apresentou desafios e inúmeros benefícios para os trabalhadores e, consequentemente, para as empresas. Enquanto as pessoas ganham em bem-estar e maior tempo livre para tarefas particulares, os negócios em que trabalham obtêm ganhos de produtividade e passam a ter uma rotina mais harmônica com menos faltas e trabalhadores mais empenhados – o que traz melhores retornos com a maior previsibilidade de resultados.
Mas os japoneses pretendem ir além dessas conclusões mais conhecidas e verificar se o modelo pode auxiliar em ações que alterem a estrutura da sociedade.
Isto porque o país concentra uma das maiores populações idosas do mundo. Dados do governo colocam que 1 em cada 10 pessoas do país tem mais de 80 anos, sendo que 36,25 milhões tem 65 anos ou mais, o que representa 29,3% da população de 124,3 milhões.
Esta situação representa um grande desafio, uma vez que o envelhecimento populacional já cria problemas quanto à mão-de-obra e no sistema previdenciário. A condição tem acentuado a cultura de trabalhar até a exaustão pelos japoneses e feito que desempenhem funções mesmo com idades avançadas.
Para completar o complexo desafio, o Japão enfrenta a diminuição da população pelo 15º ano consecutivo com as taxas de natalidade em baixa. Em 2023, o país registrou apenas 758,6 mil nascimentos, redução de 5,1% em comparação ao ano anterior e o recorde negativo desde que os dados são compilados. Este foi o 8º ano seguido de queda neste índice.
Para completar, a taxa de fertilidade (número de filhos que uma mulher terá ao longo de sua vida reprodutiva) está em queda: 1,2 no país e de 0,99 em Tóquio. Conforme a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o valor precisa ser de 2,1 para se ter uma população estável.
Semana de 4 dias de trabalho
O debate sobre redução de jornada é internacional. Iniciativas testaram e aprovaram o modelo no Brasil e em outros países. Por aqui, o debate tem ganhado os holofotes com o debate sobre o fim da escala 6×1. Mesmo que seja distante pensar na semana de quatro dias trabalhados (4×3) disseminada por todo o país, as discussões atuais podem fazer com que a sociedade mobilize o Congresso Nacional para reduzir, ao menos, a jornada atual de 44 horas regida pela CLT para 40 horas semanais – uma luta histórica do movimento sindical.
E por que não pensar em reduzir ainda mais? Como indica a governadora de Tóquio, a iniciativa visa não só os benefícios já conhecidos, mas também tem o potencial de empoderar as mulheres.
Na capital japonesa, de acordo com o FMI, as mulheres dedicam cinco vezes mais tempo ao trabalho doméstico familiar do que os homens. Já a iniciativa ‘4 Day Week’ indica que nos testes realizados com um dia a mais de descanso os homens aumentaram em 22% o tempo para cuidar dos filhos.
Pensando neste sentido, Yuriko Koike quer que a maternidade e cuidados domésticos não signifiquem que as mulheres deixem de lado suas carreiras. Portanto, com mais tempo livre fica mais fácil equilibrar as rotinas domésticas e dividir as tarefas de cuidados com os parceiros.
Assim, para completar as ações que pretende estimular a natalidade, o governo ainda criará licenças específicas para ampliar cuidados com os filhos, aumentará o número de vagas em creches e até pensa em medidas de subsídio e financiamento para congelamento de óvulos.
As ações se somam a outras políticas de incentivo já adotadas no país, como licenças parentais que podem chegar até 14 meses, subsídios para creches e até mesmo um bônus em dinheiro para cada bebê nascido.
Dessa maneira, a redução da jornada, junto a outras iniciativas, visa criar um ambiente que reduza desigualdades de gênero ao passo que amplia a natalidade entre os japoneses.
*Com informações Fortune, Reuters e agências internacionais