sábado 23 de novembro de 2024

Valéria Correia encerra gestão e deixa marca histórica na Ufal

11 de fevereiro de 2020 6:30 por Redação

Ela, que foi a primeira assistente social a assumir cargo de reitora no Brasil, apresenta números que comprovam legado para a instituição

Valéria Correia afirma ter transmitido cargo com sensação de dever cumprido – Divulgação

Primeira assistente social a assumir o cargo de reitora no Brasil, Valéria Correia deixou o comando da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Sai com a certeza de dever cumprido, ao contabilizar marcas históricas para a instituição em sua gestão.

Declaradamente de esquerda, a reitora nunca escondeu seu posicionamento político. Ao contrário. Durante o processo que elegeu Jair Bolsonaro presidente da República ela se colocou em defesa da liberdade democrática, tendo sido atacada pela direita em Alagoas.

No lugar dela, assume Josealdo Tonholo, eleito pela comunidade acadêmica, nomeado por Jair Bolsonaro no último dia 17 e empossado na terça-feira (28), na sede do MEC (Ministério da Educação), em Brasília.

Valéria apresenta números de sua gestão para mostrar que o trabalho teve resultados significativos para a Ufal.  Abriu e reformou restaurantes universitários, dando nome ao RU de Delmiro Gouveia, no Sertão de Alagoas, de Marielle Franco, em homenagem à vereadora executada em 2018 no Rio de Janeiro, cujos mandantes do crime até hoje não foram apresentados. Os restaurantes serviram mais de 1 milhão de refeições com preços populares em 2019 e fazem parte do processo de ampliação da assistência estudantil da universidade.

Para aquisição de alimentos, a reitora fechou contrato com produtores locais de assentamentos do MST e de outros movimentos que lutam por reforma agrária.

Iniciativas que levaram a Ufal a alcançar o topo da lista de redução da evasão estudantil do Ministério da Educação. Das 63 universidades federais do País, na Ufal é onde os estudantes menos desistem dos seus cursos. Segundo relatório do Fórum Nacional de Pró-reitores de Assuntos Estudantis e Comunitários (Fonaprace), 38% dos estudantes da instituição têm renda per capita familiar de meio salário mínimo, daí a importância da assistência estudantil.

A reitora Valéria Correia entregou 31 obras, entre elas, o Complexo Esportivo Universitário que é o maior do Nordeste com área de 48 mil metros quadrados.

*Com assessoria

Instituição entra em ranking das melhores universidades do mundo

O número foi recebido com festa. Não poderia ser diferente. Em 2019, a Ufal foi incluída no Ranking Mundial das Universidades (World University Rankings World University Rankings), divulgado pela Times Higher Education (THE), uma revista inglesa que publica notícias e artigos sobre a Educação Superior desde 1971, há 15 anos e lista as melhores universidades do mundo.

O ranking considera mais de 1,3 mil universidades de 92 países. A Ufal está posicionada no bloco 1001+. Do Brasil, as universidades mais bem posicionadas foram a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

A pesquisa tem como base número de estudantes de graduação e pós-graduação, quadro técnico e docente, considerando também indicadores gerais quanto a gênero, número de ingressos e de formados, pesquisa, áreas de atuação, dentre outros.

Com a mesma motivação foi recebido o resultado do QS World University Rankings, também do Reino Unido, que a classificou a Ufal, em 2018, entre as 170 melhores da América Latina e entre as 400 melhores do Brics (agrupamento de países de mercado emergente). Não só. No mesmo ano, a Ufal alcançou o conceito 4, numa escala de 1 a 5, no recredenciamento institucional realizado pela primeira vez na universidade.

*Com assessoria

Hospital Universitário terá UTI pediátrica em Alagoas

Hospital Universitário terá recursos para ampliar atendimentos – Assessoria

Os avanços também foram obtidos no Hospital Universitário (HU), importante unidade de saúde para a comunidade estudantil e a população, principalmente a mais carente, que recorre aos serviços da instituição.

Com o apoio da bancada federal de Alagoas, a reitora garantiu recursos para ampliar os serviços no HU, aumentando leitos na UTI, internações, cirurgias e exames. No hospital também foi inaugurado um ambulatório para a população trans com atendimentos de média e alta complexidade.

“A bancada alagoana foi uma grande parceira. As emendas parlamentares ajudaram a Ufal a superar algumas dificuldades nesses últimos anos de sucessivos cortes no orçamento”, destacou Valéria Correia.

Na contramão do desmonte do SUS, a reitora anunciou também que o HU terá uma UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) pediátrica. Será a primeira UTI pediátrica pública fora do Hospital Geral do Estado (HGE). Contará inicialmente com dez leitos e equipamentos de última geração.

Uma reforma está sendo feita no prédio do HU para receber as unidades que atenderão urgência e emergência. O projeto está orçado em R$ 3,1 milhões e foi fruto de idas a Brasília e de articulação política da reitora com a bancada federal.

Corte no orçamento e ameaça de fechamento da universidade marcaram 2019

2019 foi um ano difícil para as universidades públicas no Brasil, que sofreram sucessivos cortes no orçamento. Na Ufal a situação não foi diferente. Os gestores tiveram que “suar a camisa” para manter a instituição funcionando. O corte, segundo a gestão, foi de R$ 39 milhões do orçamento da instituição no mês de maio, cinco meses após Jair Bolsonaro assumir a presidência do Brasil.

Os Institutos Federais de Educação viveram a mesma situação, com o corte de verbas de custeio e de capital e juntamente com a Ufal enfrentaram ameaça até de fechamento.

O valor bloqueado da Ufal representou 30% do orçamento de custeio e 80,3% do orçamento de capital da universidade. Um abalo para quem conta recurso a recurso para se manter e tocar todas as atividades inerentes a uma instituição de ensino superior, pesquisas e manutenção das unidades espalhadas pelo Estado com o processo de interiorização iniciado lá atrás, no governo do ex-presidente Lula.

“A Universidade Federal de Alagoas tem 58 anos de existência. É uma instituição que forma gerações de alagoanos, um patrimônio. Estamos ainda atônitos com essa notícia e pensando no que vamos fazer”, afirmou Valéria Correia à época.

O corte atingiu também a assistência estudantil, que era de R$ 23 milhões, em 2019, perdeu 40%, despencando para R$ 14 milhões. “Destacamos que, em linhas gerais, o recurso do Plano Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes) está alocado em bolsas e auxílios, em torno de R$ 16 milhões, e o restante nos restaurantes universitários”, disse Valéria, ao informar que como saída urgente foram realocados recursos, garantindo o pagamento integral de todos os estudantes atendidos pelos programas da assistência estudantil.

Enquanto reitores corriam para evitar o fechamento das universidades, Bolsonaro declarava que os recursos retirados das instituições seriam aplicados em educação básica, que segundo ele no Brasil é como uma casa com um “excelente telhado e paredes podres”.

Reitora publica carta à comunidade universitária e à sociedade alagoana

“Ao final de nossa gestão, expressamos a nossa gratidão à comunidade universitária e à sociedade alagoana pelo apoio para o alcance do patamar de qualidade acadêmica que a Ufal conquistou.

Agradecemos também pelo suporte diante do enfrentamento aos desafios impostos por uma conjuntura de ataques às Universidades públicas brasileiras e à Ciência, através dos contingenciamentos financeiros, redução da autonomia universitária, com flagrante perseguição ao pensamento crítico e à liberdade de cátedra. Nesta conjuntura, nos mantivemos coerentes com cada princípio do projeto “Outra Ufal: democrática, autônoma, crítica e socialmente referenciada”, os quais nos moveram durante estes quatro anos de gestão.

As conquistas que a Ufal tem alcançado, nos tempos recentes, são provenientes de um trabalho coletivo que exigiu muito compromisso da comunidade universitária, especialmente das/dos gestoras/os. Em tempos de retrocessos em relação aos direitos humanos, fomos uma gestão eminentemente feminina, respeitando a diversidade humana e a pluralidade de ideias.

Mesmo em cenário adverso, desenvolvemos a infraestrutura da Ufal com a entrega de novos prédios, ampliamos as ações da assistência estudantil, abrimos novos restaurantes universitários, ampliamos políticas de permanência e bolsas acadêmicas e elevamos os indicadores de qualidade acadêmica.

Consolidamos o protagonismo da Ufal no cenário nacional e internacional na medida em que realizamos a 70ª Reunião anual da SPBC. A 9ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas resgatou o pertencimento do povo alagoano às expressões de arte, cultura, história e literatura, colorindo as ruas de Jaraguá.

Em um contexto de recrudescimento do conservadorismo, continuaremos contribuindo para que as Universidades públicas permaneçam comprometidas com os mais altos valores da humanidade, a proteção do meio ambiente, a valorização dos povos originários, da diversidade humana e da pluralidade social, a garantia da democracia, da liberdade de expressão e de cátedra.

A Ufal permanecerá contribuindo para o desenvolvimento social de Alagoas, do país e do mundo. Sigamos com a afirmação da alagoana Nise da Silveira, que enfrentou o conservadorismo do seu tempo com a arte, revolucionando o tratamento do transtorno mental: “Para navegar contra a corrente são necessárias condições raras: espírito de aventura, coragem, perseverança e paixão”.

Valéria Correia

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