sábado 23 de novembro de 2024

Tostão, a livraria e o fã

23 de maio de 2020 5:21 por Geraldo de Majella

Eu, tietando o craque

Dinheiro curto e uma vontade de viajar enorme, mas sendo assalariado e/ou aposentado não há outro jeito a não ser realizar um planejamento minucioso. Eu e Vânia, em dezembro de 2018, depois de pesquisar os preços compramos as nossas passagens para Portugal, com embarque para setembro de 2019. Escolhemos depois de pesquisar quais cidades deveríamos visitar, quantos dias iríamos passar, os museus que visitaríamos. Eu fiz a minha lista de interesses; a maioria coincidia com os interesses de Vânia.

Três cidades seriam visitadas com mais tempo, Porto, Coimbra e Lisboa, mas iriamos, ainda, a Óbidos e Sintra, cidades próximas de Lisboa. Realizamos os nossos roteiros, por onde andaríamos a pé, como peregrinos de mochila nas costas. O primeiro destino foi a cidade do Porto. Na primeira manhã, o tempo amanheceu nublado e frio; tomamos o pequeno almoço como dizem os portugueses; para os brasileiros, é o café da manhã e saímos a pé até o Centro para visitar a bela Livraria Lello, estabelecimento criado pelos irmãos José e Antônio Lello, em 1881, voltada para o comércio e a edição de livros.

O frio e a garoa fina que caía não nos incomodaram. Ao chegarmos à livraria, na rua das Carmelitas, 144, nos deparamos com uma enorme fila de turistas, Vânia ficou na fila e eu fui comprar os ingressos para ter acesso a Lello. O prédio é uma obra de arte e ganhou fama mundial por ter servido supostamente de inspiração à escritora inglesa J. K. Rowling, autora de Harry Porter, mas no último dia 21 de maio, a autora revelou, através do seu twitter: “Nunca visitei esta livraria no Porto. Nunca soube da sua existência! É linda e gostaria de tê-la visitado, mas não tem nada a ver com Hogwarts!”.

Felizmente não estivemos na Lello pelo motivo de ser cenário do Harry Porter, agora desmentido; fomos pela beleza da livraria, pela tradição e pela longevidade. São 138 anos de existência.

Ao voltar com os ingressos avistei um senhor de boné, um rosto “familiar”. Em geral, a minha memória fisionômica é péssima, mas achei que era o Tostão; fui em sua direção e o chamei já com intimidade e pelo nome próprio: “Você é o Eduardo Gonçalves de Andrade?”. Ele abriu um sorriso largo e disse: “Sou”.

Não me fiz de rogado, iniciei um papo que só as crianças e os adolescentes têm a petulância de falar: “Tostão, você jogava no meu time de botão”.

Ele riu e disse: “Eu fazia gols no seu time?”

Respondi: “Você era o artilheiro”.

Ele perguntou de que cidade eu era, falei que era de Anadia, em Alagoas.

Esse encontro não demorou mais do que quatro ou cinco minutos, tempo que me pareceu uma eternidade; na despedida, ele estava indo comprar os ingressos para entrar na livraria. Pedi para fazer uma selfie. As fotos que tirei não saíram boas; fui novamente pedir para tirar outras fotos. E nos despedimos.

Dentro da livraria voltamos a trocar mais algumas palavras sobre a beleza arquitetônica e a quantidade de pessoas fotografando o interior da Lello.

Nos poucos minutos com o ídolo, nesse encontro casual, voltei à condição de criança ou adolescente, quando eu pedia e colecionava autógrafos de jogadores de futebol; fui além: escrevia para os clubes pedindo fotografias autografadas. Durante anos conservei pequenos tesouros de infância; ainda tenho um ou outro, pois dei a maioria para filhos dos meus amigos.

Comentei com Vânia que o encontro com Tostão valeu a viagem a Portugal. É possível que ela não tenha compreendido, talvez, por nunca ter sido uma aficionada por futebol e, muito menos do futebol arte, como o Tostão jogava.

O Canal 100 exibia filmes em câmara lenta nos cinemas antes dos filmes. O futebol com beleza plástica era mostrado em câmara lenta; os torcedores eram atores anônimos do espetáculo cinematográfico, com fundo musical inconfundível a música “Na Cadência do Samba” (Que Bonito É), composição de Luiz Bandeira, imortalizada por Waldir Calmon.

Dezenas de vezes assisti no cinema às jogadas do Tostão na copa do mundo de 1970 e, mais ainda, nos jogos do Cruzeiro, onde ele integrava um trio de ouro: Tostão, Zé Carlos e Dirceu Lopes, três artistas da bola, três craques. E o final precoce da sua carreira no meu Vasco da Gama.

Atualmente, com a internet tenho assistido a entrevistas, jogos no YouTube. Mas há uma jogada contra a Inglaterra que é inesquecível, e o próprio Tostão descreveu: “Quando a bola veio, tentei chutar para o gol; a bola voltou, tentei o drible, pois eu queria o gol. Joguei a bola por entre as pernas do Bobby Moore e queria ir para o gol. Mas quando fiquei cercado, tinha uma jogada que eu fazia muito no Cruzeiro, o hábito de virar o jogo mesmo que não visse um companheiro, porque a chance de achar alguém livre é grande. Então rapidamente mandei a bola para o outro lado e caiu no pé do Pelé. E ele, com aquela magia toda, quando o zagueiro chegou, rolou para o Jairzinho fazer o gol”.

A viagem para mim ganhou mais valor. Outros bons momentos ocorreram em Portugal, e descobri o quanto o país é bonito e tem um magnífico patrimônio histórico, arquitetônico e cultural preservado. Encerramos a nossa viagem visitando a Fundação José Saramago, em Lisboa, este, um craque português da literatura.

A viagem foi um gol de placa! 

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