quarta-feira 9 de abril de 2025

Parte 2: A falta de planejamento em Maceió e a crise urbana

Sem planejamento integrado, Maceió enfrenta degradação ambiental e urbanística, enquanto a população aceita o mínimo
Panorama de Maceió

Por Dilson Ferreira*

1. Ausência de Planejamento Integrado

A ausência de planejamento vai além da mobilidade. Maceió carece de um planejamento integrado que abarque áreas cruciais para o desenvolvimento urbano sustentável. A cidade ainda não tem um plano diretor efetivamente aprovado, tampouco conta com um plano de arborização ou um plano climático para enfrentar os impactos das mudanças climáticas. Também não existem planos claros para a revitalização da orla lagunar e o desassoreamento das lagoas, o que impede a implementação de políticas coordenadas para garantir o desenvolvimento sustentável e o bem-estar da população.

Orla lagunar

2. A Fiscalização em Áreas de Sensibilidade Ambiental

A falta de fiscalização sobre construções em áreas de sensibilidade ambiental, como as restingas, é outro problema alarmante. Não basta apenas punir as construtoras que atuam ilegalmente nessas áreas. É necessário ir além e entender por que os profissionais de arquitetura e urbanismo estão participando e aprovando essas obras. É fundamental investigar as motivações por trás dessas decisões e as lacunas no sistema que permitem a construção de grandes prédios em áreas que deveriam ser protegidas. Uma abordagem mais profunda deve ir além das sanções e buscar corrigir as falhas estruturais que levam à degradação ambiental.

Ocupação das áreas de preservação com condomínios fechados no norte de Maceió

3. A Imposição dos “Barões de Hausmann” Alagoanos, que querem ditar um urbanismo degradador do meio ambiente.

Nesse cenário, vemos uma minoria de agentes imobiliários que influenciam o mercado local — espécies de “Barões de Hausmann alagoanos, promotores de um urbanismo destruidor da natureza” —, ditando o futuro de Maceió sem qualquer base técnica ou científica. Suas decisões são tomadas sem estudos adequados de viabilidade econômica, ambiental ou social, sendo guiadas apenas por opiniões e interesses próprios. Esses agentes têm uma visão limitada e impõem um modelo urbano que não considera as reais necessidades da cidade e sua população, comprometendo o futuro de uma cidade tão rica cultural e ambientalmente como Maceió.

Caricatura do barão Georges Eugene Haussmann (1809-91) como um companheiro de construtores, c.1870

4. Manutenção Básica: Reformas de Praças e a Comparação com o Central Park

Além disso, estamos vivendo um momento em que reformas de praças estão sendo celebradas como grandes feitos. Quando, na verdade, essas obras de manutenção, que deveriam ser uma obrigação básica da gestão pública, estão sendo comparadas a feitos de proporções exageradas, como se a recuperação de uma praça fosse comparável ao “Central Park”. Esse tipo de comparação demonstra como a população foi educada a aceitar o mínimo, enquanto questões maiores e mais urgentes, como a mobilidade urbana e a situação dos “refugiados do afundamento dos bairros nos Flexais”, continuam sendo ignoradas. A sociedade se conforma com o básico, enquanto muitos bairros e áreas da cidade permanecem abandonados, e o corte indiscriminado de árvores e a destruição ambiental são naturalizados.

5. O Papel dos Cursos de Arquitetura e Urbanismo

Os cursos de Arquitetura e Urbanismo no Estado de Alagoas, junto com seus professores, precisam fazer uma autocrítica e repensar sua atuação. É necessário sair dos muros da universidade e levar o debate sobre a vida urbana para o espaço público, educando a população e promovendo um urbanismo mais consciente e inclusivo. O futuro de Maceió não pode ser construído apenas por agentes imobiliários ou interesses particulares. Ele depende de uma visão coletiva que valorize o bem-estar de todos os cidadãos e respeite o meio ambiente e a cultura local.

Vista do avanço do mercado imobiliário da restinga subindo os morros e indo em direção oeste da cidade

6. Conclusão

A falta de planejamento urbano integrado é uma das principais razões para o agravamento dos problemas que afetam Maceió. Sem uma visão coordenada e responsável para o desenvolvimento da cidade, os desafios sociais e ambientais continuarão a crescer. A cidade precisa urgentemente de um novo caminho, baseado em um planejamento que respeite as necessidades de sua população, proteja seus recursos naturais e valorize sua rica identidade cultural. Só assim Maceió poderá se tornar uma cidade mais inclusiva e sustentável.

Precisamos de educação urbana !

*É arquiteto, urbanista e professor da Ufal.

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4 Comentários

  • Professor Dilson Ferreira parabéns pela análise bem construída da interrelação entre o concreto e a preservação ambiental, nas áreas mais frágeis da cidade de Maceió.
    Maceió não foi planejada, mas, poderia ao menos ter um plano diretor que protegesse das áreas mais mais frágeis como a mata atlântica e Zeus biomas associados (restingas, dunas e manguezais) além de fazer um recuo das novas construções de prédios de pelo menos 300 metros da preamar.
    Robson Araújo
    Eng. Agrônomo
    Esp. Recursos Hídricos e Meio Ambiente.

  • Onde encontro a Parte 1?

  • A falta de uma gestão comprometida com políticas públicas no passado está causando todos estes transtornos. Felizmente, temos, hoje, um gestor comprometido com os anseios da população maceioense e que não mede esforços para atingir e superar metas. Os avanços são imensuráveis.

    Avante futuro Governador.

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