23 de setembro de 2020 1:01 por Da Redação
Por Geraldo de Majella – Os partidos de esquerda, no geral, mantêm o discurso que era feito nas décadas de oitenta e noventa, apropriado para aqueles momentos: a defesa dos direitos essenciais que a classe trabalhadora de origem fabril havia conquistado nas décadas anteriores. A inserção dos partidos nos movimentos sociais e a participação na organização dos moradores nas periferias dos grandes centros urbanos deram uma nova configuração e impulsionaram as lutas por moradias, saneamento básico, creches, saúde e educação. A segurança pública não havia entrado na agenda da esquerda, e de fato ainda não entrou completamente.
As mudanças ocorridas nos últimos quarenta anos foram radicais. O economista Marcio Pochmann tem afirmado que “as mudanças se dão em diversos níveis, que vão desde o perfil demográfico do país, passando pela estrutura de classes, pelo funcionamento do trabalho e da economia, chegando à dinâmica das cidades. É preciso ter esse horizonte mais amplo como referência para se pensar os desafios políticos colocados por essa realidade que já implodiu o pacto político instaurado pela Nova República”.
As eleições são um momento de mobilização de energias, pessoas e ideias. São as ideias que catalisam a energia da militância; a princípio, é assim que acontece. No plano local, os partidos de esquerda (PT, PSOL, PCdoB e UP) lançaram candidatos a prefeito de Maceió. Os argumentos para não haver composição são variados e em alguns casos escondem os reais motivos. O PT, em Alagoas, é aliado do senador Renan Calheiros. O PT nacional tem uma dívida impagável com Renan, e a origem é o Mensalão. Calheiros era presidente do Senado e segurou os pedidos de impeachment de Lula. O PCdoB é também um histórico aliado do senador; isso remonta ao final da década de setenta.
PSOL e UP tiveram todas as condições para formar uma chapa: duas mulheres de classe média, uma professora universitária e a outra jornalista profissional e funcionária da Ufal. Como não foi possível a composição, disputarão o voto na mesma faixa. Talvez as direções do Psol e da UP não tenham percebido a possibilidade de a esquerda voltar a administrar a cidade de Maceió, se tudo correr bem, na próxima década.
Os quadros políticos de esquerda levaram décadas para serem formados e não têm mais possibilidades de vencer eleições para o Executivo. Mas a história pode mudar. Há três nomes que, se trabalhados, têm chances de se tornar referenciais no deserto em que se transformou a esquerda alagoana: a assistente social Valéria Correia, a economista Luciana Caetano e a jornalista Lenilda Luna.
Luciana Caetano foi derrotada pela burocracia petista nas prévias. É a única luz em que o PT pode apostar, desde que a luta interna fratricida não destrua a intelectual e o quadro político em formação.
Valéria Correia tem a oportunidade de falar para os eleitores de esquerda que estão órfãos de candidaturas competitivas. Essa faixa do eleitorado é significativa; a maioria é de classe média, um indicativo de que o discurso e as propostas devem ser nessa direção.
Lenilda Luna é a candidata mais próxima da esquerda tradicional. É marxista, mas esse detalhe não constitui óbice para também disputar votos entre os eleitores da classe média e na periferia.
Essas três mulheres serão as luzes da esquerda de Alagoas nos próximos anos, isto é, se os partidos não lhes cortarem as possibilidades de crescimento e se, também, o crescimento não incomodá-los.
Para Valéria e Lenilda, boa sorte.