11 de fevereiro de 2020 6:54 por Geraldo de Majella
The Intercept mostra que, ao contrário do que diz Paulo Guedes, ministro da Economia, não são os pobres que destroem a natureza
Grandes empresas, estrangeiros, políticos, uma empresa ligada a um banqueiro, frequentadores de colunas sociais no Sudeste e três exploradores de trabalho escravo estão entre os 25 maiores desmatadores da história recente do país. É o que mostra reportagem publicada pelo The Intercept Brasil, com base em dados públicos do Ibama, o órgão do governo federal responsável pela preservação do meio ambiente.
A reportagem comprova que, bem diferente do que disse o ministro da Economia, Paulo Guedes, não são os pobres que destroem a natureza. “O pior inimigo do meio ambiente é a pobreza”, declarou Guedes durante uma apresentação no Fórum Econômico Mundial em janeiro. Em Davos, na Suíça, o ‘super ministro’ do governo Bolsonaro, foi taxativo ao dizer que “as pessoas destroem o ambiente porque precisam comer”.
Os números desmentem as declarações. São resultado de uma apuração criteriosa feita durante meses pelos jornalistas Alceu Luís Castilho e Leonardo Fuhrmann, em com parceria do blog De Olho nos Ruralistas. Foram analisadas 284.235 multas por desmatamento nos últimos 25 anos e a conclusão é de que “os maiores destruidores do meio ambiente – principalmente da Amazônia – não são os pobres. São algumas das pessoas mais ricas e poderosas do Brasil”.
Campeões da destruição somam mais de R$ 50 milhões em multa
Juntos, eles somaram mais de R$ 50 milhões em multas entre 1995 e 2019. A reportagem mostra que, no total, “suas centenas de autuações chegam a R$ 3,58 bilhões, praticamente o orçamento do Ministério do Meio Ambiente inteiro para 2020”. Se corrigido, o valor chegaria a R$ 6,3 bilhões.
Sozinhos, os campeões da destruição são responsáveis por quase 10% do total de multas aplicadas por devastação de flora desde 1995 – R$ 34,8 bilhões.
A multa pode até ser aplicada, mas o destino é o lixo. Os desmatadores ignoram o órgão ambiental e seguem agindo livremente. Como informa a reportagem do The Intercept Brasil. “A imensa maioria deles jamais pagou suas multas e acumula outras dívidas com o poder público”, revela o site.
A reportagem destaca ainda que “os valores, que são proporcionais à área desmatada, mostram que quem destrói a floresta não são as pessoas pobres, como defende Paulo Guedes, e que o desmatamento não é ‘cultural’, como diz Bolsonaro. A destruição é movida a dinheiro – muito dinheiro – e uma boa dose de impunidade”.
Maior parte das multas é por desmatamento em áreas de espécies raras
O The Intercept Brasil revela ainda que o levantamento, “feito a partir das autuações por crimes contra a flora – há outros tipos de multas no Ibama –, abrange dois grandes grupos: as pessoas físicas e jurídicas que participaram de desmatamentos e aquelas que se beneficiaram diretamente de produto vindo de área desmatada, como na compra de madeira sem certificação de origem”.
Segundo a reportagem, “a enorme base de dados foi analisada a partir dos infratores que tiveram multas acima de R$ 1 milhão”. Somando os valores, a reportagem chegou aos maiores multados dos últimos 25 anos.
“O valor-base da multa na região da Amazônia Legal é de R$ 5 mil por hectare. As multas podem ser maiores quando há no lugar espécies raras o ou ameaçadas de extinção ou no caso de áreas de reserva ou proteção permanente. Boa parte das multas recebidas pelos recordistas se encaixa nesses agravantes”, informa a reportagem.
Outro ponto que chama a atenção na lista, de acordo com a reportagem, é a repetição de nomes. “Dos 25 campeões de infrações por desmatamento do país, só um – Agropecuária Vitória Régia – recebeu uma única multa. Os outros 24 foram reincidentes. Uma das empresas que aparecem no ranking, a Cosipar, levou multas em nada menos do que 16 anos diferentes. O valor chega a R$ 156,9 milhões – destes, R$ 155 milhões ainda não foram pagos”, revela o The Intercept Brasil.
Veja a lista completa dos 25 desmatadores mais multados entre 1995 e 2020:
1º – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – R$ 421 mi
2º – Agropecuária Santa Bárbara – R$ 323 mi
3º – Antonio Jose Junqueira Vilela Filho – R$ 280 mi
4º – Siderúrgica Norte Brasil S/A – R$ 272 mi
5º – Sidepar Siderúrgica do Pará S.A. – R$ 258 mi
6º – Gethal-Amazonas S.A. Indústria de Madeira Compensada – R$ 231 mi
7º – Gusa Nordeste S.A. – R$ 202 mi
8º – Agropecuária Vitória Régia S/A – R$ 170 mi
9º – Companhia Siderúrgica do Pará – COSIPAR – R$ 157 mi
10º – José Alves de Oliveira – R$ 105 mi
11º – José Carlos Ramos Rodrigues – R$ 101 mi
12º – Fernando Luiz Quagliato – R$ 100 mi
13º – Gilmar Texeira – R$ 99 mi
14º – Hamex Comércio de Produtos Alimentícios Ltda – R$ 94 mi
15º – USIMAR – Usina Siderúrgica de Marabá S/A – R$ 88 mi
16º – SiderurgicaIberica S/A – R$ 87 mi
17º – Giovany Marcelino Pascoal – R$ 86 mi
18º – TarleyHelvecio Alves – R$ 70 mi
19º – Destilaria Gameleira Sociedade Anônima – R$ 69 mi
20º – Carlos Alberto Mafra Terra – R$ 66 mi
21º – Jose de Castro Aguiar Filho – R$ 61,8 mi
22º – Lider Ind. e Com. de Carvão Vegetal Ltda EPP – R$ 61,5 mi
23º – Paulo Diniz Cabral da Silva – R$ 61,1 mi
24º – Siderúrgica Alterosa S/A – R$ 60 mi
25º – Jeovah Lago da Silva – R$ 58 mi