10 de abril de 2021 7:04 por Geraldo de Majella
O cantor e compositor alagoano Djavan durante anos fez das areias e do refúgio bucólico do bairro o seu lugar nas férias anuais. Em Garça Torta, Djavan compôs, recebeu amigos, viu os filhos crescerem num ambiente de sublime inspiração e com aspecto interiorano.
O cantor e compositor maranhense João do Vale esteve nos botequins e na praia de Garça Torta. O maestro e pianista Arthur Moreira Lima confessou que esteve contemplando a beleza do mar e dos currais de peixes anonimamente, em muitos verões.
O casal de artistas plásticos Delson Uchoa e Eva le Campion morou e instalou na rua São Pedro os seus ateliês. Era um point onde recebiam artistas de todo o mundo, e à sombra de um frondoso cajueiro, na mesa farta de peixes e frutos do mar ofereceram almoços inesquecíveis. O ateliê da artista plástica Nelza Saleme foi também uma das referências do bairro.
No final dos anos 70, e durante a década de 80, formou-se um núcleo de artistas, intelectuais e professores universitários defensores do meio ambiente que tiveram como referência na boêmia noturna o bar Lua Cheia, um palco de saraus poéticos e políticos.
A Garça Torta é um milagre urbano, uma espécie de Parque Cultural Alternativo a céu aberto. A beleza da praia intocada pelo tempo, a cultura que borbulha nos frequentadores, o astral de uma cidadezinha interiorana, a simplicidade sábia dos seus moradores e a originalidade de um estilo que sobrevive ou tenta sobreviver à massificação da sociedade.
A convivência cultural em harmonia desse lugar é o seu mais precioso patrimônio. O bairro deve ser preservado pelas suas características históricas, pelo modo como se vive e por ser um exemplar raro em meio à cidade que se agiganta e quer engolir a todos os que estão nas bordas.
Garça Torta é um território pequeno, porém liberto. Quem mora no bairro quer viver livre e leve para se jogar ao mar.
Tirem as garras da Garça Torta.