3 de novembro de 2020 4:34 por Geraldo de Majella
A cidade de Capela (AL) conta com 16.979 habitantes (IBGE-2020). O município fica na Zona da Mata; o que há muito tempo não existe mais é a mata, pois a plantação de cana-de-açúcar e a criação de gado, em menor escala, constituem a base econômica do município. Situada no Vale do Paraíba, durante décadas a cidade contou com a Great Western of Brazil Railway, empresa inglesa que monopolizou as ferrovias no país, que em 1950 foi encampada pelo governo federal e passou a ser a Rede Ferroviária do Nordeste. O trem era uma referência na comunicação com a capital e as outras cidades do vale, que foram sendo ligadas pela ferrovia até o estado de Sergipe.
João Carlos da Silva Freitas é o nome de batismo e registro de João das Alagoas, que com esse nome artístico tornou-se famoso em Alagoas e no Brasil. O escultor na juventude trabalhou como agricultor no município de Capela. O talento e a disposição como autodidata de fazer com as mãos obras de artes em cerâmica mudaram a sua vida e as dos seus seguidores. Ao criar uma pequena e modesta oficina, isso o impulsionou e multiplicou sua arte e seu conhecimento, levando-a a ensinar aos jovens, inclusive a seu filho Carlos, um dos seus seguidores.
Seu ateliê, além de produzir as peças de cerâmica, é a escola de formação de novos artistas. João das Alagoas é naturalmente uma pessoa simples no seu modo de falar, de pensar, e totalmente desprovido das vaidades do mundo artístico em geral. Esse talvez seja um dos seus maiores talentos e qualidades, pois é assim que ensina as técnicas que desenvolveu e ajuda a formar gerações de artistas na cidade. Entre os seus discípulos destacam-se os artistas Leonilson, Nena, João Carlos (seu filho), Gizé, Marcelo, Cláudio, Van, Nena, Ronaldo e Sil.
Reconhecido como um dos maiores escultores do país, João das Alagoas desenvolveu uma técnica muito própria. Recriou o bumba-meu-boi. Esse tipo de cerâmica passou a ser uma das suas marcas. O cotidiano do povo do interior é a sua principal inspiração: as tradições populares, o folclore nordestino e o alagoano em especial.
Uma das suas seguidoras é Maria Luciene da Silva Siqueira, a Sil, nascida em Capela (AL), em 1979, e com trajetória semelhante à do Mestre. Também trabalhou como diarista no corte de cana quando era criança, até 2001, momento em que conheceu o ceramista João das Alagoas.
Quando tinha 16 anos, Sil fugiu com o namorado na tentativa de escapar da dura realidade de trabalhadora rural que vivia; engravidou e teve Cristina; a filha nasceu com autismo e epilepsia. A busca por melhores condições de vida impactou a vida da adolescente e agora mãe. O futuro que Sil buscava chegou ao participar de uma oficina do Sebrae/AL para mães com filhos que são pessoas com deficiência. É nesse momento que conhece João das Alagoas.
Encantada com o artista que transforma barro em arte, resolveu nessa ocasião que iria trabalhar com o mestre. Tornou-se sua mais talentosa discípula, apesar de enfrentar desafios como o de ser a única mulher em um ateliê apenas de homens. O fato de ser mulher entre homens foi apenas mais um desafio em sua vida a ser superado.
Capela é escola de artistas, e João das Alagoas é o mestre que forma discípulos.