29 de outubro de 2021 2:37 por Mácleim Carneiro
Essa é uma história que poderia ser contada em vários e vários atos. Aqui, será descrita em dois! A saga do ‘Projeto Alagoas de Corpo e Alma’, versão Rio de Janeiro, teve desde o glamour da noite de abertura no Canecão (que já não existe mais) ao pé na lama do Pavilhão de São Cristóvão. Vou ater-me à minha área de atuação (música) no projeto, até porque não sou e nem pude ser onipresente. Assim, não estive nos diversos eventos do ‘Projeto Alagoas de Corpo e Alma’, onde Mundaú lambeu o Rio, lá pelos idos de 2004.
O espetáculo no Canecão foi quase perfeito! Tudo correu conforme o combinado. Casa lotada e o show acontecendo com a precisão exigida pela diretora do espetáculo, Leila Pinheiro. Os artistas de Alagoas deram conta do recado direitinho e confirmaram a tese de que a música produzida em Alagoas tem qualidade suficiente para se garantir, sem apêndices, em qualquer lugar do mundo. Aliás, os comentários que rolaram após o show diziam que a primeira parte do espetáculo (onde os artistas alagoanos se apresentaram) foi muito mais interessante que a segunda, só com os “artistas convidados”.
Pérolas Aos Porcos
Por falar em convidados, tivemos particularidades interessantes neste quesito. Diante da negativa do Djavan em participar de um projeto que envolvia artistas alagoanos, a organização do evento solucionou a questão a partir do óbvio, farmacologicamente falando. Na impossibilidade do original, recorreu-se ao genérico. Pois foi exatamente isso o que fizeram. Estava lá o Jorge Vercillo que, em público, justificou sua “profunda” ligação com Alagoas, dizendo ter sido em Maceió que ele se sentiu, pela primeira vez, um artista de verdade, ao ser solicitado a dar um autógrafo. Quanto aos convidados da plateia, sobraram queixas para todos os lados. Embora o Canecão tivesse capacidade para mais de mil e quinhentas pessoas, não foi possível conseguir alguns poucos convites para profissionais ligados à música e indicados pelos artistas alagoanos. Essas pessoas poderiam ter proporcionado retornos profissionais aos nossos artistas.
Tudo bem, o Canecão foi um sonho que passou rápido, como tudo tem que passar. Porém, precisava sair direto do sonho para cair num pesadelo chamado Pavilhão de São Cristóvão? Artistas que têm trabalhos refinados, como a Leureny Barbosa, a Wilma Miranda e o Duo Fel, por exemplo, tiveram que se apresentar, ou melhor, se expor num ambiente surreal e totalmente inadequado ao perfil dos seus trabalhos. A feira de São Cristóvão, à época, era um lugar onde o forró de plástico, de péssima qualidade, do tipo que o próprio Luís Gonzaga – que dá nome ao que chamam de Centro de Tradições Culturais – não teria saco de aquentar e ficaria emputecido, era o objetivo cego e único do público que frequentou os três dias de apresentações dos artistas alagoanos. Ou seja, uma tremenda roubada. Vendo a Leureny cantar naquele lugar, qualquer pessoa de sensibilidade, portanto, sã, não teria outra opção senão fazer esse tipo de comentário: eis uma artista maravilhosa jogando pérolas aos porcos. Com todo respeito às pessoas, sem qualquer tipo de preconceito, apenas uma questão de semântica ilustrativa.
Prefiro entender como insensibilidade amadorística a escolha daquele lugar. Em determinados momentos, de tão inadequado que era, chegava a ser hostil e arriscado para alguns artistas, que tentavam mostrar seus trabalhos honestamente. Não estou, absolutamente, querendo ser o ingrato, do tipo que cospe no prato que comeu. Sei, perfeitamente, avaliar a fundamental importância que teve o Projeto Alagoas de Corpo e Alma na divulgação e tentativa de abrir novos horizontes para a produção cultural de Alagoas. No entanto, erros de avaliação existiram e por mim foram apontados, no intuito de um Mundaú límpido e sem tibornas, para lamber o mundo, como nos versos de Jorge de Lima.
No +, MÚSICABOAEMSUAVIDA!!!
2 Comentários
Artistas Alagoanos, são maravilhosos, e não deixa a desejar em lugar nenhum!
Palmas para os artistas Alagoanos!
Exatamente, Fabito!
Grande abraço e, no +, MÚSICABOAEMSUAVIDA!???