16 de julho de 2024 11:29 por Magno Francisco
Magno Francisco é filósofo e historiador
O partido Unidade Popular — UP será o representante da esquerda na disputa a prefeitura de Maceió. O nome escolhido é o da jornalista Lenilda Luna. A decisão ainda será homologada em convenção, mas já conta com o apoio integral de todas as instâncias de direção do partido e a aprovação da base em encontro eleitoral realizado com a finalidade de discutir a estratégia eleitoral do partido.
É inegável que os efeitos do neoliberalismo (na sua versão fascista ou democrática) e a polarização nacional entre bolsonarismo e lulismo tem repercussões em Alagoas. João Henrique Caldas — JHC (PL), atual prefeito de Maceió, é o candidato do bolsonarismo. Rafael Brito (MDB) é o candidato de Paulo Dantas, Marcelo Vitor (presidente da Assembleia Legislativa), da família Calheiros e, ao que tudo indica, será o candidato do presidente Lula, já que, segundo a imprensa local, o diretório nacional do PT preteriu o pré-candidato da sua sigla, Ricardo Barbosa, para apoiar o candidato do MDB.
Assim, a disputa entre o candidato do bolsonarismo e o candidato do lulismo repetirá a disputa entre as antigas oligarquias do Estado pelo controle da prefeitura de Maceió. É preciso lembrar que o apoio de setores da esquerda alagoana (PT, PC do B, PDT) ao MDB não é novo, trata-se de uma aliança antiga com a família Calheiros.
JHC, que instrumentaliza muito bem as redes sociais e as diversas modalidades de comunicação, assume um perfil de bolsonarista soft, ao estilo Tarcísio de Freitas (PL), governador de São Paulo. Mas, em que pese a capacidade de propaganda, carrega um acordo bilionário com a Braskem.
Tal acordo representou uma espécie de anistia para os crimes cometidos pela empresa, além de uma espécie de compra de uma parte da cidade. Enquanto isso as vítimas seguem abandonadas a própria sorte. Mas não é apenas sobre a Braskem que o atual prefeito de Maceió terá que se explicar. A imprensa tem repercutido acusações de superfaturamento em obras e contratos milionários injustificáveis.
Mais grave é a situação social da população mais pobre da cidade. Maceió é a capital que tem a pior qualidade de vida entre as capitais do Nordeste, sendo a terceira pior entre todas as capitais do país. O saneamento básico é uma quimera para quase 60% da população, as escolas sofrem sem climatização, merenda precária e falta de educadores, os postos de saúde seguem com poucos médicos, dificuldades imensas para a marcação de consultas e exames básicos, além da falta de remédios.
É evidente que as regras eleitorais evidenciam os limites da democracia liberal. A UP não terá tempo de TV, muito menos fundo partidário. Porém, sem compromisso com as oligarquias e apresentando a única candidatura da esquerda a prefeitura de Maceió, a UP poderá conseguir um importante protagonismo durante o processo eleitoral.
Para isso, a UP deve demonstrar minuciosamente o caos provocado pelo prefeito bolsonarista, mas não somente, através da sua candidata Lenilda Luna, precisa pautar o debate público e apresentar um conjunto de propostas ousadas para eliminar o drama social provocado pela burguesia na cidade.
Em um cenário onde os ecos do neoliberalismo são sentidos brutalmente pelos mais pobres, em que a disputa pelo poder está nas mãos das antigas famílias burguesas e a violência impera, que tipo de reconhecimento os trabalhadores e oprimidos podem obter?
Precisamente tudo o que o povo precisa para ter uma vida digna é exatamente tudo o que a burguesia não deseja e o seu sistema social impede. Escancarar essa realidade e exigir o impossível até se tornar inevitável é a principal tarefa da Unidade Popular. Afinal, como ensinava Marx: só quem reconhece que nada tem a perder pode ter um mundo a ganhar.