3 de dezembro de 2021 7:06 por Mácleim Carneiro
O mercado do show business era e ainda é sedutor e acenava com o ímã da ascensão rápida e glamourosa que, além da fama (o que é completamente diferente de reconhecimento), tem todas as vantagens financeiras e, para alguns, este é o fim capaz de justificar todos os meios. Uma vez que o artista resolve submeter-se à lógica dos departamentos de marketing, sua escolha, do ponto de vista artístico, tem que ser com a mínima possibilidade de erros. Do contrário, ainda do ponto de vista artístico, voltar atrás, posteriormente, será um passo ainda mais errado.
Quando o artista é talentoso e capaz de produzir uma obra que tenha merecimento artístico, porém, rende-se ao apelo da via fácil e torna-se conhecido através de uma obra de conteúdo apenas consumista e servil aos propósitos do mercado, fica extremamente difícil, depois, arrepender-se e dizer que foi engano, que se deixou iludir e essas baboseiras todas, que por mais que tente explicar não consegue convencer, pois o seu filme já estará queimado.
Como Diria Maiakovski
Tem também aquele que faz o processo inverso e, nesses casos, embora tenha um grau de resistência menor do público alvo (afinal, estará baixando o nível), ainda assim, ele terá sua credibilidade abalada e a perda do respeito, que havia conquistado, pois ficará evidente a picaretagem com fins mercadológicos. E aí não há como deixar de dar razão ao Maiakovski, quando escreveu: “Não se deve baixar o nível do poema, e sim elevar o nível das massas”.
Toda essa lógica, para mim, sempre foi bem clara e já vi ser estabelecida em diversos artistas, que não vale a pena citá-los. Contudo, poder observar e analisar a reação do público, com relação a esses movimentos de malandragem, tão de perto, como certa vez aconteceu no nosso aquário, foi bastante interessante. Refiro-me ao dublê de ator-compositor Maurício Mattar, que em 2014 baixou acusticamente na nossa praia. Em várias entrevistas, para a divulgação do seu show no teatro do Marista, ele fez uma espécie de mea-culpa, dizendo que a responsabilidade de ter se projetado como um latin-lover meloso era, em parte, das gravadoras e de sua ingenuidade. Dizia ainda que era um verdadeiro compositor de MPB, por sua real formação e citou até, como justificativa, ter estudado filosofia. E mais: apesar do seu disco, à época, ser o sétimo de sua carreira, o título era “Meu Primeiro Disco”, como se fosse o suficiente para qualificar a sua repentina guinada. Se tudo que ele falou era verdade, então ele era uma nova espécie de transgênico, ou seja, recebeu genes de outra espécie e sofreu alterações em seu código genético musical.
Nem Por Milagre
Bem, o fato é que o resultado prático desse engodo foi o fracasso de público nas duas apresentações do transgênico no aquário. Claro, não poderia ser diferente e isso sim era plenamente justificável. O público, que era fã do latin-lover, não foi porque não era muito chegado, nem tinha cabeça para o tipo de música que ele dizia fazer, à época. Já o público que ele pretendia convencer da mudança, simplesmente não acreditou, porque tinha embasamento musical suficiente para não ser enganado por esse tipo de conversa fiada. Para “arreMattar” esse samba do crioulo doido, a produção dos shows anunciava, para fazer a abertura dos mesmos, dois artistas locais, que tinham exatamente as características musicais que o mutante tentava renegar.
Subestimar a capacidade de avaliação do público, nunca foi atitude inteligente. Tentar mudar da água para o vinho, só se for milagre! Principalmente, quando não se tem cacife nem para vinagre. O entendimento desse mecanismo faz do artista, que é realmente comprometido com a sua verdadeira expressão, em momento algum abrir mão de sua essência e jamais correr o risco de pegar o bonde errado.
No +, MÚSICABOAEMSUAVIDA!!!