22 de julho de 2021 10:15 por Mácleim Carneiro
Como quando se tem vizinhos de porta ou de casas onde se cultiva uma camaradagem daquelas de não se ter cerimônia em pedir um pouco de açúcar, assim faço eu agora e fui ali, ao nosso vizinho do lado, pegar não um pouco, mas um pote cheio da música e da criação inspiradora de um fabuloso instrumentista e compositor pernambucano, com talento o bastante para arejar o jazz nacional, sem invencionices que desgarrem totalmente da tradição, mas com inventividade suficiente para decretar algo de novo no reino da música instrumental brasileira.
O álbum de estreia do jovem pianista Amaro Freitas, lançado em 2016, ‘Sangue Negro’, é muito mais que refinado, posto que, inversamente ao açúcar, é in natura, com sabores e frescor característicos das influências cultivadas pelo compositor e diluídas em sua musicalidade própria, que nos oferece uma verdade tecida pelos ventos musicais dos trópicos ao reino do jazz, com a quentura de quem está abaixo da linha do Equador e não se limita aos academicismos e molduras capazes de enquadrar o que lhe foi forjado no empirismo da lida.
‘Sangue Negro’ começa impactante, porque a impressão que temos é a de que o discurso do frevo ‘Encruzilhada’ já vinha acontecendo há vários compassos antes do primeiro acorde e perdemos o assunto pretérito à primeira nota do primeiro compasso.
É tanto assunto sob os dedos habilidosos e talentosos de Amaro Freitas, que a pergunta é: o que será esse Big Bang musical, essa encruzilhada para novos caminhos entre o frevo e o jazz?
O bom é que ele trata de responder imediatamente, utilizando-se de alguns clichês do frevo, comuns a quem o gênero lhe é atávico, porém, com uma estrutura jazzística de viço e paladar sofisticados.
Em Sangue Negro, Amaro Freitas mostrou a verve poderosa de sua alquimia e foi capaz de gerar pérolas nas veias e vias do jazz.
No +, MÚSICABOAEMSUAVIDA!???