quarta-feira 4 de dezembro de 2024

A hora decisiva

19 de dezembro de 2022 5:29 por Roberto Amaral

O ex-presidente Lula em meio a uma multidão | Ricardo Stuckert

Ao que tudo indica, a ansiada eleição de Lula é já um fato inafastável. A dúvida é se ela se dará no segundo turno, ou já no primeiro. Enquanto o ex-presidente cresce na aceitação eleitoral, segundo a unanimidade das pesquisas, seu adversário dá sinais de estagnação, e mesmo de pequeno recuo. Os que observam o processo político-eleitoral concluem que o capitão terá alcançado seu teto; e, nele estacionado, irremediavelmente perderá na eventual idade de um  segundo turno, por larga diferença. E tende a perder no primeiro, o que é a melhor alternativa para o país,  ainda que se dê por margem estreita.

É nesta alternativa que devemos apostar todas as fichas. No que valem as análises e as previsões dos especialistas, a distância entre haver ou não segundo turno está na chamada margem de erro dos tantos institutos de pesquisa, ou seja, algo próximo de 2%, indicando que Lula pode vencer com 51/52% do total dos votos; diferença que se consolida na medida em que cresce o apoio que vem conquistando junto ao eleitorado de centro e centro-direita (rótulo que abriga os ditos liberais e a moribunda socialdemocracia paulista, além de setores empresariais assustados), antes infenso à sua candidatura. Qualquer que seja a vantagem de Lula, porém, na primeira ou segunda rodadas, sua vitória será questionada pelo capitão, suas hordas e seitas de seguidores, civis, militares e milicianas. A conspiração que aparentemente havia entrado em recesso já volta à lida, é cogitada e anunciada sem reservas, e mais cresce na medida em que a derrota do ainda presidente toma as cores da irreversibilidade. Esta semana, pois,  nos reserva muita tensão, a busca final pelo voto e a preparação para enfrentar a bulha que a choldra governante anuncia. Será decisiva para a democracia. Nela, portanto, devem se concentrar todas as atenções das forças democráticas.Até aqui a tática do comando da candidatura popular parece exitosa, pois, atraindo o voto conservador, tende a assegurar a vitória no primeiro turno, necessária por todas as razões. A política de frente ampla é sempre o melhor caminho para derrotar a promessa autoritária. Nos anos 1920/1930 ela foi abandonada pela esquerda e pela socialdemocracia na Itália e na Alemanha, com as consequências conhecidas.

Neste 2022 foi novamente escanteada na Itália, asfaltando o caminho que alçou a extrema-direita ao poder. Nos anos 1980 e seguintes foi a política de frente que apressou o fim da ditadura militar instalada, entre nós, em 1° de abril de 1964. Em 1985 tornou possível implodir o colégio eleitoral inventado para assegurar a eleição do delfim da ditadura, e em 1988 elegemos uma Constituinte que costurou o pacto social hoje sob o ataque bolsonarista. Ao tempo em que derrota o continuísmo do projeto neofascista, a frente de hoje condena ao fracasso a promessa de tumulto pós-eleitoral, embora muita água ainda seja aguardada para passar por debaixo da ponte até a posse de Lula, em 1° de janeiro de 2023.Está de tal sorte degradada a política brasileira, o cenário que se começou a montar a partir do golpe de 2016, que a necessária vitória de Lula ainda não será o ponto de chegada. As eleições serão contestadas (esse expediente, aliás, é o cavalo de batalha do ainda presidente), não haverá transição civilizada de poder, o governo Lula – a braços com  condições econômicas e geopolítica s  adversas; o desarranjo da economia nacional e a desestruturação do aparelho estatal; a guerra OTAN x Rússia; inflação nos EUA e na UE; queda do crescimento  da China – enfrentará, ainda, a oposição renhida do extremismo de direita, a má vontade das forças armadas partidarizadas, a eterna desconfiança do grande capital e, principalmente, a oposição de um Congresso no qual está condenado a ser minoritário.

Não se trata de um Congresso qualquer, pois esse sob o qual Lula governará, dominado que pelo que se chama de “centrão”, controla nada menos que 50% do orçamento da União e vimos, em 2015 (quando não foi cedido a Dilma o direito de governar) e 2016 (com o impeachment) , o que pode fazer contra um governo que eleja como adversário a ser demolido. Principalmente quando a Câmara dos Deputados é chefiada por um meliante.País que alimenta uma das mais pornográficas concentrações de renda do planeta, um dos maiores índices de pobreza, desemprego e fome, vivemos mascarada luta de classes que no entanto se revela, para quem quiser ver, na disputa Lula x Bolsonaro. Se o capitão vem liderando as sondagens de intenção de voto e crescendo de quatro a seis pontos nas faixas de renda superiores a dois salários mínimos, Lula abre 33 pontos entre os brasileiros que percebem até dois salários mínimos. Trata-se, evidentemente, da manifestação eleitoral do conflito essencial, incontornável, entre os poucos brancos e ricos do vértice da pirâmide social  e as grandes massas, o “povão”, a esmagadora maioria dos sem renda e dos assalariados de baixa renda,  estes, cerca de 70% dos trabalhadores brasileiros.A eleição de Lula coloca-se, pois, como uma necessidade histórica, e seu governo como uma potencialidade que, porém, poderá ser frustrada, como foram o projeto de reformas de João Goulart e o governo Dilma. Por isso, é fundamental, como ponto de partida, ganhar e ganhar bem, vencer as eleições no dia 2 de outubro, e por uma boa margem de votos. Assim, terão sido oferecidas as bases para uma posse, por assim dizer, tranquila. E se conseguirmos nos organizar no pós-pleito, se conseguirmos transformar a alegria eleitoral em organização popular, poderemos salvar o governo, no limitadíssimo sentido de garantir a incolumidade do mandato, conscientes de suas limitações políticas e ideológicas decorrentes da camisa de força imposta pela correlação de forças. Na política, como se sabe, não existe almoço grátis (sequer cafezinho, acrescentam alguns).Ocorre que estamos ameaçados de, podendo assegurar a eleição de Lula, não oferecer-lhe o apoio congressual necessário para governar, na medida em que o voto no presidente não se reflita no voto em parlamentares comprometidos com a sustentação de seu programa. A este propósito as antevisões não são animadoras. Segundo pesquisa revelada pelo Valor 28/9/2022) , num colégio de 513 deputados federais, os partidos que hoje apoiam a candidatura de Lula devem conquistar 130 cadeiras, e a coligação bolsonarista, 167.

Essas eleições, por sinal, marcarão a provável reeleição de mais de 300 dos atuais deputados, uma das mais baixas renovações desde 1986. E a atual legislatura, que assim parece sobreviver no que tem de pior, é certamente a mais reacionária de quantas tivemos após a redemocratização. O maior partido da Câmara será o notório PL, a agremiação ocupada por Bolsonaro e presidida por ninguém menos que Valdemar Costa Neto. É sempre bom lembrar que qualquer presidente, para governar, precisa de maioria nas duas Casas do Congresso. Para evitar o impeachment precisa de 171 votos (um terço da Câmara), o que não tivemos em 2016. Deu no que deu.Nesta reta final, sem esquecer o projeto fundamental que é a eleição de Lula, precisamos investir na conquista de votos para os candidatos dos partidos que o apoiam e que se comprometem com a sustentação de seu governo. Para o bem e para o mal, dizem as pesquisas, permanece relativamente alto o índice de eleitores que ainda não fixaram seu voto para deputado federal. É a hora de garimpar o  voto dos indecisos e conquistar os que, de boa fé,  ainda acreditam na viabilidade de uma terceira via numa eleição polarizada entre democracia e dita dura, civilização me barbárie.

***

Um voto necessário – Na legislatura que se encerra destacou-se um jovem parlamentar fluminense, pela sua coragem, seu destemor, sua firmeza no combate à extrema-direita, sua vocação socialista e o empenho em fazer de seu mandato instrumento de organização popular. Refiro-me ao deputado federal Glauber Braga (5080). Votei nele nas últimas eleições e, com tranquilidade e confiança, vou renovar meu voto. É uma das formas que encontrei para ajudar o futuro mandato do presidente Lula, que vai carecer de apoios firmes. Para o Senado, com o mesmo objetivo de sustentar o governo Lula,  votarei  em Alessandro Molon (400). Se  votasse em São Paulo, teria a honra de ser eleitor dessa brava amiga e companheira que é Luiza Erundina (5021).

Candidaturas recomendadas pelo MST – O MST recomenda as seguintes candidaturas a deputado federal: Maranhão: Vânia 1333; Bahia: Valmir 1310;  Sergipe: João Daniel 1311; Distrito Federal: Ruth Venceremos 1361; Goiás: Valdir do MST 1311; Rio Grande do Sul: Marcon 1355; Rondônia: João Abelhão 6565 e Paraíba: Coletiva nossa voz 1355.

Desta vez não apoiamos o golpe – Depois dos sinais de simpatia trazidos pelo emissário de Joe Biden, o Senado dos EUA aprova, por unanimidade, Resolução apresentada pelo democrata Bernie Sanders e outros, recomendando o rompimento das relações diplomáticas com o Brasil na hipótese de o capitão e suas fileiras conseguirem dar um golpe. Comenta o professor Manuel Domingos Neto: “Esta decisão tranquiliza, mas me deixa cabreiro”.

De novo a tragédia cubana – Estendo meu aperto de mão, meu abraço fraterno ao bravo e sempre injustamente sofrido povo cubano, que, solidário com todos os pobres do mundo, não conhece a nossa solidariedade em momento de tão grandes dificuldades.  Após a passagem devastadora do furacão Ian, Cuba conta a s  perdas humanas e grande prejuízo material, a começar pela destruição de sua  rede elétrica. O mínimo a que podemos aspirar é que a partir de 2023 seremos um país solidário com nossos irmãos.

*Com a colaboração de Pedro Amaral
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