sexta-feira 11 de abril de 2025

Histórias do Velho Capita – Meu amigo Cacá

Foi uma forte dor no coração semana passada quando Álvaro Machado me comunicou sua partida. Foi-se embora o mais antigo de meus amigos. E pedaços de minha bela vida.

23 de fevereiro de 2025 8:11 por Da Redação

Carlito Lima e Cacá Diegues. Reprodução

Por Carlito Lima (*)

Cacá Diegues antes de cineasta, escritor, era um filósofo, um pensador. Sua grandeza estava na generosidade, na simplicidade, na gentileza, na inteligência e no amor. Nascemos no mesmo ano na Avenida da Paz, Maceió. Nossa infância livre, leve e solta na praia da Avenida nos marcou para sempre. De repente seu pai, o sociólogo, Manoel Diegues Júnior foi transferido, trabalhar no Rio de Janeiro. Nunca deixou de passar as férias de verão em Maceió. E sua casa passou a ser a embaixada de Alagoas na capital do Brasil. Nas vésperas de Natal era uma alegria a notícia: “Chegaram os cariocas”. Nosso ponto de encontro era a praia, jogar futebol na areia branca, jovens nos digladiávamos aos chutes. A partida só terminava com o Gol da Lua, o primeiro gol depois da lua aparecer. Meninos românticos.

Nos programas noturnos percorríamos a cidade de bicicleta, arranjando namoradas. Certa noite Cacá chegou eufórico onde se encontrava a turminha, feliz da vida, havia dado seu primeiro beijo na namoradinha no coreto da Avenida da Paz. Não perdíamos os filmes das sextas-feiras no Clube Fênix Alagoana.

Depois da adolescência ganhamos o mundo. Cacá se tornou famoso, mas, nunca nos perdemos de vista, às vezes, passavam dois ou três anos sem nos ver. Quando havia o reencontro a amizade era a mesma. Eu gostava de conversar com meu amigo, absorver sua sabedoria, tornou-se um intelectual, um homem conhecido no Brasil e no mundo. Acompanhei várias filmagens. Cacá nunca deixou suas raízes e amava Alagoas, onde ele rodou vários filmes, inclusive o último, DEUS AINDA É BRASILEIRO, no qual tive o prazer e a honra de colaborar. Quando fui assistir à posse de Cacá na Academia Brasileira de Letras, dia seguinte almoçando em sua casa ele me desafiou com um presente: escrever o argumento inicial do roteiro de seu novo filme. Orientou-me a escrever a história: Seria uma espécie de continuação de DEUS É BRASILEIRO. Depois de 20 anos Deus retorna ao Brasil e encontra a mesma merda. Fiquei feliz escrevi a história de minha cabeça. Ele tornou-a roteiro e fez a filmagem em Alagoas, com atores alagoanos. O filme está lindo. Tenho maior orgulho em alguns escritos de nossa amizade, como o prefácio que escreveu de meu recente romance, Jequiá.

“Não conheci propriamente Carlito Lima. Na verdade, explodimos juntos, na Avenida da Paz, nos anos 1940, acabados de nascer. E seguimos juntos por nossa infância afora, passando pela adolescência e chegando à juventude, mesmo se, a partir de certa idade, moramos em cidades tão distantes uma da outra. É, portanto, uma honra especial e um grave compromisso escrever este texto sobre ele e seu livro mais recente, “Jequiá”.

A história que Carlito nos conta nesse livro começa quando o jovem Pablo Márquez, um colombiano nascido em Cartagena das Índias, a mais bela cidade histórica da América do Sul, passa de navio por Maceió com sua filha pequena, Isabel, de dois anos de idade, e decide ali morar e se instalar pelo resto da vida.

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O autor de “Jequiá” é, antes de tudo, um cronista da vida de seus conterrâneos, sem esquecer de onde eles vieram. Ele é capaz de fazer dessa qualidade um sólido apoio para se lançar no coração da origem de seus personagens. São eles que revelam, por sua ação, pelo que dizem ou pelas simples sombras que espalham por cada cenário, a grandeza de sua presença no mundo enquanto nordestinos e alagoanos. É com esses nordestinos e alagoanos, como ele, que Carlito Lima procura fazer sua gentil, mágica e vigorosa revolução cultural e literária.

Sinto-me orgulhoso de ser amigo de Carlito, de ter dividido com ele experiências e descobertas que só na infância e na adolescência podemos experimentar. Aprendi com ele, e ele comigo, muita coisa que só essa convivência podia inventar. Acompanhando sua carreira de escritor bem-sucedido, sinto-me homenageado; como ele deve se sentir, com qualquer de meus filmes que dê certo. Nós somos parte de extensa família cultivada na beira do cais, na Avenida da Paz.”

Foi uma forte dor no coração semana passada quando Álvaro Machado me comunicou sua partida. Foi-se embora o mais antigo de meus amigos. E pedaços de minha bela vida.

(*) é engenheiro civil, escritor, cronista, romancista e membro da Academia Alagoana de Letras (AAL)

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