20 de outubro de 2020 10:47 por Geraldo de Majella
A cidade de União dos Palmares fica a 80 km de distância de Maceió, e a Serra da Barriga a 10 km do Centro da cidade. A partir de 1981, o dia 20 de novembro passou a ser comemorado como o dia da Consciência Negra e União dos Palmares tornou-se numa referência histórica para os negros brasileiros. A Serra da Barriga desde 1986 foi inscrita no Livro de Tombo Histórico como Patrimônio Cultural Brasileiro e no Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico. Em 2007 foi criado o Parque Memorial Quilombo dos Palmares, fruto da luta do Movimento Negro brasileiro. Em 2017 a Serra da Barriga recebeu o título de Patrimônio Cultural do Mercosul.
Esta serra alcança 500 metros de altitude e foi durante quase 100 anos, de 1597 a 1695, a principal fortificação do Quilombo dos Palmares. As matas e serras que abrangem o sul do hoje estado de Pernambuco e o que conhecemos como mata norte de Alagoas eram o território do quilombo, onde viviam cerca de 30 mil pessoas. Macaco, uma das localidades do quilombo, era o centro político e administrativo e tinha a proteção da Cerca Real do Macaco, construída no oiteiro da Serra da Barriga.
O Quilombo dos Palmares teve duas lideranças importantes, Ganga Zumba e Zumbi, que enfrentaram várias expedições militares portuguesas. Zumbi foi assassinado no dia 20 de novembro de 1695 na serra Dois Irmãos, hoje município de Viçosa (AL). O Quilombo dos Palmares representa um marco fundamental na luta dos escravos no Brasil.
Ao subir a serra o visitante se emocionará com a história e a energia fantástica que se sente. Caminhar no alto da serra, ir até a lagoa encantada dos negros, onde os negros palmarinos saciavam a sede e repousavam é uma viagem ao passado. Se este lugar purificava a vida dos quilombolas, hoje também tem o poder de purificar a alma de todos nós que visitamos este lugar sagrado dos negros.
Em 2013, foi instalado no meio da serra o restaurante Baobá Raízes e Tradições. À frente dessa iniciativa está Mãe Neide Oyá D’Oxum, ialorixá e patrimônio vivo do Estado de Alagoas. Mãe Neide é gastrônoma e em 2018 ganhou o prêmio Dólmã. É personalidade feminina negra e líder religiosa, com reconhecimento nacional pelo seu trabalho religioso e cultural; dedica-se à culinária afro-indígena.
União dos Palmares tem notáveis filhos; um deles é o médico e poeta Jorge de Lima, que tanto nos encantas com seus versos e o amor a sua terra natal. A historiadora Maria Mariá é outra personagem nascida no lugar e que deixou uma marca cultural. A visita ao antigo engenho de açúcar Anhumas, a 10 km do Centro, um dos cenários escolhidos pelo cineasta alagoano Cacá Diegues para filmar Joana Francesa. O filme contou com a participação da atriz francesa Jeanne Moreau e do maior nome da moda mundial, o estilista Pierre Cardin.
O roteiro cultural-gastronômico pode ser encerrado na comunidade quilombola do Muquém, onde são produzidas cerâmicas e Dona Irineia, assim como Mãe Neide, é considerada patrimônio vivo de Alagoas. Os artesãos do Muquém têm uma linhagem familiar que mantém a tradição com Mônica Nunes, filha de Dona Irineia Nunes; mas há outras artesãs que se tornaram conhecidas, a exemplo de Dona Marinalva Bezerra da Silva que também é patrimônio vivo, Maria das Dores, Edinho e muitos outros.
A Serra da Barriga e seus arredores devem ser visitados pelo menos uma vez na vida.