1 de abril de 2021 11:28 por Geraldo de Majella
O Brasil tem vivido nos últimos anos uma sucessão de crises políticas e institucionais, mas a última deflagrada pelo presidente da República Jair Bolsonaro teve como alvo as Forças Armadas. Ao demitir o Ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, o motivo em pouco tempo ficou claro para o país: o ministro recusara conduzir as três armas como escudos políticos e instrumento de ameaça aos poderes da República e à democracia. Essa é a síntese da crise; outros detalhes vão emergir com o tempo.
Bolsonaro teve formação inicial como militar, até o posto de tenente. O seu tempo de caserna foi curto; por questões disciplinares foi para a reserva, no posto de capitão. A sua trajetória política foi percorrendo o entorno dos quartéis como uma vivandeira.
A crise arrebenta no dia 29, e as suas consequências ainda não são possíveis de prever com inteireza. Esse ato é mais uma tentativa para obter o controle político das Forças Armadas, mas o que se pode depreender é que o general Fernando Azevedo e Silva ao agradecer ao Presidente da República e ressaltar a sua lealdade, disse: “Nesse período, preservei as Forças Armadas como instituições de Estado”. Em menos de vinte e quatro horas, os três comandantes militares entregaram os comandos, numa demonstração de unidade e defesa da Constituição federal.
O isolamento de Jair Bolsonaro é uma obra política construída a muitas mãos, vejamos: no STF tem sido derrotado frequente e sucessivamente; no Congresso Nacional sofreu derrotas e a mais emblemática é a de que não negociaria com partidos ou grupos. Como é do seu perfil negar o que faz, logo percebeu que para governar deve fazer concessões antes abominadas e terá de fazer muito mais se quiser concluir o mandato. O Centrão é uma “entidade” quase divina, composta por deputados com apetite insaciável que querem mais cargos, ministérios e estatais.
A última prensa foi dada pelos banqueiros, que aterrissaram em Brasília com um Manifesto assinado por mais de 500 nomes de pesos da economia e das finanças. Não demorou e os presidentes da Câmara e do Senado passaram a se movimentar sob a orientação dos bancos e financeiras.
A Grande Imprensa está enfileirada contra. Se os comandos militares resistiram, os políticos no Congresso Nacional apoiam, mas não apoiam tudo e querem o controle efetivo do governo. Dos governadores, a maioria está contra e são os principais alvos do presidente. E na opinião pública cresce a desaprovação do governo.
A Bolsonaro restou a sua principal obra: o genocídio do povo brasileiro, cuja extensão ainda não se pode calcular, mas que se acha em franca expansão. A comemoração do golpe militar de 1964 é uma bizarrice reintroduzida na cena nacional desde que assumiu a presidência da República.
O ódio e o nojo às ditaduras proclamado por Ulisses Guimarães continuam ecoando no Brasil.
Ditadura, nunca mais!