quinta-feira 19 de setembro de 2024

O avanço do conservadorismo em Maceió tem explicação?

Cidade é a única capital nordestina onde Bolsonaro venceu Lula nos dois turnos da eleição presidencial

19 de dezembro de 2022 4:41 por Geraldo de Majella

Bolsonaro durante ato em Maceió | Pedro Ferro/TV Gazeta

Maceió foi a única capital nordestina em que Bolsonaro (PL) venceu Lula (PT) nos dois turnos da eleição presidencial. No 1º turno, o candidato à reeleição teve 49,59% dos votos e o ex-presidente, 40,43%. No 2º turno, Bolsonaro subiu para 57,18% e Lula para 42,82%.

Em números absolutos no 1º turno Bolsonaro teve 240.053 votos na capital alagoana, contra 195.714 de Lula, uma diferença de 44.339 votos, ou de 9,16% dos votos válidos. No 2º turno, Bolsonaro  obtém 273.549 votos e, Lula, 204.887, ampliando a diferença para 68.662 votos, ou seja, 14,36 % em favor de Bolsonaro.

Os candidatos bolsonaristas a deputado federal vincularam as suas campanhas à candidatura presidencial e foram bem sucedidos em Maceió. Este é o caso de Alfredo Gaspar (57.235 votos), Dr. JHC (50.733), Delegado Fábio Costa (40.071), Arthur Lira (15.662), Marx Beltrão (9.182), Flávio Moreno (8.581), Eduardo Canuto (7.551), Siderlane (6.378) e João Catunda (6.054). Somados, esses candidatos tiveram 201.447 votos.

Os candidatos a deputado estadual bolsonaristas também foram bem votados, a exemplo do Cabo Bebeto (31.527), Delegado Leonam (28.849), Rose Davino (18.647), Francisco Sales (16.265), Mesaque Padilha (13.766), Lelo Maia (12.979), Delegado Thyago Prado(10.342), Davi Maia (8.461), Dra. Sâmea (6.786) e Henrique Chicão (4.545). No total, eles conseguiram 152.167 votos no Paraíso das Águas.

Na cidade, o deputado estadual e candidato a senador Davi Davino Filho teve 238.893 votos e superou o ex-governador Renan Filho, que teve 159.492 votos, uma diferença de 79.401 votos.

Davi Davino Filho venceu Renan Filho em Maceió | Divulgação

Fernando Collor, sabendo que não teria chances de vencer para o Senado, lançou-se candidato a governador, declarou-se e fez campanha para Bolsonaro. A votação de Collor de 92.747, ou 27,16%, ajudando a candidatura de Bolsonaro em Maceió.

As divergências e atropelos impediram a formação de um bloco único bolsonarista, e a candidatura de Fernando Collor foi isolada pelo deputado Arthur Lira, o patrocinador e principal fiador da candidatura ao governo de Alagoas do senador Rodrigo Cunha.

A candidatura ao senado de Davi Davino Filho, também patrocinada por Arthur Lira, foi lançada como um contraponto a Renan Filho e, sobretudo, para atrair votos em Maceió o que de fato aconteceu.

Apesar das administrações do ex-governador Renan Filho terem sido bem avaliadas, no entanto no confronto direto, ele não conseguiu, em Maceió, vencer o seu oponente, Davi Davino Filho.

O desempenho do governo

O atraso na formação das chapas proporcionais, a migração de candidatos do MDB para o UB e PP dificultaram a formação de um bloco mais forte para enfrentar a tropa de choque bolsonarista.

O resultado que emergiu das urnas tem a marca das obras do governo estadual nos bairros periféricos de Maceió, mais que a força e o enraizamento das candidaturas proporcionais.

Paulo Dantas venceu com apoio de Renan Filho | Divulgação

A abrangência das obras, a avaliação positiva do governo, a presença do ex-governador Renan Filho no palanque e nas ruas e, sobretudo, a vinculação da campanha de Paulo Dantas à candidatura Lula foram fatores decisivos na eleição em Alagoas.

Os atropelos tidos como quase instransponíveis durante a campanha eleitoral, como o afastamento do cargo de governador, a exposição negativa no horário gratuito de rádio e televisão, nas redes sociais e na mídia em rede nacional, não foram suficientes para derrotar o governador Paulo Dantas, que obteve sobrevida política quando o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu pelo seu retorno imediato ao cargo, uma vitória política significativa, deixando de sangrar venceu os adversários nas urnas no 1º e no 2º turno.

Nesta eleição, o deputado federal Paulão (PT) foi reeleito com 28.408 votos, sendo o puxador de votos do grupo governista. Em seguida, vêm Rafael Brito (15.124), Silvana Barbosa (10.247), Luciano Amaral (9.937), Maurício Quintella (8.386) e Isnaldo Bulhões (5.415). Estes nomes são os mais expressivos totalizaram 77.517 votos.

Na chapa para deputado estadual o mais votado é Alexandre Ayres, com 23.362 votos. Os demais são Dudu Ronalsa (12.604), Brivaldo Marques (11.786), Galba Novaes (11.628), Dr. Wanderley (11.257), Flávia Cavalcante (11.124) e Léo Loureiro (10.458), Ronaldo Medeiros (9.612) e Marcelo Victor (7.968), entre outros nomes, que somaram 109.799 votos.

Obra na periferia impactam na votação | Divulgação

Maceió conservadora

As hipóteses levantadas logo após o resultado eleitoral apontam Maceió como uma cidade conservadora e, quem sabe, no curto prazo, transformada em território dominado pelo  bolsonarismo na região Nordeste.

A ampliação da percepção de que o eleitor tem votado em candidatos conservadores ou reacionários é um dado de realidade. Esse contingente de pessoas, a maioria excluídas e moradoras dos bairros periféricos, tem encontrado nesse tipo de candidatura uma identificação.

No caso concreto, os principais puxadores de votos são policiais ou ex-agentes públicos que trabalham o discurso do ódio e da violência como instrumento de “defesa” da população vulnerável, em muitos casos, emparedada entre o trafico e esse tipo de político beligerante.

Nas duas últimas eleições, em 2018 e 2022, Bolsonaro venceu nas urnas Fernando Haddad e Lula. Porém, a história pode mostrar que é cedo para usar esse dado e definir Maceió como uma cidade politicamente conservadora.

Não faz muito tempo, a cidade era o principal ponto de resistência às candidaturas apresentadas pela ditadura militar, há 35  ou 40 anos. É muito tempo? O que dizer da cidade que elegeu Ronaldo Lessa, o primeiro prefeito socialista em sua história? Na eleição seguinte elegeu e, em seguida, reelegeu uma mulher, também, socialista, a prefeita Kátia Born?

Esse grupo político ficou no poder durante doze anos administrando a cidade com um amplo bloco de partidos de perfil de esquerda e de centro. Não é razoável excluir esses fatos da análise.

Kátia Born e Ronaldo Lessa | Blog do José Elias

Alagoas, nesse mesmo período, elegeu e reelegeu Ronaldo Lessa governador de Alagoas, foram oito anos no poder estadual. Esses dados servem como reflexão e para suscitar a discussão. Voltemos a 2022.

A execução do Orçamento Secreto e o milionário Fundo Partidário, no caso alagoano, coordenado pelo deputado Arthur Lira, não deve ser tratado como algo secundário ou banal na disputa eleitoral.

O discurso antipetista, anticorrupção, associado à avalanche de Fake News disparadas contra a candidatura de Lula, serve como base para análise pós-eleição. Faz parte do conjunto de adversidade enfrentada na disputa eleitoral.

A compra explícita e desenfreada de votos na capital e, também, no interior, ganhou uma dimensão nunca vista ou percebida mesmo por políticos veteranos. Esse fato desequilibrou a disputa com o abastecimento de extraordinários volumes de recursos públicos destinados a candidaturas que em situação normal de pressão e temperatura não alcançariam êxito como alguns alcançaram.

O voto bolsonarista

É lugar-comum dizer que cada eleição tem a sua dinâmica própria e candidatos que, em grau maior ou menor, atraem a simpatia da população. A mensagem política da campanha de Lula no Nordeste foi um instrumento forte de mobilização popular na região constituindo-se em ondas que às vezes surgiram quase que espontaneamente em cidades pequenas e médias de Alagoas e em outros estados nordestinos.

Foto: Secom Maceió

Esse tipo de ação de massas não aconteceu em Maceió, pelo menos, na proporção que aconteceu em outros locais. Identificar as causas desses fatos é importante para a compreensão do que ocorreu, eleitoralmente, nos bolsões periféricos de Maceió.

Encontrar uma explicação no conservadorismo é pouco e reduz a possibilidade de entendimento do fenômeno político eleitoral. Também, sacar como um argumento forte a compra pura e simples de votos é argumento igualmente insuficiente para explicar uma realidade tão diversa.

A compra de votos funciona com relativa eficiência nas eleições proporcionais, mas, para eleições majoritárias, é impossível pelo volume de recursos a ser desembolsado. Essa opinião é formada a partir de entrevistas realizadas com políticos experientes.

O senso comum indica que o eleitor situado na faixa de vulnerabilidade negocia o seu voto e até, se for o caso, da família para as candidaturas proporcionais, mas, os votos majoritários o eleitor define de acordo com outros interesses.

A proteção social, através de políticas públicas, a esperança em melhores dias para os seus filhos e descendentes e a possibilidade de ser incluído em programas de renda do governo federal, entre outros fatores pesam na escolha do eleitor. Esse cidadão, rebaixado à condição de analfabeto e até venal, entende que é o governador e o Presidente da República que podem executar essas políticas públicas.

Por que os eleitores de Maceió, não se referindo apenas aos excluídos socialmente, optaram por Bolsonaro e não por Lula? Procurar entender a dinâmica eleitoral e o que se passou na campanha que destoou das demais capitais nordestinas é importante. O problema é complexo e não pode ser explicado através de argumentos simplistas ou rasos.

O peso eleitoral do prefeito de Maceió, JHC, que tem uma administração bem avaliada, gostemos ou não, é um dado da realidade. O deputado Davi Davino Filho, Fernando Collor, Arthur Lira e mais o bloco bolsonarista que emergiu das urnas devem ser melhor analisados para entender o resultado das eleições na capital.

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