9 de março de 2025 7:27 por Da Redação

Em pleno 2025, quando se comemoram 50 anos do golpe militar que instaurou uma das fases mais sombrias da história do Brasil, o desaparecimento de Jayme Amorim de Miranda, jornalista e advogado natural de Maceió, continua a ecoar como um símbolo da repressão brutal vivida no país durante a ditadura. A história de Jayme, sequestrado em fevereiro de 1975 e desaparecido pelos agentes do regime militar, ainda é parte de um drama não resolvido, não apenas para sua família, mas para todos os alagoanos que sofreram com os desmandos da época.
Na manhã de quinta-feira (6), o Ministério Público Federal (MPF) se reuniu com a família de Jayme para discutir os novos rumos da busca por justiça. Participaram do encontro Yuri Patrice Rocha de Miranda, filho de Jayme, e Thiago Francisco Agra de Miranda, neto do desaparecido, que compartilharam com o procurador regional Bruno Lamenha e a procuradora-chefe Roberta Bomfim as angústias vividas ao longo de mais de 50 anos de busca pela verdade. A reunião teve a mediação de Pedro Montenegro, coordenador de Direitos Humanos do Tribunal de Justiça de Alagoas, e destacou a luta contínua pela memória e pela verdade.
Jayme foi preso durante a “Operação Radar”, um dos inúmeros episódios de repressão política que marcaram o período. Transferido para São Paulo, foi torturado e assassinado pelos militares, sendo posteriormente ocultado. Embora tenha sido reconhecido oficialmente como desaparecido pela Lei nº 9.140/1995, seus restos mortais nunca foram encontrados. Sua história de vida e sua militância no Partido Comunista Brasileiro (PCB) foram silenciadas por agentes do Estado, como Carlos Setembrino da Silveira e Audir Santos Maciel, ambos envolvidos em sua morte. A ocultação dos restos mortais e a falsificação dos laudos necroscópicos reforçam a natureza criminosa e sistemática da repressão.

O caso de Jayme Amorim de Miranda não é um caso isolado em Alagoas. O estado perdeu, durante a ditadura, seis mortos e três desaparecidos políticos, cujas histórias continuam a ser preservadas pelo Comitê Alagoano de Memória, Verdade e Justiça. A luta pela memória e pela justiça em Alagoas se reflete não só na busca por desvelar os crimes do regime militar, mas também na importância de educar as novas gerações para os valores democráticos.
Essa busca incessante por justiça ressoa de forma particularmente forte no contexto da obra “Ainda Estou Aqui”, que reflete as dificuldades e os dilemas das famílias que perderam entes queridos na ditadura. A história de Jayme é, de certa forma, um capítulo dessa memória coletiva que precisa ser preservada. Como disse Pedro Montenegro, “das piores formas de opressão é a espoliação das lembranças”, e é essencial que os crimes da ditadura não caiam no esquecimento.
O MPF, com o apoio de diversas instituições, segue acompanhando o caso e buscando novas estratégias para garantir que os responsáveis por esses crimes não permaneçam impunes. O reconhecimento da continuidade do crime de ocultação de cadáver, como defendido pelos familiares de Jayme, é um dos caminhos possíveis para buscar a justiça. A aplicação da Lei da Anistia, que limita a responsabilização dos agentes envolvidos, continua sendo um tema central nas discussões.
O trabalho das famílias, como a dos Miranda, que se mantém firme na busca pela verdade, é vital para que histórias como a de Jayme Amorim de Miranda nunca sejam esquecidas. A luta pela memória, pela verdade e pela justiça segue, e Alagoas, como todo o Brasil, não pode virar as costas para os desaparecidos políticos da ditadura, pois o resgate dessa história é essencial para a construção de uma sociedade mais justa e democrática.