sexta-feira 11 de abril de 2025

Celebrando a negritude, artista alagoano expõe obra no Egito

Gleyson Borges, conhecido como “a coisa ficou preta”, foi um dos selecionados para representar o Brasil no evento Something Else
Foto: Divulgação

O artista visual alagoano Gleyson Borges, conhecido como “a coisa ficou preta”, foi um dos selecionados para representar o Brasil na exposição Brincar Entre Atlânticos, com curadoria do Instituto Lambes Brasil, no evento Something Else, que acontece durante fevereiro e março, na cidade do Cairo, no Egito.

A obra escolhida foi uma adaptação da arte Felicidade Pintada. Gleyson também é conhecido por seu trabalho afrocentrado, que utiliza o lambe-lambe como ferramenta de empoderamento e luta antirracista. O artista leva à exposição a celebração através de brincadeira de criança.

“A arte negra muitas vezes é reduzida a luta, batalhas, sofrimento, e isso é sim uma presença constante no nosso dia a dia, mas não podemos nos limitar a isso. Mais do que sobreviver, é preciso viver, e essa obra traz um pouco disso, da efemeridade dos momentos felizes”, diz.

“Que não precisamos esperar só as grandes conquistas para celebrar, é preciso comemorar as preciosidades do dia a dia, as brincadeiras, os sorrisos. São as coisas que fazem toda a nossa luta valer a pena”, completa o artista.

Com uma trajetória marcada por exposições no Centro Cultural de São Paulo (CCSP), na Universidade de São Paulo (USP) e no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), além de colaborações com instituições como Artigo 19, Coalizão Negra por Direitos e Instituto Moreira Salles (IMS), é a primeira vez que Gleyson tem seu trabalho exposto fora do Brasil, ampliando o alcance de sua arte e fortalecendo o diálogo sobre negritude, resistência e celebração em novos territórios.

A curadoria, feita pelo Instituto Lambes Brasil, criado para a disseminação e fomento da técnica do lambe-lambe, focou em artistas já reconhecidos nacionalmente e que usam o cartaz e a arte urbana como técnica.

O tema geral da exposição de 2025 é “Emancipate yourselves from mental slavery” (em tradução livre, “Emancipem-se da escravidão mental”), baseado em um trecho da música do cantor e compositor jamaicano Bob Marley. A partir desse universo, o Instituto Lambes Brasil, formado pelos artistas Alberto Pereira, Bruna Alcantara, Mila Serejo e Tácio Russo, criou um corpo de pesquisa e curadoria para selecionar artistas sob a perspectiva do conceito do “Brincar”.

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

A Curadoria da Lambes Brasil mergulha nas múltiplas camadas do brincar, propondo um entrelaçamento entre as possibilidades da brincadeira, ora enquanto uma ação objetiva, ora reflexiva e imersa nas subjetividades de uma vasta, complexa e continental cultura brasileira. Dividida em quatro eixos temáticos essenciais, a curadoria revela o poder transformador da imaginação e da criação; a magia e o ritual da fantasia, da veste e da possibilidade de assumir personagens; a arte da gambiarra, do manipular, do reeditar e dar vida aos brinquedos e bugigangas que povoam nosso imaginário; e, por fim, dos rituais e celebrações que permeiam as práticas lúdicas enquanto um ato e performance.

“Nessa proposta, vislumbramos desde artistas que trabalham com assuntos comuns do brincar, como pipas, até artistas que usam objetos e engenhocas na aplicação do lambe-lambe”, conta Mila Serejo.

Produzidos em tamanhos variados, os lambes, também conhecidos como cartazes urbanos, podem ter formas e técnicas diversas e agora ocupam espaços na capital do Egito.

Nesta exposição, a linguagem democrática do lambe-lambe, que usa essencialmente papel e cola, surge com diferentes materiais.

“Além de impressões gráficas, também trouxemos uma variação de artistas que produzem manualmente suas obras, seja com tinta e caneta ou até com bordados”, explica Alberto Pereira.

A exposição conta com artistas de diversas regiões do Brasil. Nomes consagrados na cena, como Diogo Rustoff, de Goiânia, e Gê Viana, do Maranhão, foram escolhidos para compor a mostra.

Vale lembrar que a coordenação de curadoria é das também brasileiras Mônica Hirano, radicada no Egito, e Mariana Sesma, que vive e trabalha na Alemanha.

“Eu consigo, depois de tanto tempo, ver muitos lugares de identificação entre Brasil e Egito, América do Sul e Oriente Médio, e eu acho que esse é um movimento bem importante de criar essa ponte direta e não ter que passar necessariamente pela Europa ou pelos Estados Unidos para a gente se comunicar”, diz Mônica sobre a presença brasileira na Something Else.

O Instituto Lambes Brasil

A Lambes Brasil é um canal criado em 2016, com o intuito de fomentar e valorizar o lambe-lambe no contexto das artes visuais brasileiras.

Através de parcerias e iniciativas independentes, busca fortalecer o cenário para artistas e produtores, gerando reconhecimento da técnica e prática artística perante o público, órgãos governamentais, empresas, instituições culturais, demais artistas e linguagens artísticas.

Por Assessoria

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