26 de março de 2020 4:46 por Marcos Berillo
Os servidores do Hospital Geral do Estado (HGE), e das demais unidades da rede pública de saúde continuam reclamando da falta de insumos, equipamentos e estrutura para o trabalho diário, agora mais intensamente diante da pandemia Covid-19. No HGE, o maior hospital de urgência e emergência de Alagoas, faltam máscaras, boa parte dos equipamentos são ultrapassados, e há risco provocado pela estrutura física do imóvel.
“Uma servidora está afastada, porque parte do teto caiu sobre ela durante o trabalho”, denuncia Valda Lima, diretora do Sindicato dos Trabalhadores da Previdência (SindPrev/AL). Membro do Conselho Estadual de Saúde, Valda afirma que os servidores da rede estadual enfrentam muitas dificuldades nos hospitais e postos de saúde, e que todos os fatos são do conhecimento dos gestores, ou seja, da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) e do governo do Estado.
A dirigente do SindPrev reclama ainda do tratamento diferenciado entre médicos e os demais operadores da saúde, como enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem. E cita como exemplo o caso recente do neurocirurgião Wellington de Andrade Freitas, afastado de todas as atividades profissionais pela Cooperativa dos Neurocirurgiões do Estado de Alagoas (Coopneuro).
“A medida se baseia no fato de o referido colega haver retornado de área de transmissão comunitária da Covid-19 no último fim de semana e de ter apresentado sintomas virais no final da tarde de hoje”, diz o comunicado da Coopneuro, assinado pelo médico Fabrício Avelino de Castro Lopes. A entidade completa o texto afirmando que “essa atitude visa preservar a saúde do próprio colega, assim como de toda a equipe do HGE, até que os protocolos de isolamento e propedêutica sejam cumpridos. A Coopneuro ratifica o total alinhamento com a autoridade sanitária nacional e se põe à disposição!”.
O problema, ressalta Valda Lima, é que o afastamento só foi determinado uma semana depois de o médico ter retornado da Itália. “Ele voltou da área de transmissão e veio trabalhar. Como isso é possível? Só uma semana depois foi afastado”, denuncia ela.
“Esse médico trabalhou por quase uma semana, ou seja, colocou a vida de diversos profissionais em risco. Isso precisa ser ressaltado, a decisão é tardia. Isso é muito sério. Ele próprio deveria saber, e não ter vindo”, acrescenta a dirigente do SindPrev, reclamando que situações de desrespeito aos demais servidores são frequentes.
Máscara
Outra queixa apresentada pela sindicalista é contra orientação de coordenadores para que os técnicos e auxiliares evitem o uso da máscara do tipo N95. “Orientam que essa máscara só seja colocada no paciente quando o médico diagnosticar suspeita, ou confirmar o coronavírus”, relata Valda Lima. A N95 é uma máscara desenvolvida para impedir a passagem de bactérias, partículas e vapores tóxicos.
Dessa forma, protege as pessoas que tem contato com portadores de doenças e os profissionais da área da saúde durante procedimentos médicos, cirúrgicos, odontológicos e laboratoriais de análises clínicas/patológicas, ou o paciente nas situações em que haja a emissão de partículas ou vapores nocivos envolvendo profissionais da saúde.
Insatisfeita com a orientação, a conselheira lembra que o momento atual, com o coronavírus se alastrando, é muito difícil. “Tudo é suspeito, numa guerra invisível como a que estamos vivendo. Como restringir o uso dos equipamentos? Tem pouco? Não tem? Tem que ir buscar na Farmácia Central? É isso que nós, trabalhadores, e a população precisamos saber”, reage.
Como integrante do Conselho Estadual de Saúde, funcionária do HGE e dirigente do SinPrev, Valda Lima afirma que tem participado de todas as ações que visam “chamar a atenção dos gestores para que atendam às necessidades de equipamentos e condições de trabalho na rede pública de saúde”.
Ela ressalta que os trabalhadores estão pedindo socorro. “O HGE é o único de grande porte do Estado, mas é um hospital insalubre que não oferece condições de trabalho. É lá que trabalho a mais de 17 anos, vendo a falta de medicação, insumos, EPI’s, manutenção e o risco aos pacientes. É uma preocupação permanente. Há anos fazemos essa denúncia!”, declarou a conselheira.