sexta-feira 22 de novembro de 2024

A Voz, Para o Dono da Voz (parte II)

Os executivos das grandes companhias de disco começaram a botar as mãos na cabeça.

19 de novembro de 2021 6:35 por Mácleim Carneiro

Divulgação

De volta ao tema da semana passada, tivemos momentos bem animados no tal debate. Por exemplo, a vaia que levou Torquato Mariano, quando, achando que todo mundo era otário, ou para provocar mesmo, comentou que em seu departamento na EMI não se falava em jabá.

Outro bom momento foi o bate-boca entre Otto e, novamente, o Torquato. Otto defendia a pirataria. Torquato, por sua vez, fugia da questão básica que era o preço alto das gravadoras e enfocava apenas a questão legal. Aliás, uma das questões era por que as gravadoras não numeravam os discos que comercializavam? Seria uma ótima forma de controle. O problema é que, assim, os artistas também teriam como conferir as vendas dos discos, e aí…

O que fazer com a programação das emissoras de rádio e televisão? Surgiram algumas sugestões, que valeram como ponto de partida. Muri Costa defendeu a descentralização nos departamentos dos diversos segmentos da mídia, substituindo a figura do diretor de programação (no caso das rádios) por um conselho de representantes de todos os setores ligados à produção e consumo musical. Convenhamos que ficaria mais difícil, senão bem mais caro, a prática do jabá.

Polêmicas

Este tema era tão polêmico, que circulou nos jornais do Rio, à época, artigos com opiniões as mais diversas, sobre o que ficou devidamente esclarecido no debate. O artigo mais infeliz de todos foi o artigo “O rádio só toca o que os ouvintes querem ouvir”, do senhor Rubens Campos, então diretor de mercado do Sistema Globo de Rádio que, ao tentar negar a existência do jabá, só conseguiu confirmar os altos interesses que estão por trás de quem paga e de quem recebe o jabaculê. Este senhor, saiu em defesa do pagode, do axé e do sertanejo-brega (todos, segmentos reconhecidamente praticantes do jabá), escrevendo a seguinte pérola: “São manifestações criativas de grupos da sociedade brasileira, que não tiveram oportunidade de acesso às escolas de música renomadas, não fazem parte da elite da zona sul do Rio ou dos jardins de São Paulo e são de uma geração que não abraçou causas políticas relevantes”. Ora, este senhor esqueceu, propositadamente, os artistas que têm o mesmo perfil social traçado por ele e, no entanto, não tocam nas rádios nem estão na tv porque o que fazem é música de qualidade estética, ética e cultural. No mesmo artigo, sem o menor pudor, justificava: “Os ouvintes pedem as músicas que viram na TV e os temas das novelas”. E ainda perguntava, na maior cara de pau: “Será que na TV e nas novelas também existe jabá?” Ora, tenha paciência… É esse tipo de gente que tinha as rédeas do mercado. São pessoas que estariam melhor situadas dirigindo uma fábrica de carros ou geladeiras, porém, nunca, jamais, em tempo algum, com o poder de interferir de forma tão nociva na música brasileira.

Houve um ponto que conseguiu unanimidade. Foi o entendimento geral de que a única saída para mudar o quadro seria o fortalecimento dos selos. À época, os selos eram a única porta aberta para os artistas que não se enquadravam nos padrões do mercado. Era, também, por meio deles que se podia chegar ao conforto da produção, distribuição e divulgação, prática comum às grandes gravadoras.

Música Ruim É Como Chifres

Finalmente, a questão da Internet e do MP3. A Internet como uma boa alternativa para comercialização de discos. A venda através da rede já se mostrava uma opção real. O formato MP3, que nada mais é do que a tecnologia de transferência de som pela Internet, já estava bastante difundido e provocava mudanças. Os executivos das grandes companhias de disco começaram a botar as mãos na cabeça. Pela primeira vez, estavam diante da possibilidade de a voz pertencer ao dono da voz.

Debates serão sempre bem-vindos e acabam sendo importantes, pois tornam-se fóruns legítimos para o exercício da democracia, gerando polêmicas saudáveis, que podem nos levar a refletir sobre questões e conceitos como o desta frase dita pelo Muri Costa: “Música ruim é como chifre. Botam na sua cabeça sem você querer.” Que, pelo menos, debates como aquele possam proliferar na proporção exata e necessária ao fortalecimento da boa música brasileira.

No +, MÚSICABOAEMSUAVIDA!!!

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