sábado 23 de novembro de 2024

Maceió perde suas referências históricas, arquitetônicas e paisagísticas: Centro vira um “cemitério fantasma”

8 de março de 2020 10:40 por Thania Valença

Centro de Maceió não tem o mesmo movimento de tempos atrás | Marco Antônio/Secom Maceió

O Centro de Maceió já foi glamouroso, com vitrines iluminadas e calçadas bem conservadas. As melhores lojas da cidade estavam localizadas nas ruas centrais. Durante décadas, os cafés foram pontos de encontro das famílias e de intelectuais.

Hoje, quem anda pelas ruas do Centro, a sensação é de contemplar um amplo cemitério de prédios, públicos e privados, todos destruídos. Um cenário de abandono cuja responsabilidade cabe às três instâncias do poder público: a União, o Estado de Alagoas e a Prefeitura de Maceió.

Os cidadãos que transitam ou trabalham no Centro lamentam o descaso e cobram providências. Os comerciantes e lojistas, obrigados a conviver com a degradação, perdendo cada vez mais com redução dos consumidores que se afastam pela insegurança, pela sujeira, anseiam pela revitalização da área.

Prédios do governo federal

Hotel Bella Vista, demolido ao final da década de 60 para dar lugar ao edifício Palmares…

Dezenas de prédios públicos e privados estão abandonados, alguns em ruínas, no Centro de Maceió. Três deles, todos de propriedade do governo federal, estão na Praça dos Palmares, uma das mais tradicionais da capital.

O edifício onde antes funcionou o extinto INPS, depois o INAMPS, é o maior, tem 13 andares, três elevadores. Antes de ser abandonados havia abrigado a Superintendência do IBGE e da sede da Agência Brasileira de Informação (ABIN).

Há mais dois edifícios na mesma praça, ambos construídos nos anos 1940, do século XX, e que durante décadas sediaram os extintos Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Empregados em Transportes e Cargas (IAPETC) e Instituto de Previdência e Assistência aos Servidores do Estado (IPASE). Estes também estão abandonados, sendo inclusive depredados.

… que hoje também está em ruínas

Na Rua Joaquim Távora, esquina com o Beco São José, a antiga sede do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) passa pelo mesmo processo de abandono, estando hoje com todas as dependências internas destruídas.

O edifício onde funcionou o Tribunal de Contas da União (TCU), na praia do Sobral, também foi abandonado. Do projeto do renomado arquiteto brasileiro João da Gama Filgueiras Lima, resta apenas a estrutura metálica. A ironia neste caso de abandono do patrimônio público é que, enquanto órgão federal que tem a finalidade de zelar pelas contas públicas, o TCU vê sua antiga sede em Maceió ser completamente destruída.

 

A cultura e a história abandonadas

Já houve um tempo em que todas as redações de jornais e rádios funcionavam no Centro, onde também estava um polo de cultura e educação, integrado à paisagem constituída pela Academia Alagoana de Letras (AAL), na Praça Deodoro; o Instituto Histórico e Geográfico (IHGAL), na Ladeira do Brito; o Tribunal do Júri, onde antes funcionou o Lyceu Alagoano, na Rua do Livramento, e a Faculdade de Direito de Alagoas, cujas lembranças remetem ainda à sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), na Praça Montepio dos Artistas.

As principais praças da cidade ou pelos menos três delas, praças Deodoro, dos Martírios e Dom Pedro II, estão no Centro. É no Centro que está o mais significativo conjunto de obras modernas projetadas pelo arquiteto italiano Luiz Luccarini (1842-1907), na primeira década do século XX: o Teatro Deodoro (1910), o Tribunal de Justiça (1912), o Palácio do Governo (1902) e a Intendência Municipal (1910).

A Intendência Municipal, um edifício projetado pelo famoso arquiteto italiano Luiz Luccarini, prédio localizado na Praça dos Martírios, foi restaurado na administração da prefeita Kátia Born. Já o prefeito Cícero Almeida, manteve por pouco tempo o gabinete do prefeito na Intendência Municipal. Almeida optou por transferir o gabinete para o bairro de Jaraguá.

No belo prédio da Intendência passou a funcionar a Secretaria Municipal de Assistência Social (SEAS). Quando a SEAS se mudou, o prédio ficou abandonado e logo foi invadido. Todas as suas instalações internas e externas foram depredadas com o furto de portas, janelas e outros materiais, restando somente o portão central.

Na Praça dos Martírios e seu entorno estão prédio públicos conhecidos da população. Num deles funcionaram as secretarias de Segurança Pública, Gabinete do Vice-Governador e de Comunicação. A vizinhança tem mais duas edificações que estão em ruínas.

Naquela área está o prédio onde funcionou o Instituto de Educação, construído na década de 1940 pelo governador Osman Loureiro. O imóvel sediou posteriormente o Colégio Estadual e depois a Secretaria Estadual de Educação.

Na gestão do então secretário Adriano Soares, a sede da SEE foi transferida para o Centro de Ensino e Pesquisas Aplicadas (CEPA). O motivo anunciado seria a realização de uma reforma no prédio. Com a mudança o prédio foi abandonado, passando a servir como ponto de convivência de dependentes químicos, e depósito de lixo, em pleno Centro de Maceió.

O fato é que as referências históricas, arquitetônicas e paisagística de Maceió estão sendo encobertas pela sujeira, pelo abandono, depredação, fruto do descaso com o patrimônio público que atinge frontalmente a memória da cidade.

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3 Comentários

  • É lamentável que em Maceió o nosso patrimônio arquitetônico seja tão largado, prédios belíssimos, monumentos históricos tudo se perdendo, sem cuidado, toda uma história se perdendo… Muito triste!

  • É de cortar o coração… Mas, de novo, aponto o dedo para nós mesmos, uma sociedade egoísta individualista, desalmada. Indiferente a sua metade largada na indigência, a seu patrimônio arquitetônico e a seus recursos naturais – vide poluição do mar e das lagoas.

    • Maria José, a nossa cidade vem sendo desconstruída. O Centro de Maceió é um caso de calamidade, é criminoso o que vem sendo feito em nossa cidade.

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