29 de janeiro de 2020 9:21 por Marcos Berillo
O poeta Sidney Wanderley (1958) nasceu em Viçosa (AL), estudou e viveu na cidade natal até os quinze anos. Aos dezesseis, anos tomou o rumo da capital e fez o antigo curso científico em Maceió, no Colégio Marista.
Em Viçosa, ainda adolescente, recebeu as primeiras influências poéticas literárias do seu padrinho Zé Aragão, um farmacêutico da cidade que, desde as primeiras décadas do século XX, se dedicava à poesia parnasiana e a outras artes.
O poeta declarou: “A literatura ganhou força em minha vida entre os 17 e 18 anos, quando cursava Medicina, curso de que não gostava. Comecei, então, a me dedicar à leitura de Fernando Pessôa, Carlos Drummond, João Cabral e Ferreira Gullar, entre outros”.
A poesia pode ser considerada o caminho ou o descaminho, a depender da perspectiva, para o irrequieto Sidney Wanderley. Houve várias tentativas para obter um diploma universitário e, claro, para se estabelecer como um profissional bem-sucedido. Esse intento não foi alcançado. Foi aprovado no vestibular de Medicina em 1976, mas abandonou o curso no quarto ano, por falta de vocação e, segundo afirma, por influência do professor José Geraldo Marques Wanderley, biólogo e também poeta.
Muda de curso e passa a estudar biologia. Também não conclui. Tenta, então, ganhar a vida como professor de biologia. O magistério, para o poeta, parecia ter sido o encontro definitivo; durante alguns anos, ministra aulas para os alunos do Marista, do Guido de Fontgalland e de vários cursinhos da capital.
Aprovado no concurso para funcionário do Banco do Brasil em 1981, o poeta Sidney Wanderley é lotado na agência de Viçosa. É quando acontece o reencontro do poeta com a cidade que o inspira e que ama.
Ensaio premiado
As mudanças foram acontecendo na vida intelectual do poeta viçosense, principalmente quando o ensaio que produziu, sobre a ideia de suicídio na obra de Drummond, foi o vencedor de um concurso literário na Academia Alagoana de Letras, em 1978.
Este ensaio chegou ao conhecimento do poeta mineiro, que além de aprovar a especulação literária de Sidney Wanderley, destacou sua argúcia por ter ressaltado aspectos de sua obra que antes não haviam sido examinados e somente foram percebidos pela lente crítica do alagoano.
Medicina, biologia e o magistério ficaram para trás. O trabalho como bancário para os amigos pareceu um caminho que o levaria à estabilidade, num emprego desejado por tantos. Tudo levava a crer que Viçosa ficou pequena e o trabalho como bancário não era suficiente.
O poeta assumiu a presidência do Comercial Futebol Clube no triênio 1982-1985. A condição de cartola é uma faceta pouco conhecida, porém, ressaltada como algo importante em sua biografia. É torcedor do Santos Futebol Clube, em São Paulo,e do Botafogo de Futebol e Regatas, no Rio de Janeiro.
Amizade com Drummond
A relação de amizade estabelecida através de cartas e por telefone entre Sidney e Carlos Drummond é uma marca muito forte na sua formação como poeta e como intelectual. Isso se deu num tempo não muito distante,em que não havia internet e o custo das ligações interurbanas era elevado.
Em 1991, data de publicação de “Poemas post-húmus”, trava amizade com o escritor paulista Raduan Nassar, que, entusiasmado com o livro de poeta viçosense, entra em contato com Sidney através de carta, o que gera uma aproximação que se transformou em influente amizade e dura até hoje. Sidney Wanderley faz parte, em Alagoas, da “Geração 80”, formada por poetas liderados por Marcos de Farias Costa, todos marcadamente antiacadêmicos.
Com o haicaísta Fernando Sérgio Lyra dirigiu a Coleção “Viventes das Alagoas”, integralmente dedicada à publicação e à divulgação da poesia caeté. Nela estão incluídos nomes como o sapateiro Antônio Aurélio de Moraes (o popular Tonho Lambe-Sola), Ronaldo de Andrade, Jorge Cooper, Jorge de Lima e Gonzaga Leão.
Obras publicadas:
• 1991 ‒ Poemas Post-húmus
• 1995 ‒ Nesta Calçada
• 1997 ‒ Quisera Ter a Beleza Que
• 1999 ‒ Na Pele do Lago
• 2000 ‒ Desde Sempre
• 2001 ‒ Três Vozes Nordestinas
• 2002 – Hai-cactos (em parceria com Fernando Sérgio Lyra)
• 2004 ‒ Entropia
• 2009 ‒ Chuva e não
• 2012 ‒Dias de Sim
• 2015 – Cidade
• 2017 – A Feira (em parceria com Juarez Cavalcanti)
• 2018 – Notas sobre Leituras
• 2019 ‒ 60
• 2020 – Graciliano em Viçosa