segunda-feira 30 de dezembro de 2024

O golpe militar em Alagoas: prisões e torturas (Parte IV)

Dos primeiros registros de tortura em Alagoas, entre os presos políticos, o mais conhecido é o do líder sindical Rubens Colaço.

6 de abril de 2022 9:29 por Geraldo de Majella

 

Roland Benamor presidente do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), no dia 29 de março de 1964.

“Nós não perdemos o nosso passado. E o nosso futuro a história adiou. É escrevendo o que se viveu que se cria o passado. O passado é o pai da memória. E a memória é a mãe da História.” Dirceu Lindoso

As informações a respeito das prisões em Alagoas, entre 1964 e 1985, ainda não estão consolidadas. Algumas relações de presos os jornais publicaram nos primeiros meses de 1964, período em que se verificou o maior contingente de pessoas presas.

Os presos na cadeia pública de Maceió passaram por triagens. Muitos dos detidos sob qualquer pretexto ou acusação sem “justificativa” tinham sido vítimas de alcagüetes e foram soltos; outros responderam a Inquérito Policial Militar [IPM], sobretudo os dirigentes sindicais, trabalhadores rurais, operários, portuários, jornalistas, dirigentes comunistas, estudantes, proprietários rurais e comerciantes.
Quem era funcionário público e estava preso, era demitido, sem possibilidade de defesa. O historiador Dirceu Accioly Lindoso, funcionário do Departamento de Cooperativismo da Secretaria de Agricultura, tomou conhecimento de que havia sido publicada no Diário Oficial a sua demissão por ato do governador Luiz Cavalcante.

De uma das relações divulgadas pelos jornais constam as seguintes pessoas:

Alan Rodrigues Brandão, Alcides Correia do Nascimento, Amaro Bezerra Cavalcante, Antônio Pinheiro de Almeida, Antônio Saturnino do Nascimento, Auro Calazans de Albuquerque, Avelino Francisco da Silva, Cícero Martins de Oliveira, Dirceu Lindoso, Dorival de Araújo Lins, Eliezer Francisco de Lira, Ernande Maia Lopes, Etevaldo Dantas dos Santos, Etiene Pires de Melo, Gerson Ferreira de Souza, Gerson Rolim de Moura, Gilberto Soares Pinto, Jair Braga, Jayme Miranda, João Araújo, Jonas Paulino de Oliveira, Jorge Lamenha Lins (Marreco), José Alípio Vieira, José Cabral Irmão, José de Sá Cavalcante, José Gomes da Silva, José Gonçalves de Lima, José Graciano dos Santos, José Lopes da Rocha, José Moura Rocha, José Nunes de Almeida, Josenildo Ferreira, Luiz Gonzaga Alves, Luiz Silva Barros, Manoel Hermógenes Gomes da Silva, Manoel Lisboa Filho, Manoel Moreira da Silva, Maria Augusta Neves de Miranda, Marinete de Araújo Neves, Mário César Viana de Melo, Mário Correia da Silva, Mário Rodrigues Calheiros, Miguel Bertoldo da Silva, Ogelson Acioly Gama, Pedro Epifânio dos Santos, Petrúcio Lages, Renalvo Siqueira, Roland Bittar Benamor, Rholine Sonde Cavalcanti Silva, Rubens Colaço, Teófilo Alves Lins, Waldomiro Pedro da Silva e Valter Pedrosa.

Os últimos presos, soltos em fevereiro de 1965, oito meses depois do golpe, foram: o jornalista e secretário-geral do PCB Jayme Amorim de Miranda, o líder sindical bancário Roland Bittar Benamor, o advogado José Moura Rocha, o historiador e dirigente estadual do PCB Dirceu Accioly Lindoso, o líder sindical e dirigente comunista Rubens Colaço Rodrigues, o funcionário público José Alípio Vieira Pinto e o operário João Moura (Cotó).

Gerson Ferreira de Souza, Valter Pedrosa de Amorim, Mário César Viana de Melo e Petrúcio Lages, presos políticos, em julho de 1964.
Presos políticos: José Alípio Vieira Pinto, Rubem Ângelo, Valter Pedrosa, Petrúcio Lages, Teófilo Lins e Gerson Ferreira.

Dos primeiros registros de tortura em Alagoas, entre os presos políticos, o mais conhecido é o do líder sindical Rubens Colaço, torturado fisicamente pela equipe do delegado da Polinter Rubens Quintella. Colaço teve as unhas dos pés e das mãos arrancadas por alicates, foi submetido a sessões de afogamentos e à simulação de fuzilamento.

Os golpistas ocuparam as ruas centrais de Maceió. As manifestações de apoio ao golpe haviam acontecido no dia 29 de março, sob a liderança da Igreja Católica, à frente o arcebispo de Maceió, Dom Adelmo Machado. Engrossavam a passeata senhoras católicas e representações da elite política e econômica de Alagoas. Ao consolidar o golpe, sem que houvesse nenhuma reação, as mesmas forças sociais e econômicas voltaram às ruas, com entusiasmo ainda maior, como publica o jornal “Gazeta de Alagoas” na edição do dia 3 de abril, com a manchete de primeira página: “Maceioense festejou a vitória da Democracia”.

O arcebispo metropolitano Dom Adelmo Machado celebrou uma missa em ação de graças após a passeata que contou com o apoio das entidades representativas da indústria e do comércio. Tais entidades eram: o Movimento Democrático Feminino, colégios católicos, Conservatório Brasileiro de Música (secção Alagoas), Patrulha Nacional Cristã, Associação Comercial, Federação das Indústrias e Clube dos Lojistas.

Prisões no pós-64 aconteceram em 1968 na cidade de Água Branca, no povoado de Pariconha (hoje município). Um grupo de militantes da Ação Popular (AP) foi preso quando ainda se achava no processo de estruturação para a formação de quadros destinados à guerrilha rural.

Estavam entre os presos o dirigente nacional da AP e ex-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Aldo Arantes, Gilberto Franco Teixeira, ex-dirigente da UNE-Goiás, Maria Auxiliadora Arantes, Rosa Teixeira e três crianças, filhos dos dois casais. Também foram presos os camponeses José Correia, Josué Correia, José Gomes Novaes e José Quintino.

Em Maceió foi presa a assistente social Maria Lúcia Ferreira, levada para o presídio feminino na cidade de Pilar (AL), onde ficou alguns meses. Ao ser solta, passou a viver na clandestinidade em Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, e só reapareceu em Alagoas após a anistia, em 1979.

O estudante de engenharia e professor Ronaldo Lessa foi preso em dois momentos, em 1969 e em 1971. Foi processado e absolvido na 7ª auditoria militar em Recife. O presidente do Diretório Central dos Estudantes da UFAL, Jailson Boia Rocha, estudante de engenharia, havia sido preso a primeira vez em 1964; em 1970 é preso pela segunda vez, afastado do DCE, enquadrado na Lei de Segurança Nacional (LSN) e condenado a seis meses de reclusão, pena cumprida na Penitenciária São Leonardo, em Maceió.

Os militantes do Partido Comunista Revolucionário (PCR), estudantes, profissionais liberais, parentes e amigos foram presos pelo Exército em 1973, em Maceió. Foram eles: os irmãos Denis e Breno Jatobá Agra, os irmãos Jeferson e Fernando Barros Costa, Denisson Cerqueira Menezes, Norton de Morais Sarmento, Flávio Lima e Silva, Hélia Mendes, Luiz Barros Nogueira, Maria Helena da Silva, José Mário Cavalcante e Vera Costa.

As pesquisas a serem realizadas na imprensa alagoana, na 7ª Auditoria Militar e no setor de cartório da Polícia Federal, revelarão o número exato e as circunstâncias em que foram presos durante a ditadura civil-militar.

Fontes:
Majella, Geraldo de. Rubens Colaço: Paixão e vida – A trajetória de um líder sindical. Recife, Edições Bagaço, 2010.
Ticianeli, Edberto. Especial para o “Repórter Alagoas”, 31 de março de 1964.
Silva, Amaro Hélio Leite da. Serra dos Perigosos – Guerrilha e índio no sertão de Alagoas. Maceió, Edufal, 2007.
Oliveira, José Alberto Saldanha de. A Mitologia Estudantil, Uma Abordagem sobre o Movimento Estudantil Alagoano. Maceió, Secretaria de Comunicação Social do Governo de Alagoas/Sergasa, 1994.

 

 

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