6 de fevereiro de 2021 8:13 por Geraldo de Majella
Alagoas quebrou em 1997; os funcionários públicos ficaram oito meses sem receber os salários, o governo não pagava os fornecedores, funcionários desesperados cometiam suicídio, o Estado foi devastado por um tsunami. A educação foi uma das áreas mais atingidas. A tragédia avançou sobre milhares de funcionários coagidos e desesperados que aderiram ao Programa de Desligamento Voluntário (PDV).
A insolvência administrativa e financeira arrastou Alagoas para uma condenação quase definitiva. Impotente e de joelhos o governador Mano Gomes de Barros assinou a renegociação da dívida do Estado com a União e credores internacionais, imposta pelo presidente FHC e Pedro Malan, o todo poderoso Ministro da Fazenda. Alagoas pagou oito bilhões e continua devendo cerca de 11 bilhões de reais. Conclusão: é impossível quitar essa monstruosidade.
Essa condenação a que o estado de Alagoas foi submetido é o motivo pelo qual não haverá em tempo algum uma educação de qualidade, salários minimamente dignos para os educadores e as demais categorias de funcionários públicos, a não ser para seis ou sete categorias que sempre ganharam acima de qualquer teto e em qualquer época da história estadual.
O campo de exploração que as fundações empresariais e consultorias escolheram, entre outros lugares, foi Alagoas. A Fundação Lemann não é propriamente uma instituição de caridade. O objetivo do bilionário Jorge Paulo Lemann, dono da fundação, é interferir na educação pública mudando os conteúdos dos currículos escolares e da formação dos professores. Essa é a base ideológica da Lemann e de outras fundações empresariais que estão atuando no estado de Alagoas.
Professores, gestores e coordenadores recebem formação através do “pacote de apostilamento” entregue à Secretaria Estadual de Educação (Seduc). É cômodo e parece vantajoso receber os “especialistas” da Fundação Lemann a custo zero. A “Nova Educação” vai preparar os professores nos parâmetros ideológicos da Lemann, de onde o consumismo, o individualismo e a elevada competitividade terão como matriz a meritocracia.
A Seduc, ao permitir a premiação para estudantes, professores, diretores e equipe técnica como política institucional, dá um claro sinal de rendição ao modelo empresarial na educação pública e passa a difundir a ideologia da Fundação Lemann. A educação pública estimula o pensamento crítico, a autonomia da comunidade escolar e tem como consequência a construção da cidadania e do cidadão ‒ o contrário do pacote educacional “ofertado” por um bilionário que quer formar consumidores e trabalhadores acríticos.
O Estado de Alagoas é um campo fértil para as consultorias ganharem muito dinheiro apresentando diagnósticos que nem sempre são lidos, e muito menos, interpretados.
A escola pública não pode nem deve prestar-se a esse tipo de servilismo político e ideológico.
1 Comentário
A matéria traz alerta da maior importância. O Rio já vive essa triste realidade. Lá, o Instituto Airton Sena cumpre esse papel abjeto. A irmã do corredor de carro conduz o Instituto. Há outros institutos e movimentos trabalhando dessa forma. E nós só pensamos em pagar escola privada para nossos filhos.