11 de fevereiro de 2022 5:35 por Mácleim Carneiro
La pelos idos de 2013, um músico importante da cena alagoana me contou, decepcionado e num tom de desânimo, que havia conversado com um empresário alagoano, durante um vôo para São Paulo. Ao lhe perguntar se sua empresa (uma das maiores e, por certo, mais rentáveis imobiliárias de Alagoas) costumava investir em projetos culturais, obteve a seguinte resposta: “Investir em cultura não dá retorno!” Aí está a essência do pensamento da grande maioria do nosso empresariado. No caso específico, eis um cidadão que é também uma espécie de cariolítico para a célula da cultura local, carente de orientação e absolutamente desprovido de sensibilidade e visão social moderna. Provavelmente, é do tipo que investe altas quantias financiando campanhas políticas (agora por debaixo dos panos), que lhe possibilitarão vantajosas negociatas com verbas públicas, tornando duplamente dolosa sua atitude negativa diante dos anseios culturais.
Pois bem, quem sofre na pele o desgaste que acarreta esse tipo de desinformação e comportamento, são os artistas e os produtores culturais, que necessitam dos contratos de patrocínio para execução dos seus projetos. Por sua vez, e por tabela, o público deixa de ter bons espetáculos, todas às vezes em que o horizonte limitado pela omissão dos empresários fecha portas capazes de viabilizar boas idéias culturais. Por isso, poderemos avaliar o quanto há de heroísmo na realização dos espetáculos produzidos aqui no aquário e que proporcionam empregos diretos e indiretos, agregando valores econômicos e culturais a um número expressivo de pessoas.
A falta de sensibilidade para o entendimento destes valores, que qualquer produção cultural é capaz de agregar, demonstra, antes de tudo, que os empresários alagoanos, com raríssimas exceções, são de uma estreiteza cidadã e de uma total indiferença pela comunidade na qual estão inseridos. Principalmente, se considerarmos a sustentação econômica que está mesma comunidade lhes proporciona, consumindo produtos e serviços. A coisa evolui para um grau de analfabetismo funcional, quando são incapazes de perceber que, ao associarem a marca de suas empresas a um bom produto cultural, o retorno institucional positivo é tão forte, e com tal poder de fixação no imaginário do público consumidor, que extrapola o dimensionamento apenas pelo ponto de vista econômico. Como a parte superior e anterior do encéfalo dessas pessoas só deve funcionar à base de exemplos práticos – são incapazes do convencimento por meio da sensibilidade – que tal o exemplo da Petrobrás, nos governos do PT? Por mais absurdos que esta empresa cometa, a exemplo da agressão à natureza; tudo se dilui pelo grau dos investimentos, que eram cada vez maiores, em projetos culturais de qualidade, tornando-a uma empresa cidadã, na memória ativa do povo brasileiro. Certamente, sua marca estava associada positivamente aos produtos culturais e esportivos que ela patrocinava, e não aos acidentes ecológicos que, eventualmente, provoca.
Ao assistirmos qualquer espetáculo produzido aqui em Alagoas, aplaudamos com entusiasmo e como incentivo necessário aos artistas, não só pelo o que nos é proporcionado enquanto fruidores. Lá, no palco, não estaremos vendo apenas a garra de cada um, nem o resultado estético que conseguem expressar. Se quisermos, conseguiremos ver muito além do que a coxia pode esconder. Veremos o respeito ao público, na proporção inversa à ignorância e falta de sensibilidade daquele empresário pela sua cultura, nossos artistas e pelo povo alagoano. Mas, enfim, é mesmo raro o vôo em que o vizinho não seja um porre.
No +, MÚSICABOAEMSUAVIDA!!!!