
A aquisição do Hospital do Coração pela Prefeitura de Maceió, rebatizado como Hospital da Cidade, gerou polêmica desde o início. O alto valor da compra, R$ 266 milhões, deveria ter sido acompanhado de estudos detalhados para avaliar a viabilidade da gestão municipal sobre um hospital de alta complexidade. No entanto, essa análise técnica não foi realizada, o que levanta sérias dúvidas sobre a capacidade administrativa da prefeitura para gerir a unidade de saúde.
Falta de planejamento e transparência
A ausência de um estudo de viabilidade prévio demonstra um erro grave de planejamento, especialmente, quando se trata de um investimento público dessa magnitude. Administrar um hospital de alta complexidade exige não apenas recursos financeiros, mas também expertise na gestão hospitalar, logística de suprimentos médicos, contratação e capacitação de profissionais, além de um plano estratégico para a sustentabilidade da unidade.
Durante o período pré-eleitoral, quando a compra foi anunciada, surgiram promessas de que o renomado Hospital Albert Einstein prestaria consultoria para estruturar a gestão da nova unidade. Essa informação foi amplamente divulgada para amenizar as críticas à aquisição. No entanto, passados mais de um ano, não houve nenhum anúncio oficial sobre a atuação do Einstein, reforçando a suspeita de que essa promessa não passava de uma cortina de fumaça para justificar a operação.
Outro ponto preocupante é a falta de transparência na gestão do Hospital da Cidade. A prefeitura não tem divulgado dados concretos sobre o funcionamento da unidade, como custos operacionais, número de atendimentos realizados e o impacto real na rede de saúde pública municipal. Sem essas informações, fica difícil avaliar se o investimento foi, de fato, benéfico para a população.
Interesses questionáveis e desvio de finalidade
Está cada vez mais evidente que quem realmente está lucrando com o Hospital da Cidade é a empresa contratada para sua gestão. Em vez de priorizar a assistência básica à saúde, que é a verdadeira obrigação do município, os recursos públicos estão sendo direcionados para manter um hospital de alta complexidade sem planejamento adequado. Isso levanta suspeitas sobre os reais interesses por trás da compra da unidade hospitalar.
A destinação de verbas da saúde para fins diversos do atendimento primário compromete o funcionamento de postos de saúde, unidades de pronto atendimento e programas preventivos, deixando a população mais carente sem acesso a serviços essenciais. Dessa forma, a aquisição do hospital parece ter sido motivada por interesses políticos e de marketing eleitoral, em vez da preocupação genuína com a saúde pública.
Contrato e custos da gestão
O contrato de gestão do Hospital da Cidade foi assinado em 9 de fevereiro de 2024. O Instituto Saúde e Cidadania (ISAC) foi a entidade escolhida pela Secretaria Municipal de Saúde para administrar o hospital, conforme consta no Contrato de Gestão nº 0001/2024 – Processo Administrativo nº 5800.3507/2024. O valor global do contrato é de R$ 41.891.191,00. O plano de trabalho detalha a utilização dos recursos, incluindo R$ 27 milhões (cerca de R$ 9 milhões mensais) destinados à manutenção da unidade, além da compra de equipamentos. Esse contrato teve duração de três meses, podendo ser renovado por mais três.
Impacto na saúde municipal
A aquisição do hospital deveria representar um avanço significativo para a saúde pública de Maceió, mas, sem planejamento adequado, o risco é que se torne um fardo financeiro para o município. Recursos que poderiam ser aplicados na melhoria das unidades básicas de saúde, na ampliação de atendimentos e na aquisição de medicamentos podem acabar comprometidos pela falta de uma gestão eficiente.
Além disso, há um temor de que a falta de uma equipe preparada para administrar um hospital de alta complexidade comprometa a qualidade do atendimento prestado à população. Sem um modelo de gestão bem definido e profissionais capacitados, a unidade pode se tornar mais um problema para o já sobrecarregado sistema de saúde da capital.
Resumo da ópera
A compra do Hospital da Cidade pela gestão JHC foi realizada de maneira apressada, sem estudos de viabilidade e sem transparência na condução do processo. A promessa de consultoria do Hospital Albert Einstein se revelou uma estratégia eleitoral e, até o momento, a prefeitura não apresentou um plano claro de gestão para a unidade. Além disso, a contratação do ISAC para gerir o hospital, a um custo superior a R$ 41 milhões em apenas seis meses, reforça a necessidade de fiscalização rigorosa sobre a aplicação dos recursos públicos.
Diante disso, é fundamental que o governo municipal apresente esclarecimentos sobre os custos operacionais, a efetividade do atendimento e os próximos passos para garantir que esse investimento traga benefícios reais para a população de Maceió. Sem isso, o Hospital da Cidade corre o risco de se tornar mais um exemplo de má gestão e desperdício de recursos públicos.