7 de abril de 2025 2:29 por Da Redação

Por Lucas Toth, do portal Vermelho
As bolsas de valores despencaram nesta segunda-feira (7) em diversas partes do mundo, após a entrada em vigor, no sábado (5), do pacote tarifário imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A medida unilateral, que estabelece sobretaxas de até 34% sobre importações de dezenas de países, provocou reação imediata da China e agravou o temor de uma recessão global.
O índice Hang Seng, de Hong Kong, caiu 13,2%, registrando sua maior queda desde a crise asiática de 1997. Em Tóquio, a bolsa recuou 7,8%, enquanto Xangai perdeu 7,3%. O colapso também atingiu os mercados europeus: Frankfurt abriu em queda de 7,8%, Paris recuou 6,1%, Londres 5,8%, Madri 3,6% e Milão 2,3%. Nos Estados Unidos, os futuros do S&P 500 e do Nasdaq caíram 3,5% e 4,4%, respectivamente. Na semana anterior, Wall Street já havia acumulado perdas superiores a US$ 6 trilhões.
O índice de volatilidade VIX, conhecido como “índice do medo” de Wall Street, ultrapassou os 60 pontos, alcançando o maior patamar desde a pandemia de covid-19.
Investidores passaram a precificar pelo menos cinco cortes na taxa básica de juros do Federal Reserve ainda este ano, em uma tentativa de conter os efeitos da crise. Analistas de instituições como JPMorgan e Deutsche Bank já consideram elevada a possibilidade de recessão nos Estados Unidos em 2025.
O impacto também se fez sentir no mercado de commodities. O petróleo Brent caiu 3,3%, atingindo US$ 63,48 o barril — menor valor desde 2021. O cobre e o ouro também recuaram, em meio à liquidação de ativos para cobrir perdas e chamadas de margem. A decisão da Opep+ de aumentar a produção de petróleo agravou o temor de excesso de oferta no mercado internacional.
Mesmo diante do colapso financeiro, Trump minimizou os efeitos e voltou a defender sua política protecionista. “Às vezes é preciso tomar remédio para consertar alguma coisa”, disse a jornalistas, a bordo do avião presidencial Air Force One.
Em sua rede social, Truth, afirmou que as tarifas são “uma coisa linda de se ver” e culpou o ex-presidente Joe Biden pelos déficits comerciais históricos dos Estados Unidos. Segundo Trump, não haverá acordos com países que mantêm superávit em relação aos EUA.
A China respondeu impondo tarifas de 34% sobre produtos norte-americanos e anunciou o uso de instrumentos de política fiscal e monetária para conter os efeitos internos da crise. Líderes europeus também sinalizam a adoção de medidas retaliatórias.
O investidor Bill Ackman, que apoiou Trump nas eleições, pediu uma pausa de 90 dias na política tarifária, alertando para o risco de um “inverno nuclear econômico autoimposto”. Já o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, advertiu que as tarifas podem acelerar a inflação e desacelerar o crescimento.
Apesar do agravamento da crise, os indicadores mostram que a economia norte-americana ainda parte de uma posição relativamente sólida. Dados divulgados no dia 4 de abril revelaram a criação de 228 mil empregos no mês anterior — número acima das expectativas do mercado. Um índice semanal do Federal Reserve de Dallas aponta que a economia dos Estados Unidos segue crescendo a uma taxa superior a 2% ao ano, enquanto indicadores da Goldman Sachs mostram desempenho acima da média de outras economias desenvolvidas.
Em artigo publicado pela revista The Economist, a avaliação é de que, embora Trump tenha cometido “um dos maiores erros de política econômica da história”, teve a sorte de herdar uma economia forte.
A publicação, no entanto, questiona quanto sofrimento essa economia é capaz de suportar, diante de uma política tarifária que ameaça não apenas o comércio internacional, mas também a estabilidade das cadeias produtivas globais.
Economistas alertam que os efeitos da guerra comercial tendem a se intensificar nas próximas semanas, especialmente com o início da temporada de balanços corporativos e os novos leilões de títulos do Tesouro dos EUA. Com a Casa Branca mantendo sua postura agressiva, analistas avaliam que o ambiente de instabilidade pode se prolongar, com repercussões globais sobre crescimento, emprego e consumo.