6 de agosto de 2021 9:47 por Mácleim Carneiro
Continuando o post anterior, sem maiores delongas, voltemos ao causo que se assucedeu, antes do show no Jofre Soares. Ocorre que estávamos bem tranquilos e animados no camarim, minutos antes da hora marcada para o início do show, quando, com uma expressão de tristeza e até de dó, o meu querido amigo-irmão Felix Baigon – à época funcionário do SESC – veio nos comunicar que o show não poderia mais acontecer. Tomados de assalto, pela surpresa inesperada, ficamos por alguns segundos sem ação, boquiabertos pelo inusitado. Saindo do torpor insólito e momentâneo, eu quis saber o motivo da impossibilidade, até então completamente improvável e impensável. Foi então que o Baigon nos explicou que, de acordo com o regimento do SESC, para que um espetáculo com bilheteria acontecesse no Jofre Soares, seria necessário que o mínimo de 10% dos ingressos disponíveis tivesse sido vendido. Explicou, ainda, que a capacidade do Jofre Soares era de 120 lugares e que, portanto, 10% seriam doze ingressos, e até aquele momento, faltando minutos para o início do show, só haviam sido vendidos oito.
Para ser sincero, a princípio eu não acreditei no que estava acontecendo, parecia algo surreal, a queda da Alice ao fundo do poço, um soco no estômago, daqueles que deixam a gente sem ar. Já recuperado, graças ao espírito apolíneo que sempre nos socorre, imediatamente, eu disse: tudo bem, eu compro os quatro ingressos que faltam para atingir a cota mínima. E assim foi feito e assim o show aconteceu. Sem dúvida, acho que essa foi uma forma inusitada, uma maneira insólita de o próprio artista pagar para fazer o seu show. No entanto, mal sabia eu que esse seria também o combustível incandescente, que abasteceria o nosso orgulho a partir daquele momento e durante toda a nossa turnê pela Europa.
Fizemos o show para as oito pessoas com o mesmo ímpeto, com a mesma garra e respeito, como se estivéssemos tocando para o teatro lotado, ou uma massa receptiva em praça pública. A partir dali, criamos um grito de guerra que daríamos antes de cada show da turnê europeia. Reuníamo-nos em círculo, como fazem os jogadores de futebol, e gritávamos em uníssono: “Aqui pra Maceió!” Sim, claro, acompanhado do gestual respectivo. Mas não passava de um desabafo, uma vingança boba, pelo fato de o público do aquário ter ignorado a nossa ‘despedida’.
Foi no SESC Centro, após esse episódio, que também caiu a ficha de que nem sempre cabe ao artista a responsabilidade direta ou o ônus pela falta de público nos espetáculos. Como sempre, e no caso citado foi assim, tínhamos feito como manda o figurino: divulgação em todas as mídias, entrevistas em programas de rádio e TV, boca a boca e etc. Então, onde estaria o nó da questão? Bem, esse é um longo assunto que não cabe aqui nem agora. Apenas citei, porque ficou como um dos resultados práticos daquela noite inesquecível.
Enfim, este foi só um dos vários episódios que vivenciei na Instituição SESC Centro, que tanto contribuiu para a minha busca do crescimento e aprimoramento pessoal e artístico. Torço para que os deuses apolíneos continuem a fortalecê-la, como fomentadora da cultura produzida em nossa latitude, capaz de gerar consciência crítica e, sobretudo, estimular jovens que, como eu era, tenham a oportunidade de criar musculatura artística e alimentar a alma em suas dependências físicas, além de vislumbrar novas perspectivas e oportunidades, por meio dos projetos culturais e do corpo técnico dessa querida Instituição. Que daqui a mais vinte anos tenhamos novas histórias para contar, tendo o SESC Centro como referência histórica e emocionada da contínua formação cultural do nosso povo.
No +, MÚSICABOAEMSUAVIDA!!!