terça-feira 8 de abril de 2025

Porque não privatizar os Correios, por Luís Nassif

Os Correios, públicos, serão essenciais para colocar o modelo de pé. Hoje em dia, o maior diferencial das grandes plataformas é a distribuição

7 de abril de 2025 9:27 por Da Redação

Fernando Frazão – Agência Brasil

Por Luís Nassif, do Jornal GGN

Atenção, presidente Lula.

Sua gestão, até agora, tem sido a de reconstrução institucional e do Estado brasileiro. Isso significa entender a relevância de instituições, empresas públicas ou privadas, na construção do futuro.

Há uma ênfase relevante na reindustrialização, na transição energética etc.

Mas há uma bandeira poderosíssima, que o fará se aproximar dos pequenos empreendedores, pequeno comércio e indústria, enfrentando o novo perfil da economia digital.

A lógica é simples.

  1. O comércio de produtos caminha cada vez mais para as grandes plataformas, tipo Amazon, Mercado Livre ou Magalu, e das entrantes chinesas.
  2. O maior diferencial de uma plataforma é a rapidez e a segurança da entrega,
  3. Centralizando as compras, e com o controle do varejo, as plataformas passaram a trabalhar com estoques zero, impondo baixos preços aos fabricantes de produtos populares (tecidos, roupas, manufaturas em geral), especialmente às Pequenas e Médias Empresas e o MEI.

A melhor maneira de fortalecer as pequenas empresas será através de consórcios, os chamado Arranjos Produtivos Locais (APLs) ou, na versão nova, de Arranjos Produtivos Digitais (APLD).

O funcionamento dá um pouco de trabalho, mas o país possui as instituições e as organizações necessárias para o desafio.

Os passos são os seguintes:

  1. Cadastram-se em um portal (da CNI, do Sebrae, do Ministério, pouco importa), empresas interessadas em participar das plataformas digitais.
  2. Os candidatos passarão por treinamento e certificações do Senai e do Sebrae, para saberem se estão aptos a aceitar encomendas para o tipo de produto trabalhado pelo portal.
  3. Nesse modelo, pequenas empresas têxteis de todo o país se cadastram em um único ponto de venda.
  4. Depois, convoquem-se escolas de designers, tragam os artesãos do nordeste, as bordadeiras de Minas, beba-se na cultura nacional, e criem-se linhas de design para produtos brasileiros.
  5. Tragam um banco público nacional – Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal – para, junto com o Sebrae, identificar o melhor arranjo para o grupo: constituir um APL para uma linha própria de designers; ou um APL para fabricar o que lhes é pedido.
  6. Funcionários de agências ou de associações de funcionários, sairão a campo, identificando, entre seus clientes, aqueles aptos a entrar no APL.
  7. Os bancos públicos, com aval do Sebrae, poderão oferecer capital de giro para as melhores; e os fundos de pensão poderão criar uma área para investimento em startups promissoras.
  8. Finalmente, toda essa produção será distribuída, ou para exportações ou para o mercado interno.

Onde está o busílis da questão?

Ao longo das últimas décadas, o Brasil jogou fora inúmeras oportunidades para políticas duradouras e de fortalecimento dos pequenos. Mas nada se equipara à tentativa de privatizar os Correios, anunciada recentemente.

Os Correios, públicos, serão essenciais para colocar esse modelo de pé. Hoje em dia, o maior diferencial das grandes plataformas é a distribuição, a entrega imediata do produto adquirido. E a única empresa capaz de permitir aos pequenos produtores ingressarem no mercado é justamente os Correios.

Em vez desse desperdício de pretender privatizar os Correios, melhor faria o governo em promover grandes acordos com distribuidoras internacionais, como o Fedex, para colocar produtos brasileiros no exterior.

Em meados dos anos 90, apresentei essa ideia para o Banco do Brasil, Ministério das Comunicações e Apex. A ideia era estimular os funcionários do banco a identificar empresas candidatas – e ninguém conhece melhor o potencial das pequenas empresas do que os bancos públicos. O presidente Ximenes comprou a ideia.

Ao Pimenta da Veiga – que assumiu o Ministério das Comunicações no lugar de Sérgio Motta – sugeri uma negociação com a Fedex. A empresa estava querendo entrar no país associada aos Correios. Que o governo exigisse dela, como offset (compensações) abrir seu banco de dados de clientes em vários países, para trabalhar produtos brasileiro. Era o início de uma era em que começa a operação de serviços de courier internacional. Foi como falar com uma pedra.

A Apex estava recém criada, entregue a um diplomata burocrático. Um mês depois, voltei à Brasília para conversar com ele e fui apresentado a uma ideia que ele acabara de ter: o meu projeto.

Obviamente, a ideia  jamais saiu do papel.

Agora, tem-se à mão os principais ingredientes para uma grande política de digitalização capaz de mobilizar sistema S, associações comerciais, agricultura familiar.

Tudo isso poderá ir água abaixo se persistir nessa loucura de privatizar os Correios. Os Correios pertencem a restrito e relevante campo das estatais essenciais.

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