18 de maio de 2020 5:32 por Thania Valença
Os alagoanos sabem que, depois de conquistar o mandato, é praticamente nenhum o relacionamento do senador Fernando Collor (PTC) com seus eleitores. Com a população de modo geral, então!
E o alagoano sabe também que é tradição, ao se aproximar do fim de cada mandato, ele vestir o disfarce de político amigável, próximo, divertido, preocupado com o estado “e sua gente”.
Agora, no triênio final do segundo mandato de senador da República, Fernando Collor volta a dar sinais de sua existência político-parlamentar. A ação mais recente neste sentido é, além de abrir suas redes sociais para ouvir o povo, na hasteg #FalaCollor, se manifestar publicamente sobre o confisco da poupança dos brasileiros, medida que adotou em 1998, como presidente da República.
Além de sua conta no twitter, ele fala do assunto numa live com o jornalista Luiz Nassif, disponível no site jornalggn.com.br. Collor tenta se redimir, dizendo que os problemas decorrentes da medida foram gerados pelo mercado financeiro, que “sempre se antecipa ao governo” para garantir seu lucro.
Da forma como o ex-presidente fala do confisco, parece que foi uma bobagenzinha, algo necessário para por fim à hiperinflação que o Brasil vivia, e que era sua missão como mandatário maior do país.
Era o dia 16 de março de 1990 quando Fernando Collor anunciou troca da moeda de cruzado novo para cruzeiro, imposto sobre operações financeiras, congelamento de preços e salários por 45 dias, aumento das tarifas de gás, luz e telefone, extinção de empresas estatais e demissão de 81 mil funcionários públicos.
O pacote de maldades do plano Brasil Novo foi um mais longe. E aí reside um dos grandes nós da gestão Collor.
Naquele mesmo dia, os brasileiros foram surpreendidos com o bloqueio das cadernetas de poupança. Vale lembrar que o bloqueio atingiu, além da poupança, todo dinheiro em contas correntes e aplicações financeiras. Quem tem mais de 40 anos lembra do famoso “overnight”, né?
E o que diz hoje o ex-presidente?
“Quando assumi o governo, o país enfrentava imensa desorganização econômica, por causa da hiperinflação: 80% ao mês! Eu e a minha equipe não víamos alternativa viável naquele início de 1990. Quisemos muito acertar. Nosso objetivo sempre foi o bem do Brasil e dos brasileiros” – argumenta o agora senador.
Contraponto
“O dinheiro aplicado nas cadernetas de poupança não era um dinheiro qualquer. Para muitos, era a motivação para se viver, o meio para se atingir um sonho ou a esperança de cura para uma doença grave. Era a garantia de uma velhice digna ou a chance de ajudar um ente querido em dificuldade”, avalia a historiadora Francine de Lorenzo Andozia, autora da dissertação de mestrado Passaram a Mão na Minha Poupança – Um Estudo sobre o Impacto do Plano Collor no Cotidiano da População Brasileira Urbana em 1990 (2019) da Universidade de São Paulo (USP), que, como tantos outros pesquisadores, provaram que o remédio foi extremo, acabando por matar o paciente.
O pacotaço acertou milhões de brasileiros, muitos se suicidaram por causa do confisco.
Lojas, bares e restaurantes fechados, negócios desfeitos com prejuízo de quem não conseguiu sacar seu dinheiro e tantos outros incontáveis prejuízos, na maioria irreversíveis, marcaram aquele período da história do Brasil.
Trinta anos depois de tantas e tamanhas tragédias, do alto de sua vida luxuosa, Fernando Collor vem falar em erro?
“Acreditei que aquelas medidas radicais eram o caminho certo. Infelizmente errei. Gostaria de pedir perdão a todas aquelas pessoas que foram prejudicadas pelo bloqueio dos ativos. Não tenho conhecimento de aumento das taxas de suicídio, que possa ser associado às medidas econômicas. Falências podem ter havido, mas são parte da dinâmica natural de uma economia competitiva”, tenta minimizar o ex-presidente.
As postagens em seu twitter (Veja aqui) mostram que o pedido de desculpas não foi aceito. A reação dos internautas é igual murro nos beiços!
Ainda bem.