3 de abril de 2022 8:03 por Mácleim Carneiro
Destilando todo o seu veneno preconceituoso, com sua língua de lagarto afiada, em 2009 Boris Casoy fez um comentário ácido, sobre os desejos de feliz ano novo, que dois garis gravaram para o jornal apresentado por ele na TV: “Que merda! Dois lixeiros desejando felicidades do alto das suas vassouras. Dois lixeiros! O mais baixo da escala do trabalho”, disse o âncora, antes de ser interrompido por uma voz que gritava ao fundo “deu pau!”, para avisar que o áudio estava indo ao ar.
A época, esse lamentável fato me fez lembrar outro, inversamente proporcional. Eu e o músico Jiuliano Gomes fazíamos uma pequena temporada no hotel Brienz, às margens do Lago de Constança, na Suíça alemã, e presenciamos uma cena maravilhosa. Pois bem, era verão e resolvemos almoçar no belo jardim, com vista para o lago e parte da rua onde se localizava o hotel. De repente, estaciona o caminhão de lixo e todos os “lixeiros”, fardados, desceram e se dirigiram para hotel onde estávamos. Normal e naturalmente, sentaram-se à uma mesa ao lado da nossa, tiraram suas luvas e foram servidos com a mesma deferência e gentileza com que nós (e os demais hospedes) estávamos sendo tratados pelos funcionários do hotel.
Fico imaginando o que faria o Boris Casoy numa situação dessas. Provavelmente, diria: “Isso é uma vergonha!”, e se jogaria nas águas geladas do lago. Quanto a mim, apenas ratifiquei o que eu já sabia: quanto mais humilde for a função do ser humano, mais digna de admiração e respeito deve ser. Além, claro, de ter sido inevitável uma comparação com o nosso país e suas esdrúxulas relações sociais.
Sorriso de Amizade
Em tempo: a primeira vez que cumprimentei o gari que limpa a rua pela qual eu passava todas as manhãs, após a minha atividade física no CAGB, ele quase não me respondeu, de tão espantado que ficara. No dia seguinte, insisti, dei bom dia e contei o que eu havia presenciado na Suíça, fazendo-o perceber a importância e dignidade do seu trabalho. E disse mais, se ele era invisível para a maioria das pessoas, elas não valiam a sua atenção. Depois disso, quando ele me via, abria um sorriso de amizade.
Ah, em tempo 2: No dia seguinte, após o seu infeliz comentário, Boris Casoy pediu desculpas no telejornal que apresentava. Porém, não o vi dizer: “Isso é uma vergonha!”. Por fim, em tempo 3: Foi uma delícia saber, tempos depois, que o Boris Casoy foi condenado pela justiça a pagar R$ 21 mil ao gari, alvo de seu infeliz e sórdido comentário.
No +, MÚSICAEMSUAVIDA!!!