31 de agosto de 2020 9:51 por Eliana Sá Angelo
Então… Nessa estreia no 082 NOTÍCIAS enfrentei o dilema da definição do tema a abordar primeiro, a difícil tarefa de fazer uma escolha: por onde começar?
Como profissional dedicada ao estudo e à prática de temas relacionados à inovação, novas tecnologias e à gestão de tudo isso, optei por focar nossas conversas aqui no blog nos acontecimentos que impactam, de alguma forma, o nosso estado de Alagoas.
Pois bem. Estudos realizados em vários países sobre os sistemas de inovação mais exitosos do mundo constatam que dois são os fatores de sucesso comuns a todos. O primeiro refere-se à necessidade de que se forme um consenso nacional entre políticos, acadêmicos, empresários e sociedade em geral, de que a inovação é a melhor estratégia para a manutenção e o aumento da competitividade das empresas e para o desenvolvimento das regiões. O segundo fator consiste da importância do poder público seja na formulação de políticas, planos e ações que priorizem a ciência, a inovação e a tecnologia, seja na criação da infraestrutura necessária, seja na disponibilização de recursos que dividam com o setor privado os custos dos riscos inerentes ao processo de inovação.
Vale ressaltar que, o apoio estatal à inovação se dá como um estímulo temporário para que se consiga implementar algumas ações e alguns projetos, sem que isso signifique, no entanto, um modelo paternalista de Estado. A partir desse incentivo as ações devem ser autossustentáveis, sejam elas totalmente privadas ou em parceria com o setor público.
E nós? Como estamos na fita?
Alagoas tem-se destacado no cenário nacional e, em alguns casos, até internacional por ações pontuais, mas, sobretudo, pelas suas relações institucionais.
Existe um conjunto de instituições públicas e privadas, capazes de impulsionar a inovação no estado. São instituições que se falam, se respeitam e são parceiras, abrangendo as “.edu”, “.gov” e “.com”, e o consenso da necessidade de se impulsionar a inovação para gerar desenvolvimento sustentável existe.
Quais os entraves ao desenvolvimento de um ecossistema de inovação realmente maduro e competente em Alagoas?
São alguns. A fragilidade da educação impacta sobremaneira na formação de cientistas capazes de gerar conhecimento para ser transformado em inovação, tecnológica ou não.
As chamadas “pastas sociais” e seus indicadores impingem um quadro emergencial contínuo com o qual se deparam os governantes, que os coloca no seguinte dilema: como canalizar recursos para o desenvolvimento econômico (inovação como vetor para tal), quando tem-se um cenário devastador na saúde, na segurança, na educação e na infraestrutura de habitação, saneamento e estradas?
Duro impasse. Uma alternativa que alguns governantes têm adotado, mesmo que timidamente, é induzir alguns programas de estímulo à inovação para resolver problemas das áreas sociais.
Recordo do então Presidente da Fapeal, Dr. Fernando Barreiros, quando lançou os Projetos Induzidos. Eu estava iniciando minha atuação nessa área e fiquei muito impressionada com essa ideia, nova para mim, àquele tempo. Ainda hoje vejo iniciativas nesse sentido e as considero bastante inteligentes, embora defenda que não se pode prescindir de ações que também privilegiem as demandas empresariais.
Um empresário à frente da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (SECTI/AL) é bastante alentador. Esperamos que não seja apenas uma andorinha.
As relações das empresas com a academia, nem sempre bem alinhadas em seus distintos tempos e línguas e também sujeitas a condições ideológicas mais ou menos favoráveis também interferem na transferência do conhecimento e na sua apropriação pelo setor produtivo.
O reduzido parque industrial do estado, em especial quando se contabiliza o número de médias e grandes empresas, geralmente elas mesmas indutoras de desenvolvimento, capacitação e inovação também limita a capacidade inovadora local.
Coloquei inicialmente os dois fatores, praticamente condições sine qua non, mais comuns nos países de referência em inovação. O consenso sobre a importância da inovação como elemento transversal impulsionador da competitividade e do desenvolvimento é visível nos círculos acadêmicos, governamentais e empresariais de Alagoas. A segunda condição, já se verifica em ações pontuais que, entretanto, precisam ser sistematizadas e contínuas. Editais e programas na área da Ciência, Tecnologia e Inovação (CTI), assim como uma política de CTI efetiva, precisam ser perenes, consistentes e perpassar os ciclos administrativos de 4 anos.
A hélice tríplice, pensada por Henry Etzkowitz, define os papéis e relações dos agentes principais da inovação:
Completam os sistemas de inovação as instituições dos sistema de financiamento e subvenção, do arcabouço legal, das instituições de apoio, locais, nacionais e até internacionais.
O cenário alagoano: tem-se uma excelente governança, apesar de tímida, temos uma produção interessante de papers (indicador que mede a produção de conhecimento científico), considerando o cenário nacional. A Ufal, por exemplo, está entre as 50 instituições que mais produziram no país. Em instituições chaves, como o Sebrae e a Ufal temos lideranças sensibilizadas e com um percurso profissional amplamente ligado a ações de inovação.
O desafio: aproximar a academia do setor produtivo para transferir conhecimento das universidades e centros de conhecimento para as empresas e, de consequência, gerar inovação (e patentes, que é o indicador clássico de inovação), competitividade e riqueza. O momento é esse!
REFERÊNCIA:
ETZKOWITZ, H. Hélice Tríplice: Universidade-Indústria-Governo: Inovação em Movimento. Porto Alegre:
EDIPUCRS, 2009.
Eliana Sá Angelo (Professora e palestrante, especialista em Gestão da Inovação e Indústria 4.0).
1 Comentário
Excelente!! Aproximar academia do setor produtivo é sempre imprescindível.