24 de dezembro de 2024 6:38 por Da Redação
Nesta entrevista, o professor Dilson Ferreira, arquiteto urbanista, aborda a implantação da faixa verde na orla de Maceió e outras intervenções urbanas. Ele analisa a falta de planejamento técnico, o diálogo insuficiente com a população e destaca a importância de respeitar as leis de mobilidade e urbanismo para garantir soluções eficazes e inclusivas.
Professor, o que a implantação da faixa verde na orla de Maceió revela sobre a mobilidade urbana na cidade?
Dilson Ferreira: A implantação da faixa verde é um exemplo claro de como intervenções feitas sem planejamento técnico e diálogo com a população podem gerar mais problemas do que soluções. Mobilidade urbana não é apenas pintar o chão e dizer que isso resolve. É preciso estudar os fluxos de pessoas e veículos, entender as necessidades locais e planejar com base em dados confiáveis.
Como seria, então, o planejamento ideal para uma intervenção como essa?
Dilson Ferreira: Um planejamento ideal deve começar com a coleta de dados sobre o fluxo de pedestres, ciclistas e veículos em horários diferentes do dia. Além disso, é essencial analisar o impacto no comércio, na saúde pública e na economia local. Mobilidade urbana é uma ciência interdisciplinar, que envolve urbanismo, engenharia, economia e até comportamento social. Ela exige diagnósticos técnicos e diálogo constante com a população para garantir que as soluções sejam eficazes e inclusivas.
Outros bairros e avenidas de Maceió enfrentam problemas semelhantes?
Dilson Ferreira: Sim, e não são poucos. Áreas como Murilopólis, Avenida Sandoval Arroxelas, Avenida Cachoeira do Meirim, Avenida Siqueira Campos, Avenida Canaã e o corredor Vera Arruda, onde querem abrir ruas sem debater com a população, são exemplos disso.
No Antares, tivemos a proposta da Via Verde pela prefeitura. Embora tenha havido um debate com a população, ele não foi aprofundado, e todas as propostas apresentadas pelos moradores foram rejeitadas. O projeto original foi mantido, sem uma integração real entre o poder público e a população.
Nos Flexais, também vimos uma intervenção sem discutir com os moradores. São diversos problemas urbanos que poderiam ser evitados com um planejamento mais robusto e transparente. Boa parte deles está diretamente ligada ao planejamento urbano e à mobilidade urbana. Soluções planejadas com dados e participação popular evitariam muitos desses conflitos e tornariam as intervenções mais efetivas.
Como o senhor avalia a suspensão do projeto da faixa verde pela Justiça?
Dilson Ferreira: Foi uma decisão acertada. A Justiça reforçou a necessidade de seguir a legislação, como a Lei da Mobilidade Urbana (Lei Federal nº 12.587/2012), o Plano Diretor de Maceió (Lei Complementar nº 054/2018), o Código de Urbanismo e Edificações (Lei Complementar nº 043/2007) e o Estatuto da Cidade (Lei Federal nº 10.257/2001). Todas essas leis exigem planejamento técnico, estudos detalhados e, principalmente, participação popular. A decisão demonstra que não se pode improvisar quando o assunto é mobilidade urbana.
Qual a principal lição que esse episódio deixa para Maceió?
Dilson Ferreira: A principal lição é que a mobilidade urbana não pode ser tratada de forma improvisada. Uma cidade sem um plano de mobilidade atualizado e sem diálogo com a população está fadada a enfrentar problemas graves, que afetam o transporte, o comércio e a qualidade de vida de todos.
O debate da faixa verde poderia ter sido evitado se instrumentos previstos na legislação tivessem sido usados, como o Plano Diretor, o Código de Urbanismo e o Estatuto da Cidade. Esses documentos não existem por acaso; eles garantem que o planejamento urbano seja feito de forma técnica, organizada e democrática.
E qual seria a mensagem final para a população e os gestores públicos?
Dilson Ferreira: O espaço urbano é de todos, e só pode ser planejado de forma eficiente com a participação de todos. Quando a gestão pública ouve a população, consulta especialistas e planeja com base em dados, as soluções são mais inclusivas e eficazes.
A faixa verde é um alerta de que precisamos respeitar as leis, planejar com cuidado e envolver a sociedade em todas as decisões. Mobilidade urbana não é só sobre transporte; é sobre melhorar a vida de quem vive na cidade. E isso só é possível quando gestores e cidadãos trabalham juntos, com transparência e diálogo e dêem voz a seus melhores técnicos.