9 de abril de 2020 4:08 por Marcos Berillo
O Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e o Operador Nacional do Sistema Hidrelétrico (ONS) revelaram, esta semana, que o reservatório de Três Marias, em Minas Gerais, já atingiu o volume útil máximo, o que já obrigou os operadores a abrirem comportas preventivamente.
Além disso, o reservatório de Sobradinho atingirá 100% de seu volume útil no próximo mês de maio, garantindo segurança hídrica para todos os usuários das águas do Rio São Francisco. A boa notícia sobre o ano hidrológico de 2020 na calha do Velho Chico foi confirmada na última terça-feira, 7, durante videoconferência promovida pela Agência Nacional de Águas (ANA).
A partir de um volume útil acima de 60%, a operação do reservatório de Sobradinho entra na chamada “faixa de operação normal”. De acordo com o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Anivaldo Miranda, as vazões abaixo (jusante) das hidrelétricas aumentaram consideravelmente com as chuvas do período úmido no Alto São Francisco e agora, no caso de Sobradinho, subiram de 800m³/s e 1.100m³/s para o patamar de 1.300m³/s (mil e trezentos metros cúbicos por segundo).
Isso atende a um pedido do Governo do Estado de Sergipe como forma de diminuir a turbidez excessiva na tomada d’água que abastece a região metropolitana de Aracaju. “Essa tomada d’água fica na altura da cidade de Propriá (SE), nas margens do rio e sofreu problemas com a chegada de grandes volumes de águas com nutrientes e detritos provenientes do Rio Ipanema, um rio intermitente (seco na maior parte do tempo) que nasce em Pernambuco e deságua na vertente do São Francisco, já em território de Alagoas, mas acima (montante) de Propriá (SE)”, explicou.
Os dados da meteorologia, por sua vez, ainda se mostram favoráveis muito embora se preveja para toda a Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco chuvas menos volumosas, algo característico durante o mês de abril. Porém, seja como for, a precipitação média para abril está prevista para alcançar os 30%, um pouco abaixo da média usual de 50% mas ainda assim importante para a manutenção dos bons percentuais de enchimento dos reservatórios.
Transposição e cunha salina
O presidente do CBHSF, Anivaldo Miranda, que acompanhou toda a videoconferência, observou, diante do contexto das apresentações dos órgãos que operam as vazões e os reservatórios, a ausência de informações sobre as captações dos canais do Projeto da Transposição, justamente agora quando, depois de uma seca que se prolongou desde 2013, a situação das vazões do São Francisco é bastante favorável.
O superintendente da ANA e coordenador da videoconferência, Joaquim Gondim, explicou que ainda não será desta vez que um volume maior das águas do Velho Chico chegará aos canais dos eixos Norte e Leste da Transposição, por questões de ordem operacional e prometeu na próxima videoconferência convidar a área de infraestrutura do Ministério do Desenvolvimento Regional a fazer uma apresentação específica sobre o tema.
Miranda observou ainda que o início vigoroso da estação chuvosa no Baixo São Francisco, sobretudo na bacia do Rio Ipanema, para além dos problemas de enchentes e segurança de barragens, acarreta a perda lamentável de grandes volumes de água por falta de uma rede maior de pequenos reservatórios na região daquela bacia semiárida de rio intermitente.
“Lamento ainda que, por ausência de gestão hídrica em rios considerados secos, todas as vezes que o precioso líquido chega se perde também porque, além de ocupar o leito dos rios intermitentes, as populações acumulam o lixo e o esgoto que depois vai comprometer a qualidade das águas exatamente quando a tão longamente esperada chuva chega”.
Todavia, o presidente do CBHSF ponderou que se por um lado as águas do Ipanema depois de 40 anos de espera não foram aproveitadas, pelo menos desaguaram na foz do Rio São Francisco com grande volume de nutrientes que, somados às vazões generosas vindas do Alto e Médio São Francisco desde janeiro último, servirão para minorar os efeitos da intrusão salina das águas oceânicas, bem como, e principalmente, dar alento à biodiversidade estuarina e marinha sobretudo na vasta área de manguezais e de vegetação estuarina e de restinga que fica entre os estados de Sergipe e Alagoas.
Com assessoria