12 de abril de 2025 12:44 por Da Redação

Oito anos após a morte do reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo, vítima de um sistema judicial punitivista e espetaculoso, a ferida aberta em sua memória segue sem qualquer cicatrização institucional. Absolvido tardiamente pelo Tribunal de Contas da União (TCU), em 2023, ele foi enterrado pela injustiça muito antes — destruído por um Estado que lhe negou defesa, dignidade e verdade.
A tragédia começou em setembro de 2017, com a deflagração da Operação Ouvidos Moucos, que acusava irregularidades no programa Universidade Aberta do Brasil. Sem provas consistentes, a Polícia Federal, liderada pela delegada Érika Marena, prendeu o reitor de forma espetaculosa. A juíza Janaina Cassol autorizou a prisão, que duraria apenas um dia, mas cujos efeitos foram permanentes. Proibido de frequentar a UFSC, sua casa e seu legado, Cancellier mergulhou no isolamento e na dor — que culminaram em seu suicídio, 18 dias depois.
No bolso, um bilhete contundente: “Minha morte foi decretada quando fui afastado da Universidade.”
A frase virou símbolo da barbárie institucional que se abateu sobre um homem inocente, punido não por seus atos, mas por um sistema ansioso por fazer espetáculo da punição.
A conclusão do TCU de que não houve desvio de verba, corrupção ou superfaturamento no programa apenas escancara a gravidade do erro — ou, mais precisamente, da política. Pois não se tratou de um acaso, mas de um modus operandi herdado da Lava Jato, onde a Justiça foi convertida em arma política. Prisões preventivas arbitrárias, julgamentos midiáticos e coerção institucional tornaram-se práticas normalizadas, sob a justificativa de combater a corrupção.
Diversos nomes do cenário político e jurídico denunciaram o absurdo: a deputada Gleisi Hoffmann lembrou da violência simbólica contra Cancellier; o presidente Lula classificou o caso como uma aberração jurídica; e o então ministro da Justiça, Flávio Dino, prometeu apurações. Mas a verdade é que, passados todos esses anos, ninguém foi responsabilizado. Nenhuma sindicância resultou em punição. Nenhum pedido de desculpas institucional veio à tona. Ao contrário: muitos dos envolvidos seguem ocupando cargos, blindados pela impunidade.
A tragédia de Cancellier, portanto, transcende sua biografia. Ela denuncia um modelo de justiça seletiva, que escolhe alvos e poupa os algozes. E, enquanto isso, a democracia brasileira sangra, porque não há Estado de Direito onde não há responsabilização.
Luiz Carlos Cancellier vive, hoje, como um ícone da resistência à perversão institucional. Mas sua memória exige mais que homenagens: exige justiça. Uma justiça que, até aqui, falhou. E enquanto falhar, essa tragédia seguirá ecoando como uma acusação contra todos nós.