4 de agosto de 2021 8:21 por Mácleim Carneiro
Quando o Guilherme Ramos, gentilmente, me pediu para escrever as minhas memórias sobre o SESC Centro, que completaria 20 anos de bons serviços prestados, de imediato pensei que não seria tarefa tão difícil assim. Afinal, ao cabo dos anos 90, muito do que realizei musicalmente teve o SESC Centro como casa acolhedora, notadamente o Teatro Jofre Soares, onde fiz alguns shows e até a gravação do álbum ‘Ao Vivo e Aos Outros’. Além, claro, de ter alimentado minh’alma por diversas vezes, como plateia e fruidor de bons espetáculos ali apresentados.
Nesse sentido, ressalte-se que a Instituição SESC, de maneira geral, cumpriu uma tarefa essencial para manter viva e ativa a produção cultural aquariana, pois eram tempos difíceis, com a nossa principal casa de espetáculos, Teatro Deodoro, fechada para reformas, que se estenderam por intermináveis anos. Ainda não tínhamos o Centro de Convenções e, portanto, não existia o Teatro Gustavo Leite. O SESC supriu essa lacuna com inúmeros projetos e uma equipe técnica criativa e abnegada ao fazer cultural. Creio que muito e muitos teriam se perdido pelo caminho se não fosse a Instituição SESC, alimentando a chama criativa dos nossos artistas. Sobretudo, em um momento tão crítico e nebuloso, pelo ponto de vista das hostes governamentais.
Apesar da inoperância dos órgãos oficiais de fomento à cultura, mesmo assim, foi um tempo bom e efervescente, pois era o tempo dos inesquecíveis Festivais de Música do SESC, o saudoso FEMUSESC, alento de talentos que tinham ali uma verdadeira chance para o exercício do que propunham fazer e dar vida. Minha gratidão à Instituição é imensurável e eterna! Tive a honra e a glória de vencer dois dos festivais (o primeiro e o terceiro), em noites memoráveis no Jofre Soares, com canções que depois foram levadas à mostra de Maringá, como consequência do resultado do Festival e que, agora, estão armazenadas em discos lançados pelo SESC Centro e são registros de uma época e da memória musical do que estava sendo produzido em nossa latitude. Aliás, os discos são mais uma contribuição do SESC Centro aos artistas da cena local e à sociedade em geral. Especialmente, como apontamento material da criativa diversidade musical contemporânea, que alimentava tanto aos festivais como, posteriormente, às mostras de música do SESC.
Além das minhas participações nos festivais, fiz alguns shows no Teatro Jofre Soares. Um deles, o show ‘Depois do Carnaval’, gerou um disco gravado ao vivo, que acabou se tornando o álbum Ao Vivo e Aos Outros. Porém, um show em especial eu não esquecerei jamais. Sua história é muito peculiar e, talvez, única. Dessas que ficam no anedotário para a posteridade e volta e meia, aqui-acolá, a gente relembra nos momentos em que os causos estão em pauta numa roda de amigos. Entendo que o ocorrido é pertinente a este escrito, porque não foi um caso isolado, que diria respeito só a mim ou a banda que me acompanhava. Eu não teria o que contar se o fato não tivesse acontecido com uma participação tripartite, digamos assim. Primeiro, a minha, como sujeito da questão. Depois, o púbico, como protagonista direta e indiretamente. Por fim, a própria Instituição SESC Centro, por fazer cumprir o seu regulamento de maneira imparcial e assertiva.
Hoje, com o natural distanciamento cronológico, que o tempo proporciona, o ocorrido tem até o seu lado cômico. Contudo, no calor dos acontecimentos, foi um tanto dramático, porém, solucionado da melhor maneira que eu poderia conceber, sem maiores prejuízos para ninguém, a não ser ao meu parco capital financeiro que, diga-se de passagem, nem o tempo consegue transformar para melhor. O fato é que era um sábado, nos idos de 1998, e tínhamos um show para ser realizado no Tetro Jofre Soares. Seria uma espécie de despedida, pois no dia seguinte estaríamos embarcando para Europa, em uma turnê de quarenta e cindo dias e vinte e nove shows. Estávamos afiados e no afã de apresentar ao público do aquário o mesmíssimo show que faríamos em nossa turnê pelo velho continente. Pois bem, todos os músicos da banda maravilhosa, assim como eu, estávamos empolgados para a primeira viagem internacional. Não posso citar a banda sem deixar de nomear, com um prazer imenso e gratidão infinita, os músicos que acreditaram na nossa proposta e estavam comigo e hoje são testemunhas dos fatos que relembro agora. Alcântara (Trompete), Carlos Ezequiel (bateria), Everaldo Borges (sax e flauta), Ronalso Cirino (percussão), Norberto Vinhas (guitarras) e Van Silva (contrabaixo) formavam um time de talentosos músicos, que me proporcionavam aquele conforto especial e a segurança necessária ao bom desempenho da função.
*Continua no próximo post
No +,MÚSICABOA EM SUA VIDA!!!