sexta-feira 22 de novembro de 2024

Dez lugares para conhecer em Alagoas – IV

Da suntuosidade da arquitetura colonial das igrejas à delicadeza dos bordados Singeleza e Filé

22 de outubro de 2020 4:39 por Geraldo de Majella

Igreja de Santa Maria Madalena

Marechal Deodoro está localizado na região metropolitana de Maceió, a 25 km de distância da capital. Tem uma população estimada em 52.380 habitantes (IBGE-2020). É um dos três primeiros núcleos de povoamento do que viria a ser o estado de Alagoas. O núcleo surge em 1611, quando foi construída uma casa assobradada, e recebe o primeiro nome de Madalena do Sumaúma. Muda várias vezes de nome nos três séculos seguintes: passa de Madalena do Sumaúma para Santa Maria Madalena da Alagoas do Sul, Alagoas do Sul e, mais tarde, para Alagoas, quando se torna, em 1817, capital da Província por força do ato régio de D. João VI, rei de Portugal, e finalmente Marechal Deodoro, homenagem prestada em 1939 pelo governo de Alagoas ao proclamador da República.

Em 1633 sofreu com a invasão holandesa: canaviais, casas e a primitiva igreja matriz foram incendiados. Nada que havia sido construído foi poupado pelos holandeses. Vencida a guerra contra os holandeses, os colonizadores portugueses reconstruíram, na época, o pequeno burgo. O patrimônio arquitetônico e histórico é a principal e mais visível herança deixada do período colonial.

Dona Marinita

As pesquisadoras Adriana Guimarães e Josemary Ferrare têm se dedicado desde 2003 a realizar um mapeamento em Alagoas para identificar quais as cidades produzem Singeleza. A primeira constatação é que não há mais o risco de extinção. A segunda é que a produção da Singeleza ainda é limitada. Esse foi o resultado da pesquisa desenvolvida durante 12 meses para que fosse realizado o Registro do Modo de Fazer do Bico Singeleza, em 2009. Existem grupos que mantiveram o saber e conseguiram passá-lo de uma geração para outra, nas cidades de Marechal Deodoro, Água Branca, Viçosa, Paulo Jacinto, Coqueiro Seco e Maceió. E mais recentemente, em Paripueira.

O projeto (Re)bordando o Bico Singeleza foi importante para salvaguardar esse ofício mediante a transmissão do legado de Dona Marinita: o modo como era bordado o tecido sob uma trama singela. O “saber” de Dona Marinita foi fundamental, pois era a única pessoa que continuava trabalhando com o bordado Singeleza.

O percurso tem sido longo e vai desde o contato realizado com a fundação italiana Il Tassello. Diz Adriana Guimarães: “estivemos em Latronico, onde atestamos a similaridade do ponto com a técnica do Puntino ad Ago (como é chamado na Itália). As pesquisas realizadas pela fundação atribuem a origem do Puntino ad Ago ao arcabouço cultural deixado pela Magna Grécia, como consequência do intercâmbio comercial levado a cabo pelos gregos no território”.

A visita ainda resultou num convênio de Cooperação Técnica com a Universidade Federal de Alagoas (Ufal) para reforçar a Solicitação de Inscrição de ambos os bens culturais – a italiana Puntino ad Ago e a brasileira Singeleza – como patrimônio cultural da humanidade. O pedido foi feito à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Singeleza

A relevância desse trabalho cresce em nível internacional quando, em abril de 2015, as antropólogas da Universidade de Potenza-Basilicata, Vita Santoro e Antonella Lacovino, estiveram em Maceió para averiguar a hipótese de que a transmissão desse saber-fazer tenha se dado por meio da imigração durante a Segunda Guerra.

O Filé é uma das marcas do artesanato de Alagoas e tipicamente uma manifestação do complexo estuarino Mundaú-Manguaba. Seus maiores núcleos de produção estão localizados nas cidades de Maceió – nos bairros do Pontal da Barra e Riacho Doce – e Marechal Deodoro. Filé é uma corruptela do francês filet, rede, numa clara alusão ao ofício da pesca com redes.

Filé alagoano

A tradição do artesanato faz parte da cultura de Alagoas. Já houve época em que as famílias que trabalham com o artesanato eram invisíveis. Mas, nas últimas décadas, conseguiram romper a barreira da invisibilidade e estão conquistando mercado e prestígio social. O bordado filé alagoano recebeu o selo de Identificação Geográfica do Instituto Nacional da Propriedade intelectual (INPI) em abril de 2016. Já a Singeleza é o que há de melhor na tradição alagoana quanto à arte de confecção de bicos, rendas e bordados.

 

https://www.youtube.com/watch?v=0lyffY71EV8

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