sábado 23 de novembro de 2024

Crime anunciado (Parte II)

O resultado é uma desigual ocupação do espaço, aliado aos fatores sociais, a falta de investimentos nas cidades da Zona da Mata.

1 de julho de 2022 12:03 por Mácleim Carneiro

 

 

Eu era criança, lá em Murici, e lembro bem da catástrofe que se abateu sobre São José da Laje em 1969. Todas as cidades ao sul da Laje, no curso do rio Mundaú, sofreram enchentes que provocaram perdas e danos. E o que foi e é feito preventivamente nessas cidades desde então? Nada! Absolutamente nada! Portanto, o que vimos em 2010 foi mais um crime anunciado. É evidente que, se existe crime, há que haver vítima(s) e malfeitor. Faz-se desnecessário dizer a quem cabe os respectivos papeis em Alagoas. Aliás, como sempre acontece nesses casos, é bem mais fácil apontar a natureza e os fenômenos naturais, como cangaceiros celestiais a serviço de um Deus entrópico. Mas não é bem assim. Como mostrou uma nota pública da Associação dos Geógrafos Brasileiros, AGB, seção Recife, à época.

A nota esclareceu que:

“Ao longo de vários anos, a monocultura da cana de açúcar transformou o espaço da Zona da Mata do Nordeste, em um espaço de “confinamento da pobreza” e degradação das relações sociais. O latifúndio da cana, não só deteriorou as condições sociais dos trabalhadores ao longo de vários anos, como também causou graves crimes ambientais, dentre eles, a completa destruição da Mata Atlântica e das matas ciliares, alteração de leitos de rios e seus afluentes, construções de barragens e diques, poluição dos cursos d´água, corte de encostas e muitos outros crimes. Assim, o resultado é uma desigual ocupação do espaço, aliado aos fatores sociais, a falta de investimentos nas cidades da Zona da Mata, bem como a não existência de uma articulada rede de prevenção de catástrofes naturais no território nacional.”

Bom Exemplo

Abro aqui um parêntese, para uma historinha na qual suponho ser um bom exemplo, que poderia ser seguido Mundaú acima. Certa vez, eu e os músicos que estavam em turnê comigo, ficamos alojados em um abrigo antiaéreo, construído durante a Segunda Guerra Mundial, em Montreux, Suíça. Os hotéis estavam lotados e iríamos fazer duas apresentações no Montreux Jazz Festival Off. Pois bem, fiquei impressionado com o estado de conservação do abrigo e seus equipamentos. Perguntei se era usado com frequência. Disseram-me que não, só em casos especiais como aquele. Tinha sido uma solicitação da organização do festival, que é um evento significativo para a cidade de

Mas, como esse fato pode servir de exemplo? A princípio, pode parecer que absolutamente nada se encaixa com a tragédia de 2010. Porém, levando-se em consideração que uma nova guerra mundial independe de fatores climáticos sazonais, que uma guerra é algo bastante cognitivo e que o fim da Segunda Guerra Mundial foi em 1945, ou seja, há 77 anos, podemos concluir que: a manutenção em perfeito estado de conservação daquele abrigo, em um país que se manteve neutro durante as guerras, é um admirável exemplo de organização preventiva. Exatamente o oposto do que acontece aqui, com as nossas catástrofes anunciadas, ano após ano.

No +, MÚSICABOAEMSUAVIDA!!!

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