4 de janeiro de 2022 10:24 por Mácleim Carneiro
GRACILIANO EM VIÇOSA (Sidney Wanderley e Júlia Cunha)
O escritor e poeta Sidney Wanderley tem aprimorado a arte da equação das relações literárias equivalentes (o que me faz lembrar do seu maravilhoso poema Inequação), ou seja, sabe, com perfeição, ajustar sua prosa à prosa de outros autores sob o seu crivo. Sidney já havia usado esse artifício em ‘Notas Sobre Leituras’, lançado em 2018. Nele, teceu com absoluta maestria o que arrazoou sobre o que leu ao longo de dois anos, numa trama muitíssimo bem-urdida, entre autores de sua preferência, filtrados e peneirados na bateia singular do viçosense arretado!
Dessa vez, para deleite dos apreciadores de sua verve literária, o aedo sem lira, da beira do Paraíba, nos brindou com ‘Graciliano em Viçosa’, um livro imprescindível ao leitor atento ao que é bom! Escrito a quatro mãos, com a mestranda em literatura Júlia Cunha, Sidney amplia o foco sobre os 11 anos em que Graciliano Ramos viveu em Viçosa, numa pesquisa acurada e deliciosamente reveladora de personagens e coisas da meninice do ícone alagoano. Como se não bastasse o enfoque histórico, inclusive pondo em xeque alguns biógrafos do Mestre Graça, Sidney recheia os mais de 30 capítulos com causos geniais e divertidíssimos, onde o riso não carece ser contido e corre frouxo, por parágrafos de puro deleite!
De tal modo, generosamente, ficamos sabendo sobre as filmagens de São Bernardo, o filme de Leon Hirszman, rodado em Viçosa, que, para a nossa sorte e em prol da literatura caeté, ceifou definitivamente a pretensa carreira rumo a Hollywood, do nosso querido Sidney Wanderley. Porém, lhe proporcionou provar o néctar da vingança, não do diretor, mas do desdém dos colegas, que “momentaneamente tinham-se na conta de Maistroiannis e Delons”.
Preciosidades, como o artigo do folclorista José Aloísio Brandão Vilela, sobre o livro Caetés, que, por sua vez, gerou uma carta de agradecimento do Mestre Graça, estão entre os tesouros que encontramos em ‘Graciliano em Viçosa’. Como oferta final, temos o ensaio “O declínio da narrativa e a perda da experiência em Infância”, onde Julia Cunha, com o auxílio teórico do alemão Walter Benjamin, entre outros, amadurece a infância de ‘Infância’, o livro, numa narrativa quase que sem o visgo do quadradinho acadêmico. Por tanto, eis um livro para começar o ano inteligentemente! E, com a devida permissão do poeta, parafraseando versos do poema Inequação, eu diria: não se entra e sai deste livro, como se sai da amada: em nós algo se acrescenta, ou em nós algo há que falta.
No +, MÚSICABOAEMSUAVIDA!!!