29 de julho de 2021 8:07 por Eleonora Duse Leite
Parecia um passeio comum como tantos outros que fazíamos numa manhã de domingo, indo em direção ao bairro de Santa Amélia para um almoço familiar. Trânsito calmo, manhã ensolarada e a hora passava lentamente. O relógio marcava por volta das 10h e 50 minutos. A avenida Fernandes Lima estava tranquila e poucos carros estavam na mesma direção que a nossa. Adiante pegaríamos a avenida Rotary para passarmos para o outro lado e cortaríamos a avenida em direção a ladeira do Calmon… Hospital do Sanatório funcionando tranquilamente, mesmo em tempo de pandemia, apenas uma ambulância na porta sem demonstrar nada de anormal. Finalmente a caixa d’água e a descida a ladeira. De lá já avistamos ao longe a lagoa Mundaú, prateada em contraste com o sol que brilha forte a hora de meio dia. E aí a descida propriamente dita… O espanto. O ficar atônita. O conhecimento vivo, in loco da destruição de um bairro. Casas demolidas, famílias inteiras orando memória, um deserto total .E lá longe, ouvimos o apito do trem que passava a procura de passageiros fantasmas.
Chegamos na igreja matriz de Santo Antônio, na praça Lucena Maranhão, onde em tempos de outrora o Major Bonifácio da Silveira realizava festas, com bailes, quermesses, parque de diversões, e onde rapazes e moças se encontravam para a prática de flertes. Ali defronte o Colégio do Bom Conselho, onde moças do interior eram internas para estudar na capital. Prédio de arquitetura imponente que enriquecida o bairro.
Contornando a praça e dobrando á direita, andando e vimos o esquecimento de um bairro de tanta importância e história para Maceió e hoje em perfeito de completo abandono. Perplexa. Extasiada com tamanho absurdo.
Chegamos no Flexal de Baixo , outro deserto, nenhuma viva alma. A feira que antes existia ali na linha do trem, apenas resto de lixo da última acontecida. Várias casas de comércio, açougues, farmácias, lojinhas de roupas e pequenos supermercados e quitandas demolidos, portas e janelas a baixo, apenas um vão ou somente caixotes esquecidos, avisando que ali houve um comércio. Alguns ainda resistem, mas com poucas esperanças. O apego, o amor é a tônica destes últimos moradores, fiéis escudeiros do bairro do Bebedouro e das proximidades.
Subimos a ladeira e lá está a comunidade do Flexal de Cima onde existe morada e moradores sobreviventes , e perguntamos, até quando?
E lá no alto, já no mirante, paramos para olhar mais uma vez a nossa lagoa que por sorte ainda está lá, bem a nossa frente… Linda como sempre. E com esse espetáculo choramos pelo enterro do Bebedouro.
(*) Eleonora Duse Leite é funcionária pública e graduanda em jornalismo.