domingo 13 de abril de 2025

Popular nas redes sociais, “terapia da rejeição” pode agravar saúde mental

Técnica não tem comprovação científica e tem sido divulgada por jovens que se colocam em situações incomuns para aprender a lidar com o “não
Foto: Filadendron/GettyImages

Nos últimos meses, a “terapia da rejeição” ganhou popularidade nas redes sociais, especialmente no TikTok, com centenas de usuários compartilhando experiências e afirmando que o método os ajudou a lidar com a ansiedade, a autoestima e até o medo. A prática, que não tem embasamento científico, consiste em se expor a situações desconfortáveis ou vergonhosas, que muito provavelmente vão resultar em rejeição, no trabalho, no transporte público ou nas interações com pessoas desconhecidas.

A ideia é diminuir o medo da rejeição ao ouvir um “não”. Ao conseguir enfrentar essas situações de forma controlada, o indivíduo se tornaria mais resiliente e confiante para lidar com o fracasso ou a falta de aceitação.

Entre as situações constrangedoras estão pedir dinheiro emprestado a um estranho na rua; pedir um abraço em meio à multidão; cumprimentar desconhecidos dentro do metrô; e até ir a uma cafeteria e pedir determinado produto de graça. Na realidade, porém, a pessoa não quer nada disso e não se importa com a resposta que vai receber – o ponto é vencer a barreira e conseguir fazer a pergunta. Tudo isso registrado pela câmera do celular e compartilhado nas redes sociais.

Exposição não é igual a rejeição

A “terapia da rejeição” seria uma forma simplificada da “terapia de exposição”, essa sim uma técnica consagrada e amplamente utilizada por psicólogos como parte da terapia cognitivo comportamental (TCC) no tratamento de transtornos específicos, como síndrome do pânico, fobias sociais, medo de andar de avião, ansiedade generalizada, entre outros.

Como o próprio nome diz, a terapia consiste em expor o paciente gradualmente a uma situação que ele teme para diminuir sua resposta excessiva de medo por meio da dessensibilização. Normalmente começa com imagens, uso de realidade virtual e só depois a pessoa tenta ter contato direto com a situação temida ou o objeto fóbico. “O medo pode até persistir por um período, mas de uma forma mais controlada, diminuindo o nível de sofrimento”, explica o psiquiatra Elton Kanomata, do Hospital Israelita Albert Einstein. Em paralelo, o paciente também costuma treinar técnicas de relaxamento para diminuir seus níveis de ansiedade e tensão.

A terapia da rejeição, ao contrário, não é um tratamento formal. Além disso, o fato de a pessoa filmar e postar situações constrangedoras nas redes sociais pode até piorar quadros de ansiedade em indivíduos predispostos. “A ideia de se expor a contextos muito bizarros não faz sentido. Teria algum sentido se a pessoa se expusesse a situações do seu cotidiano para desenvolver habilidades sociais e socioemocionais para a vida. Mas passar vergonha por passar é um desgaste emocional desnecessário e não traz nenhum ganho”, observa Kanomata.

As consequências podem ir além daquele momento em que a pessoa ouviu o “não” e foi rejeitada. Ao publicar a experiência nas redes sociais, o indivíduo volta a se expor e se coloca sob julgamentos e críticas de inúmeras pessoas. “As novas gerações não estão acostumadas a ouvir ‘não’, e muitas pessoas saem em busca de soluções rápidas e simplificadas. Se essa pessoa não conseguir o engajamento que gostaria nas redes sociais e receber comentários ruins, por exemplo, isso pode piorar um quadro emocional”, alerta o psiquiatra.

Embora a “terapia da rejeição” possa parecer uma abordagem interessante para aqueles que buscam superar a insegurança, Kanomata ressalta que ela não deve ser encarada como uma solução imediata nem substituir tratamentos reconhecidos. “Se for para trabalhar de fato essa questão da rejeição e da frustração, é importante que esse processo seja feito por um profissional que possa acompanhar o paciente ao longo das sessões e discutir situações, para ajudá-lo a lidar com o enfrentamento das situações e evitar que ele se sinta mais ansioso ou desvalorizado”, propõe o médico.

Por Agência Einstein

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