domingo 24 de novembro de 2024

Sérgio Moro renuncia ao Ministério da Justiça e denuncia interferência política na Polícia Federal

24 de abril de 2020 1:12 por Marcos Berillo

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, fala à imprensa | Agência Brasil

Não é quem vai ser o novo delegado-geral da Polícia Federal, o superintendente no Rio de Janeiro ou em Pernambuco. É por que eles estão sendo nomeados.

A bola foi levantada pelo ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, durante entrevista coletiva na manhã desta sexta-feira, 24, quando anunciou que pediu demissão do cargo: o presidente Jair Bolsonaro quer interferir politicamente na PF e isso o ex-juiz federal não aceitaria.

“Presidente, eu não tenho nenhum problema em troca do diretor, mas eu preciso de uma causa, um erro grave”, disse Moro.

Maurício Valeixo, braço direito de Moro, foi exonerado “a pedido” nesta sexta. O juiz levantou dúvidas sobre o tal “pedido”. Ser delegado-geral é o ápice da carreira de um PF e Valeixo, segundo o ex-ministro, vinha fazendo um bom trabalho.

Numa entrevista devastadora, mas sem perder o equilíbrio, Sérgio Moro fez outras acusações graves contra Bolsonaro. O presidente teria pedido a ele acesso a informações sigilosas da Polícia Federal.

“O presidente me disse mais de uma vez, expressamente, que ele queria ter uma pessoa do contato pessoal dele, que ele pudesse ligar, que ele pudesse colher informações, que ele pudesse colher relatórios de inteligência, seja diretor, seja superintendente. E realmente não é o papel da Polícia Federal prestar esse tipo de informação”, destacou.

“[A autonomia da Polícia Federal] é um valor fundamental que temos que preservar dentro de um estado de direito”, reforçou Moro, durante a entrevista, em que revelou: Bolsonaro estaria preocupado com investigações que ocorrem no âmbito do Supremo Tribunal Federal (STF).

Os filhos do presidente e aliados bolsonaristas são alvos de investigação por corrupção e por envolvimento em disseminação de fake news. A participação em eventos pró-ditadura e AI-5, além de ameaças de morte aos ministros do STF também tiram o sono do clã.

Repercussão

Tido como um dos símbolos do compromisso do governo federal no combate à corrupção, a queda de Sérgio Moro repercutiu negativamente entre eleitores de Bolsonaro. Na manhã desta sexta-feira, a tag #bolsonarotraidor já era uma das primeiras no trend topics do Twitter.

O perfil Caneta Desesquerdizadora publicou: “Nós não compactuamos com CRIMINOSOS do Centrão controlando bilhões de reais no governo. Nós não compactuamos com presidente intervindo politicamente na Polícia Federal por “preocupações com inquéritos no STF. Bolsonaro traiu seus eleitores”.

Um dos criadores do “monstro”, o Movimento Brasil Livre (MBL) tuitou: “Já tem bolsominion ensaiando discurso de que votou em Bolsonaro, não em Moro. O principal problema não foi Moro ter saído. Foi ele ter DENUNCIADO que Bolsonaro estava interferindo na Polícia Federal POR MEDO DE UM INQUÉRITO NO STF. ACORDA!”

O jornalista Fabio Pannunzio prevê complicações para o presidente terminar o seu mandato: “Moro deu a senha para o impeachment de Bolsonaro. Já era, Bozo. Agora é com o Rodrigo Maia e o ministro Celso de Mello. Bolsonaro andou falsificar a assinatura dele no decreto da demissão do Valeixo. Rua, Bozo. Você já era!”

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