quarta-feira 2 de abril de 2025

Cemitérios: Lições de São Paulo para Maceió

Em Maceió, caso se venha pensar em privatização sem planejamento é um risco alto. A experiência de São Paulo é um alerta claro: sem controle rigoroso, a privatização pode pesar muito no bolso da população

5 de novembro de 2024 8:51 por Geraldo de Majella

© Paulo Pinto/Agência Brasil

Por Dilson Ferreira*

Os problemas com a gestão de cemitérios no Brasil são uma realidade cada vez mais evidente, e as crises em São Paulo e Maceió são prova contundente disso. Problemas de infraestrutura, capelas degradadaals, falta de espaço e, no caso de São Paulo, os efeitos da privatização, colocam em risco o direito das pessoas terem um sepultamento digno para seus familiares.

São Paulo: Promessas Caras e Problemas que Persistem

Em 2023, São Paulo passou a gestão de 22 cemitérios e um crematório público para empresas privadas, prometendo melhorias e modernização. Mas o que aconteceu? Os preços dos serviços subiram demais! Um pacote que custava R$ 299,85 saltou para valores entre R$ 1.443,74 e R$ 4.613,25 – aumento de até 400%! Até o aluguel de itens religiosos passou de R$ 5,83 para R$ 68,84 – um aumento de 1.080%. Essa tendência pode chegar aí nordeste em pouco tempo.

Esses aumentos tornaram o sepultamento inacessível para muitas famílias de baixa renda e mesmo classe média, forçando o trabalhador a adquirir planos privados de assistência funerária. Além disso, surgiram problemas como atrasos, muros caídos, capelas sucateadas e falta de manutenção. A fiscalização, que ficou a cargo da agência SP Regula, não conseguiu garantir as melhorias prometidas. Hoje, os preços estão altos, e os problemas continuam, deixando os paulistanos insatisfeitos. E o caso de Maceió tende a ideias semelhantes, pois os nossos cemitérios possuem o mesmo cenário paulistano, guardadas as devidas proporções.

Maceió: Superlotação, Abandono e o Risco do caminho para a Privatização

Em Maceió, a situação também é complicada. Os cemitérios públicos estão superlotados, com pouca infraestrutura e sem manutenção adequada (basta ir em um deles e constatar), tornando o sepultamento ainda mais doloroso para as famílias. Em 2023, segundo dados da imprensa local, mais da metade dos enterros na cidade foram feitos em covas rasas, chegando a 70% no cemitério São José, no Trapiche da Barra. Isso põe em risco a saúde pública e desrespeita as famílias maceioenses. Detalhe, nenhum político se manifesta sobre esse descaso.

A falta de espaço tem gerado filas para enterrar entes queridos. E o problema ficou pior com a interdição do Cemitério Santo Antônio, no bairro Bebedouro, devido ao afundamento do solo causado pela Braskem. Esse fechamento aumentou a pressão sobre os outros cemitérios da cidade. Lá virou um “cemitério do cemitério” dado o descaso.

Para tentar resolver, a Prefeitura de Maceió estuda construir um novo cemitério vertical, com áreas em Santa Amélia e Benedito Bentes, segundo debates gerados nas audiências públicas e reuniões políticas sobre o tema. O projeto, acompanhado pela Comissão Especial de Inquérito (CEI) dos Cemitérios Públicos, pode dar algum alívio à crise, estamos aguardando alguma novidade. Enquanto isso cemitérios históricos sucumbem no abandono, junto com a memória das famílias.

Concluindo:

As crises nos cemitérios de São Paulo e Maceió mostram que a gestão desses serviços exige cuidados redobrados. Em Maceió, caso se venha pensar em privatização sem planejamento é um risco alto. A experiência de São Paulo é um alerta claro: sem controle rigoroso, a privatização pode pesar muito no bolso da população e ameaçar o direito ao luto digno. Ainda assim, tem político defendendo Parceria Público-Privada como saída para a falta de vagas nos cemitérios maceioenses.

Estão enterrando nossos cemitérios para dar lugar ao empreendedorismo e à indústria do segmento funerário? Só o tempo dirá?

*É arquiteto, urbanista e professor da Ufal

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