8 de setembro de 2021 11:05 por Mácleim Carneiro
Às vezes, a capa de um álbum é tão sugestiva, que o conteúdo guardado por ela, literalmente, salta aos olhos. Outras vezes, são tão enigmáticas as possibilidades, que o conteúdo torna-se uma incógnita e, por isso mesmo, tão atrativo quanto à primeira possibilidade.
No caso específico, o álbum ‘Cantos à Beira-mar – a poesia de Maria Firmina dos Reis na música de Socorro Lira’ – é o 12º álbum de uma compositora, poeta, cantora e produtora musical paraibana, que atua num circuito cultural de um Brasil profundo, sem maquiagens, de relações e ações verdadeiras. Portanto, amodal.
Pois bem, a arte da capa é de um simbolismo poético, que se revela por inteiro: uma imagem de mulher em negativo preto, que logo será ratificada ao aprofundarmo-nos aos pilares da obra, como a sussurrar ao ouvido de outra mulher, que sabemos ser Socorro Lira, poemas e poesias que arejam e fecundam a criatividade da artista paraibana, num sopro fértil do passado.
Mas quem são essas personagens, que fornecem a estrutura basilar para esse belo trabalho, que, por ser belo e verdadeiro, é por demais brasileiro e não será encontrado na mídia e nos veículos difusores da música hegemonicamente oca?
A primeira, Maria Firmina dos Reis (1822-1917), foi uma escritora e poeta negra, que nasceu há dois séculos, no Maranhão, cujo centenário de sua morte aconteceu em 2017. Ela é considerada a primeira romancista brasileira, pois, dez anos antes de Castro Alves ter lançado o seu romance Navio Negreiro (1869), ela lançou o romance antiescravista Úrsula, em 1859.
Socorro Lira, assim como Maria Firmina, é nordestina. Nasceu no sertão da Paraíba, na zona rural de Brejo do Cruz. É, sobretudo, uma ativista cultural e, como tal, criou o Projeto Memória Musical da Paraíba – PMMP.
Há um mundo de motivos para conhecermos a musicalidade esculpida, pela compositora Socorro Lira, na pedra fundamental da poesia secular de Maria Firmina.
No +, MÚSICABOAEMSUAVIDA!???