16 de dezembro de 2024 11:16 por Da Redação
Por Geraldo de Majella*
Os tempos em que vivemos são cada vez mais individualistas, uma era em que cada um cuida apenas de si. O consumo do supérfluo tornou-se glamoroso, e ostentar futilidades virou algo “instagramável”. No entanto, a produtora cultural e artista circense Peró Andrade jamais se rendeu a esse modo de viver.
A conheci no início dos anos 80 e, por mais de quatro décadas, Peró me impactou pelo seu modo de viver e por ser a pessoa com o mais elevado espírito de solidariedade que já conheci. A isso se somava seu desapego a bens materiais, ao dinheiro e à propriedade.
Como diz a canção do baiano: Não me amarra dinheiro não/Mas formosura/Dinheiro não/A pele escura…
Esses tipos humanos são cada vez mais raros. Peró era fraterna não apenas com os amigos, mas também com aqueles que não conhecia, sempre disposta a ajudar quando a situação exigia. A fraternidade foi o seu modo de viver, íntegro e digno.
É muito provável que seres humanos com esse sentimento de amar o mundo e abraçar as pessoas sejam poucos, raros entre nós. Peró foi, para mim, a última, pelo menos entre as tantas pessoas que conheci e convivi.
A delicadeza no tratamento e a capacidade de tolerar o adverso eram quase infinitas. Suas opiniões políticas ela compartilhava apenas com aqueles que pensavam de maneira semelhante, uma estratégia para evitar confrontos com amigos e amigas. Pelo WhatsApp, conversávamos, tirávamos dúvidas e ríamos muito.
Respeitável público, o grande circo da vida não vai parar, a lona continuará armada. Peró vive entre nós.
Aquele abraço, amiga!
*É historiador e jornalista