21 de setembro de 2021 9:04 por Braulio Leite Junior
Nos anos da II Guerra, talvez por um período relativamente curto, a mocidade de Maceió ainda não atingida pela convocação militar que chamaria aos quartéis seis classes de reservistas, em novembro de 1942, manteve o curioso costume de, nas noites de domingo, realizar o “footing”- também chamado pitorescamente “quem-me-quer” – e restrito quase a um só quarteirão e concentrado mais numa calçada. Os rapazes ficavam de pé, em grupos animados, sobre o meio-fio, a dirigir galanteios e olhares às moças que passavam, umas com namorados e outras com amigas. Ia-se e vinha-se interminavelmente, desde a esquina da Rua 1º de Março. Um costume que talvez nos parecesse muito provinciano, próprio de cidade pequena, mas que fomos encontrar, por exemplo, também na Cinelândia e na Rua do Passeio, no Rio de Janeiro, onde as mundanas de classe exibiam custosos casacos de peles e os homens elegantes figurinos, como também em São Paulo, onde chamou a atenção uma rua onde o “footing” noturno era feito apenas por gente de cor, elegantemente vestida, como se estivéssemos numa espécie de Harlem.
O pequeno “footing” das noites de domingo em Maceió logo terminaria com o advento do blecaute, a chamada da rapaziada aos quartéis e aos embarques de tropas. Não foi aquela, porém, a primeira vez que Maceió teve seu “quem-me-quer”, praticado também no Recife, às margens do Capibaribe, com a vantagem de que, na capital pernambucana, como ainda hoje, há lugar para sentar, conversar, namorar ou simplesmente olhar as estrelas, os anúncios luminosos refletidos nas águas. Muitos pesquisadores relembram os tempos em que não havia a chamada semana inglesa, permanecendo só comércio aberto aos sábados. As queridas “filhinhas de papai” tinham o costume de deixar abertos os lábios em formato de “perfeito coração”, com batom comprado na Loja América, exibindo chapéus da última moda; em grupos de três e de quatro faziam o “footing”, da esquina da Rua Tibúrcio Valeriano à da 12 de Junho, onde ficava o Hotel e Restaurante “Grande Ponto”, do português Mesquita, e cuja insígnia comercial era um enorme ponto de interrogado colocado na fachada. Vemos, portanto, que o trajeto era muito maior e o horário o vespertino.
Em geral, os rapazes também naquela época preferiam ficar parados, junto às vitrines ou às portas das lojas para assistir “ao elegante desfile das formosas patrícias”, todos eles muito bem vestidos pelas alfaiatarias, usando óculos sem grau, para se darem ares de intelectuais.
Essa a Maceió de ontem e da qual, infelizmente, nos restam poucas imagens; apenas reminiscências dos mais idosos e memórias fixadas em livros e jornais somente consultados pelos apaixonados por nossa história e nossos costumes.
(*) Texto de Bráulio Leite Júnior publicado no livro História de Maceió, Edição Catavento, 2000.