9 de maio de 2020 4:31 por Geraldo de Majella
Registrado como Salustiano da Silva Filho e conhecido por Salu, nasceu em Matriz de Camaragibe, em 10 de outubro de 1930. Ao completar vinte anos, mudou-se para Maceió, sem profissão definida; foi encaminhado por um conhecido para trabalhar no pesado, como arrumador no porto de Jaraguá. “Trabalhei no sessenta, quatorze, quinze horas por dia carregando sacos para os navios”, diz orgulhoso e sorridente.
Salu não tinha filiação partidária nem se ligava em política; levou a vida a carregar sacos de sessenta quilos na cabeça, mas era sindicalizado e convivia com as lideranças sindicais da época, como Calazans, Joel, Luiz Sardinha e Mário Correia, presidente do Sindicato dos Arrumadores e membro do Partido Comunista Brasileiro (PCB).
Em 1960, vem morar em Jatiúca. O bairro era um “arrabalde, distante de tudo, mas perto do mar”. Alugou uma casinha na Avenida Jatiúca, 1.140. Em 1975, mudou-se novamente, desta vez para a esquina da Rua Ernesto Maranhão com Travessa Santo Amaro, atual Isabelle Gondim, e nessa casa abriu um bar.
Jatiúca começava a crescer, a Cohab construía os conjuntos habitacionais; o Castelo Branco fora inaugurado e era o maior dos conjuntos. A dinâmica do bairro vai sendo alterada: um supermercado é aberto, a CEIA, o comércio passa a existir no bairro, são abertas mercearias, lojinhas, botecos e barbearias.
Salu se preparava para se aposentar quando iniciou uma nova atividade como fonte complementar de renda: o bar. O Bar do Salu tem um diferencial: a cachaça. Mas qual o motivo de a cachaça ser um diferencial, se em todos os botecos há cachaça?
Salu passou a vender cachaça com raiz de pau e tira-gosto de torresmo. As misturadas feitas com raízes, cada uma tinha um nome; a mais famosa era o Pau do Jegue, o carro-chefe; além do inigualável torresmo crocante. A clientela foi se formando e o bar ganhou destaque no bairro. O movimento cresceu; naquela época não existia delivery, os apreciadores da iguaria, o torresmo do Salu e a cachaça, vinham antes e faziam as encomendas com antecedência. A raiz de pau do Salu ganhou fama e ficou conhecida em Maceió.
O bar abria as portas ‒ só tinha duas ‒ às sete horas da manhã e já havia clientes esperando. Era a turma da manhã, o primeiro turno ou os madrugadores; a turma das dez e a das onze horas chegava sem falta, todos os dias. Um dos clientes fidelizados era o Reinaldo, ex-jogador do CRB, que entre um trago e outro contava histórias do tempo em que jogou e foi ídolo do Galo da Pajuçara, na década de setenta.
Salu fechou o bar, mas não foi por falta de clientes. Aos 89 anos e com a saúde claudicando, sofreu um AVC, se recuperou, depois caiu e quebrou o fêmur. Movimenta-se com o apoio de um andador. O velho arrumador luta para viver por mais alguns anos. Sempre um bom papo, todos os dias ele conversa com uma turma de amigos na calçada do bar.
A cidade perdeu a Pau de Jegue, a cachaça misturada com raiz que, segundo os especialistas, além de forte, é afrodisíaca, juntamente com o torresmo crocante de porco.