
Por Lucas Toth, do portal Vermelho
A decisão unânime do Supremo Tribunal Federal (STF) na última quarta-feira (26), que tornou Jair Bolsonaro réu por tentativa de golpe de Estado, repercutiu de forma contundente na imprensa internacional. Os principais jornais estrangeiros destacaram o caráter histórico do julgamento e a gravidade da conspiração golpista organizada a partir da Presidência da República, com apoio de militares de alta patente e agentes do Estado.
O jornal norte-americano The New York Times afirmou que a decisão do STF representa “um esforço significativo para responsabilizar Bolsonaro pelas acusações de que tentou efetivamente desmantelar a democracia brasileira”.
Segundo o veículo, a investigação revelou o quanto o Brasil esteve próximo de retornar a uma ditadura militar, quase quatro décadas após a redemocratização. O texto também aponta que Bolsonaro “aposta suas fichas no apoio de Donald Trump” para evitar a condenação.
Na mesma linha, o britânico The Guardian descreveu o caso como uma “tentativa de golpe extraordinariamente violenta”, ecoando as palavras do ministro Alexandre de Moraes, que classificou os ataques de 8 de janeiro de 2023 como uma “guerra campal” contra a democracia. O jornal aponta que Bolsonaro pode enfrentar até 40 anos de prisão, além de uma inevitável exclusão da vida política.
Na América Latina, o argentino Clarín e o mexicano Excélsior deram destaque ao papel de Bolsonaro como líder de uma organização criminosa com o objetivo de impedir a posse de Lula. Ambos os jornais lembraram que o plano golpista incluía, segundo a Procuradoria-Geral da República, até mesmo o assassinato do presidente eleito, do vice Geraldo Alckmin e do ministro Moraes.
O espanhol El País ressaltou que esta é a primeira vez na história do Brasil que um ex-presidente se senta no banco dos réus por tentativa de golpe. O jornal descreve Bolsonaro como o primeiro líder de extrema direita no país, lembrando seu histórico autoritário, o uso de milícias digitais e sua nostalgia pela ditadura militar. Segundo a publicação, Bolsonaro apresentou pessoalmente minutas golpistas a comandantes militares e tentou legalizar uma ruptura institucional por decreto.
O jornal francês Le Monde e a rede britânica BBC também destacaram a votação unânime no STF e a farta documentação reunida pela Polícia Federal. A BBC sublinhou que o relatório de 884 páginas entregue à PGR reúne provas materiais, vídeos, mensagens e depoimentos, incluindo a delação do ex-ajudante de ordens Mauro Cid, peça central na investigação.
O canal árabe Al Jazeera noticiou o julgamento como o ápice da escalada autoritária de Bolsonaro, com destaque para seus apelos desesperados por apoio de Trump e sua tentativa de vitimização política nas redes sociais.
A cobertura internacional confirma que o Brasil enfrentou uma tentativa real e articulada de golpe de Estado liderada por Jair Bolsonaro e parte das Forças Armadas. A responsabilização judicial dos envolvidos é acompanhada de perto pela comunidade internacional como um teste à solidez da democracia brasileira e da região.